Homenagem aos cem anos de Clarice Lispector

Singela homenagem a Clarice Lispector

Sempre gostei de ler, mas não sabia nada de literatura. Depois de dois anos na Oficina de Criação Literária Clarice Lispector aprendi a admirar não só o conteúdo, mas, sobretudo, a forma de escrever. Têm sido inúmeras descobertas. Quando me integrei ao grupo, eles haviam acabado de ler a Paixão Segundo GH. Eu conhecia Clarice só de nome e pelo amor que ela tinha pelo nosso Recife, onde passou a infância. Pena que a cidade não tenha, até hoje, correspondido a esse amor.  O primeiro livro que li dela foi justamente A Paixão Segundo GH. Confesso que o fiz sem parar, sem procurar entender. O forte fluxo de consciência me confundiu e porque não dizer, fundiu meus miolos. Aquilo me intrigou. A curiosidade sobre a escrita dela me fez continuar a ler seus livros. Li mais recentemente o seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem. Ela começou botando pra quebrar. É uma escrita ousada, singular, inconfundível. Continuei, estou lendo a Hora da Estrela, seu último livro. Encontro-me extasiada com a forma de contar a história da nordestina. Sim, desta vez tem uma história. Não tenho condições de falar mais sobre sua obra. Há muito caminho a percorrer. Deixo aqui minha singela homenagem à nossa conterrânea e madrinha da Oficina. Salve Clarice!

Elizabeth Freire

HOMENAGEM AOS CEM ANOS DE CLARICE LISPECTOR

Clarice, sua leitura

Salete Oliveira

                                                 A gente tem o direito de deixar o barco correr. As coisas se arranjam, não é preciso empurrar com tanta força.

Clarice Lispector

         

Sou leitora desorganizada, não guardo datas nem faço anotações, minhas memórias organizam-se em geral junto a outros acontecimentos… não sei quando nem onde li Clarice pela primeira vez, mas lembro o visceral impacto que foi ler A via crucis do corpo e da agonia de acompanhar Macabéa em A hora da estrela, da surpresa e dor que senti por sua morte, e da minha não aceitação.

          Li crônicas nas revistas ao tempo que saíam semanalmente; seu primeiro romance Perto do coração selvagem li recentemente.

          Da literatura infantil, lera à época de filhos na escola, A vida íntima de Laura. Ultimamente li A mulher que matou os peixes, proposto e disponibilizado pela colega Graça Lins, estudiosa da obra literária infantil de Clarice; interessante foi ler pela primeira vez junto com meu neto de oito anos, que fez sua análise crítica.

          Não esmiucei sobre sua vida, mas sempre soube ter morado em Recife em sua infância, onde se fez brasileira após aqui chegar estrangeira, onde viveu seus desejos de menina fantasiada à porta de casa para brincar um carnaval; de onde saía de madrugada à praia em Olinda. Ela se fez tão perto e tão próxima com sua casa ali na Praça, fonte à frente, a brincar nas ruas do Bairro da Boa Vista, a gente a passar na calçada e a se dizer, aqui morava Clarice Lispector. Esse pertencimento às ruas do Recife, tal Bandeira e João Cabral, Josué de Castro, nesse caminhar e atravessar as pontes do Recife, as mesmas que atravessamos, faz que ela também nos pertença e a ela nos refiramos como a uma vizinha.

          Vi uma peça sobre ela no Teatro Santa Isabel, Beth Goulart a incorporou em interpretação extasiante; rimos, nos encantamos, sofremos e choramos na platéia, adrenalina não faltou em sua vida, além de nicotina, como fumava!

          A paixão segundo G.H. ficou anos à espera de ser lido. Na Oficina de Criação Literária Clarice Lispector o lemos enfim em 2018, aceito após instigarmos o grupo, com viageiros divididos sobre sua leitura ou não. Eu sabia que era um livro para ser lido com a coragem de um grupo; foi essencial ter companhia para o ler junto, mesmo que da metade para o final viajei e o lia sozinha mas havia o grupo para discutir e me apoiar, trocar figurinhas mesmo que do outro lado do mundo.

          Em março de 2019, o colega Júnior enviou um presente por e-mail, um arquivo com Todas as Crônicas, que passei a ler devagarinho. Ah Clarice! não são apenas crônicas, são viagens ao interior, dela própria e nosso, passei a parar e me extasiar e muitas vezes a reler a mesma crônica ou trechos delas, refletir sobre memórias.

          Clarice passou a ser minha companhia diariamente quando deitava, de novo no Japão de setembro a dezembro/2019, como uma melhor amiga que nos ouve e nos ajuda a pegar no sono diante de tantas preocupações na cabeça em momentos difíceis. A me inspirar mais uma vez, como ser vivente, com suas dúvidas, ansiedades e agonias nas escolhas, com indignações diante do que se vê no mundo, ou enfados, retraimentos, incertezas, mas também encantamento diante do belo. Mas acima de tudo, com a fé no humano, na busca de si e ser quem se é, no caminho. Afinal, a vida é apenas uma, e muitas vezes há que se provar do que não se gosta e enfrentar o medo e seguir, seguir e seguir. És crê ver, escrever, deixar sair aos borbotões até se esvaziar das agonias e ter momentaneamente alguma paz, diminuir angústias, esvaziar a cabeça, matar a fome.

          Gratidão a Clarice, que nos inspira e nos dá essa permissão de escrever sobre o que seja, sem maiores cobranças de publicar ou agradar, escrever por necessidade.

HOMENAGEM AOS CEM ANOS DE CLARICE LISPECTOR

Notícias e Metáforas em Clarice Lispector

Fernando Gusmão

Só uma escritora diferenciada, por muitos comparada a Virgínia Woolf e a James Joyce, poderia se dar ao desplante de iniciar um romance com uma vírgula e terminá-lo com dois pontos. Como em Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres:

, estando tão ocupada, viera das compras de casa que a empregada fizera às pressas porque cada vez mais matava o serviço, embora só viesse para deixar almoço e jantar prontos[…]

Eu penso, interrompeu o homem e sua voz estava lenta e abafada porque ele estava sofrendo de vida e de amor, eu penso o seguinte:

Na Oficina de Criação Literária Clarice Lispector encontrei esse ser de mistério chamado Clarice. Autora diferente, sua escrita é dotada de ângulos, aspectos e faces mais que enigmáticas, misteriosas. Mistério! Ou charada? Textos herméticos, permeados por silêncios, numa alquimia linguística habitada por sentidos tácitos e quebras de regras, inclusive de pontuação, onde se procura um enredo e, em certas ocasiões, depara-se com um desenredo.

Muito já se falou e se escreveu sobre ela. O motor de busca Google informa mais de cinco milhões de páginas digitais que citam ou falam de Clarice. O que eu poderia dizer sobre ela que ainda não foi dito? Só posso afirmar que, do que já li de sua obra e das notícias que a mim chegaram, algumas ocorridos são marcantes. Por exemplo, minha sobrinha-neta Clarice, também neta da colega de Oficina Adelaide Câmara, tem seu nome numa homenagem de Roberta, a mãe, à notável escritora. Outra coisa, a obra de Clarice, mesmo não sendo fácil, teve, até hoje, mais de duzentas traduções para mais de dez idiomas. Universidades pelo mundo afora, com destaque para os Estados Unidos e Portugal, oferecem cursos sobre sua criação literária. Quem entende diz que três fatores explicam essa notável aceitação de Clarice Lispector por leitores estrangeiros: o substrato universal de sua literatura, sua atividade como jornalista e o trânsito internacional da autora.

Casada com um diplomata, falava sete idiomas e viajou muito. Morou em Nápoles, na Itália, na Suíça, na Inglaterra e em Washington, nos Estados Unidos. Sua atividade como jornalista e tradutora a levou a trabalhar no Jornal do Brasil, no Correio da Manhã, no Diário da Noite e nas revistas Senhor, Manchete e Fatos e Fotos. Escreveu quatorze romances, quase quinhentas colunas, publicou mais de cem textos e trezentas crônicas. Atuou, em 1952, no tabloide antigetulista Comício, com os pseudônimos de Tereza Quadros e Helen Palmer.

Considerava-se recifense, mas nasceu, a 10 de dezembro de 1920, em Chechelnyk, na Ucrânia e teve como nome Chaya Pinkhasovna Lispector. Chegou ao Brasil em 1922, entrando por Maceió, vindo, de lá, para o Recife, onde virou Clarice e viveu até os 14 anos num sobrado da praça Maciel Pinheiro, na Boa Vista. No conto Felicidade Clandestina conta a história de uma menina do Recife apaixonada por Monteiro Lobato. Aqui, fez o curso primário no Grupo Escolar João Barbalho e estudou no Ginásio Pernambucano. Depois, foi com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou Direito.

No que diz respeito ao substrato universal de sua literatura, aprendi com Carlos Eduardo Pinto Carvalheira, no artigo A Literatura em Clarice e a Psicanálise em Lacan, que, ao analisar as epifanias na singularidade de Clarice, Joyce ou Lacan, focaliza também algo de essencial e comum que está presente na maioria das epifanias dos três, que são as metáforas de não suposição, ou de negação, também conhecidas como metáforas de colisão… Pode-se perceber que há algo de comum nas epifanias dos três: todos três falam epifanicamente – têm na língua o mesmo corte espantoso do Zen. Mas Clarice, no silêncio de sua estranha e poética língua – em carne viva, no Real, nos beija – nos beija divinamente… diabolicamente.

Ouve-me, ouve o silêncio. O que te falo nunca é o que eu te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e, no entanto, vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão […]

               Cortes como estes, no meu entendimento, provocam a quebra da lógica racional evitando o comum, o usual, o concordante. Despertam o leitor para uma iluminação súbita ou cheia de graça. Como o palhaço engraçadamente faz rir a criançada —e alguns poucos adultos— quando, ao caminhar, tropeça nos próprios pés e cai, epifanicamente, de cara no chão, exemplo maior de uma metáfora de colisão.

Só que, lembra, ainda, Carlos Eduardo Pinto Carvalheira:

            Clarice escreve com o corpo sangrando de angústia – em carne viva. A epifania de Clarice não tem como objetivo a felicidade, mas sim a iluminação súbita de sua verdade avassaladora, em contraste com a futilidade da vida.

HOMENAGEM AOS CEM ANOS DE CLARICE LISPECTOR

Clarice Lispector
Fonte: Wikipédia

A Escritora e a Dona de Casa

Everaldo Soares Júnior



De Clarice, não sei dizer tantas coisas sobre a sua vida. Mas as notícias de conversas, de documentos escritos sobre ela chegam ao meu conhecimento de qualquer maneira. Sei que a vida dela foi bastante singular e as biografias sobre ela poderiam me aproximar mais dos seus livros, que gosto tanto de ler.


Não sei que distância é essa que procuro, ficar lendo seus romances, seus contos, suas cartas e até suas entrevistas, tudo isso é mesmo uma fascinação. A vida ingênua de Macabéa, li e reli várias vezes, não me conformo com aquela cartomante, que poderia lhe ter oferecido um destino melhor. De Água Viva, o chamado meta-romance, reli vários parágrafos, ora apreciando sua criação literária, ora questionando construções conceituais que me levam à dimensão lacaniana do Real. O estranhamento não está presente somente no desafiante Paixão Segundo G H, perpassa em grande parte da sua obra, a tensão e a surpresa são inevitáveis.


Imaginar Clarice e seu mundo, às vezes me surpreende mesmo, penso nela como uma dona de casa nos seus afazeres. Com discrição e devagar, entro na sua casa furtivamente, sem me deixar perceber e a encontro com um vestido simples, de sandálias, sem lenço na cabeça, nem no pescoço, estendendo as roupas lavadas no varal. De volta para a sala, passa na cozinha, mexe a panela do feijão com uma colher de pau e experimenta o sal. Pega no balcão o que parece frango temperado e coloca no forno. Na mesa da sala, seus dois filhos e mais uma menina da vizinha, fazem os deveres de casa. Ela olha o que as crianças estão fazendo, diz algumas coisas, sem interromper os estudantes. Senta-se na poltrona junto ao sofá. Na mesinha do lado, pega a sua máquina de escrever e a coloca no colo, ajeita o papel, relê as poucas páginas amontoadas que já foram escritas, fica parada, pensando, rabisca com o lápis algumas anotações, que me parecem breves. Volta para a máquina e recomeça a escrever, tocando as teclas num ritmo cadenciado, acompanhado da atenção do seu olhar.


Puxa vida, queria saber o que ela está escrevendo, mas a distância não me permite. Agora, tenho que ir embora, vou sair do mesmo jeito que entrei, sem que ninguém me veja.  

Já no meu gabinete, paro de viajar com esses pensamentos invasivos. Na estante, pego o Legião Estrangeira, abro e o coloco no suporte, ligo a minha câmera de leitura e aterrisso nos escritos de Clarice.

João Pessoa, 10 de dezembro, Dia dos Direitos Humanos, 2020.

Velas a Barlavento sob o olhar de Paulo Caldas

Crítica literária: Escrituras V (por Paulo Caldas)

Publicado em 08/07/2020 por Revista algomais às 15:02114

* Paulo Caldas

Com afagos e dengos, estes amantes da literatura reúnem mimos de letras polidas em Escrituras V – Velas a Barlavento, produção editorial da Oficina de Criação Literária Clarice Lispector, organizada pela escritora Lourdes Rodrigues (Editora Nova Presença, 2019).

Os textos, ninados por acalantos, embalam contos, cordéis, poemas, artigos e crônicas nutridos pelo talento de 18 escritores (com dois artistas visuais, entre eles), celebrados em temas livres. A coletânea exibe na mesma tela gente com expertise na lida do escrever (já a partir das orelhas) e nomes premiados de mãos dadas com autores com menos passos andados nas veredas literárias.

Visto pelo todo, quem lê por certo vai creditar surpresa à “Violação”, novela coletiva, tecida por meia dúzia de mãos, com tema intimista, compartilhado num drama pungente, chocante, esculpido na primeira pessoa com requintes técnicos elogiáveis (passagens de tempo e vozes entrecruzadas) que tornam a presença do leitor testemunha de cada cena.

Outro momento marcante está contido em “Encontro de Rios’, que se traduz num beijo de história em forma poética, acarinha os rios enlaçados sob as vistas gentis de um Recife adolescente em uma Olinda airosa.

Seria pecado não citar o projeto visual: concepção de capa de Paulo Gusmão, cortinas aquareladas, tecidas de fino trato de Adíla Morais, com mensagens expressivas de ícones literatos e a diagramação de Nélson Reis.

Outras tantas referências elogiosas caberiam neste comentário, a exemplo dos encontros com Fernando Pessoa, Calvino, Clarice, contudo, ficam preteridas pela obediência aos espaços recomendados pelo editor.


*Paulo Caldas é Escritor

PROGRAMAÇÃO 2020

TRAÇO FREUDIANO VEREDAS LACANIANAS ESCOLA DE SPSICANÁLISE

OFICINA DE CRIAÇÃO LITERÁRIA CLARICE LISPECTOR

PROPOSTA DE PROGRAMAÇÃO PARA 2020

Data de início – 05/02/2020

Horário – Quartas-feiras de 14h00 às 16h00
Local: Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise – Rua Alfredo Fernandes, 285, Casa Forte – Recife- PE
Contatos –Fone: 3265-5705 (Luciene).

Blog: www.traco-freudiano.org/blog 

E-mail: oficinaclaricelispector@googlegroups.com

O tema para direcionamento de leituras e escritas será a condição humana: o vazio, a angústia, o ser ou não ser, o medo da morte, o desejo, o amor, a culpa, o ódio, a frustração, a paixão, a falta, a solidão, o sonho, a fantasia. Fontes primárias dos escritores que estão bem adiante das pessoas comuns no conhecimento da mente humana, segundo Freud. Elas permitem a tessitura de tramas que se tornam grandes obras literárias. Desvendar o homem através de seus sentimentos, diante de determinadas circunstâncias, é o peregrinar contínuo do escritor ficcional e o que o diferencia dos demais escritores.

Para apoio à análise das obras selecionadas e à escrita dos participantes será aprofundado o estudo de elementos narrativos fundamentais: tipos de narrador e de focos narrativos; e nuances para construção de diálogos.

Como vai funcionar:

  • Leitura e análise de poema, conto ou peça teatral de autores selecionados.
  • Leitura e análise dos escritos dos participantes.
  • Leitura de Teoria Literária e exercícios de técnicas quando o contexto assim o exigir.

Participantes:

  • Interessados em desbloquear a escrita, viajar pelas emoções através da Literatura, do mistério e deslizamento das palavras;
  • Escritores, potenciais escritores e críticos literários movidos pelo desejo de escrever e realizar leituras que ultrapassam os significados das palavras e deslizam para seus outros sentidos.

Bibliografia:

Sugestões de Material Teórico

ECO, Umberto – Confissões de um Jovem Romancista, Editora Record.

LEITE, Lígia Chiappini Moraes – O Foco Narrativo, Editora Ática.

MCKEE, Robert – DIÁLOGO – A Arte da Ação Verbal na Página, no Palco e na Tela, Editora Arte e Letra.

Sugestões de Contos:

ANTUNES, Lobo – A História do Hidroavião – digitalizado

ASSIS, Machado – A Igreja do Diabo – digitalizado

CALVINO, Ítalo – Os Filhos Madraços

CAMUS, Albert – A Mulher Adúltera

                            – O Avesso e o Direito

CRUZ, Afonso – A Queda de um Anjo – digitalizado

JORGE, Lídia – Dama Polaca Voando em Limusine Preta – digitalizado

LISPECTOR, Clarice – A Fuga – digitalizado

MARÍAS, JAVIER – Uma Noite de Amor – digitalizado

PEDROSA, Inês – Quartos de Hotel – digitalizado

PEIXOTO, José Luiz – Aqui, Aqui, Aqui – digitalizado

ROSA, João Guimarães – Nada e a nossa condição – digitalizado

TAVARES, Gonçalo M – A Moeda – digitalizado

VILELA, Luiz – Confissão – digitalizado

                        – O Buraco – digitalizado

Lourdes Rodrigues publicou dois livros de contos: Bandeiras Dilaceradas e Situação-Limite, pela Bagaço.  Organizou, prefaciou e participou dos cinco livros Escrituras, que contemplam textos literários dos participantes da Oficina relativos aos períodos 2006/2019.  Coautora de rodopiano, e de A Criação Literária à Luz do livro Incidentes em um Ano Bissexto de Luiz-Olintho Telles da Silva. Publicou ensaios na Revista Veredas. Membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise desde 2003, onde participa, atualmente, do grupo de Arte e Psicanálise. A partir de 2006 passou a coordenar a Oficina de Criação Literária Clarice Lispector.

Leituras Realizadas

Além das leituras realizadas durante a viagem pelos mares das palavras às quartas-feiras, já registradas no prefácio de Escrituras V, Velas a Barlavento, somos leitores ávidos e muitas outras leituras foram feitas por cada um durante o ano de 2019. Para dividirmos algumas dessas leituras criamos o Carrossel Literário, momento em que levamos livros para compartilhar, resultando num troca troca muito agradável. Além disso, alguns viageiros, entre eles eu me incluo, fizeram uma lista dos livros lidos durante o ano, que apresento aqui.

Meus Livros: com certeza esqueci de alguns. Esses foram os lembrados.

  1. – A Máquina de Fazer Espanhóis – Valter Hugo Mãe
  2. – Palmeiras Selvagens – William Faulkner
  3. – A Praia de Manhattan – Jennifer Egan
  4.  – A Visita Cruel do Tempo – Jennifer Egan
  5.  –Eu sei por que o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou
  6.  – O caminho de Casa – Yaa Gyasi
  7.  – No seu pescoço – Chimamand Ngosi
  8.  –  Essa Gente – Chico Buarque
  9.  –  Prohibido Morir Aqui – Elizabeth Taylor
  10. – The Reckoning – John Grisham
  11. – Rushing Waters – Danielle Steel
  12. – Romancista como vocação – Haruki Murakami
  13. – Mulher Desiludida – Simone de Beauvoir
  14. – Um Homem Bom é Difícil de Encontrar – Flannery O’Connor
  15. ­– A Velocidade da Luz – Javier Cercas
  16. – Prólogo, Ato, Epílogo: Memórias – Fernanda Montenegro
  17. – De amor e Trevas – Amós Oz
  18. – Elza – Zeca Camargo
  19. – A Arte da Sabedoria – Baltasar Gracián
  20. – Como se Faz Literatura – Affonso Romano de Sant’Ana
  21. – Contos Completos – Flannery O’Connor
  22. – Quarenta Dias – Maria Valéria Rezende
  23. – Silêncio – A biografia de Maria Theresa Goulart – Wagner William
  24. – Caetano – Biografia – Caetano Veloso
  25. — Livros e Borrachas – Eduardo Ericson
  26. – E a História Começa – Amóz Oz
  27. — O Dilema do Porco Espinho – Leandro Karnal
  28. – La Habana Vieja: olhos de ver – Políbio Alves
  29. – A Leste dos Homens – Políbio Alves
  30. – O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação – Haruki Murakami
  31. – A flor Lilás e outros contos – Ricardo Braga
  32. – Um Conto de Natal – Charles Dickens
  33. – Laços – Domenico Starnone
  34. – Amor Incômodo – Elena Ferrante

Livros que li em 2019 (que eu me recorde)

Elizabeth Freire

1.0 -O filho de mil homens – Valter Hugo Mãe

2.0 – Praia de Manhatan – Jennifer Egan

3.0 – Romancista como vocação – Haruki Murakami

4.0 – O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação- Haruki Murakami

5.0 – IQ84 (volume I) –  Haruki Murakami

6.0 – Contos mais populares e os menos conhecidos de Machado de Assis

7.0 – A Paixão segundo G H – Clarice Lispector

8.0 – O Grande Gatsby – F. Scott Fitzgerald

9.0 – Dias de abandono – Elena Ferrante

10.0 – O estrangeiro – Albert Camus

De alguns gostei muito, de outros nem tanto e de poucos não gostei.

O que mais me chamou atenção pela sutileza dos personagens, pelo estilo encantador e pela mensagem de esperança foi o Filho de Mil Homens – de Valter Hugo Mãe.

Os 10 melhores livros que li (ou reli) em 2019

Fernando Gusmão

1.0 – A Intermitência da Morte, de José Saramago

2.0 – Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

3.0 – Para viver em paz – O milagre da mente alertado, de Thich Nliât Hanli

4.0 – A ilha do conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido, de Marcelo Gleiser.

5.0 – Quincas Borba, de Machado de Assis

6.0 – O Velho e o Mar, de Ernest Hemmingway

7.0 – Os homens que não amavam as Mulheres, de Stieg Larsson

8.0 – O terrorista elegante e outras histórias, de Mia Couto e José Eduardo Agualusa

9.0 – A Livraria dos Finais Felizes, de Katarina Bivald

10.0 – Um amor incômodo, de Elena Ferrante

Livros lidos em 2019

Paulo Tadeu

Uma breve história da filosofia Nigel Warburton
Pantera no porão Amós Oz
Frufru Rataplã Dolores Dalton Trevisan
A mulher mais linda da cidade e outras histórias Charles Bukouwski
O fim do ciúme e outros contos Marcel Proust
Mayombe Pepetela
A noite em questão Tobias Wolff
O homem que queria ser rei e outros contos Rudyard Kipling
O estranho caso do Dr. Jekill e do Sr. Hide Robert L. Stevenson
O ladrão de cadáveres Robert L. Stevenson
Moby Dick Herman Melville
Histórias dos mares do sul W. Somerset Maugham
A morte de Olivier Bécaille Èmile Zola
A promessa; A pane Friedrich Dürrenmatt
Adeus às armas Ernest Hemingway
Havana para um infante defunto G. Cabrera Infante

Livros lidos em 2019

Lilia Gondim

Autor Título Obs
1 ErnestHemingway Um lugar limpo e bem Iluminado Conto isolado
2 Flannery ’Connor Contos completos  
3 Javier Cercas A velocidade da luz Conto isolado
4 Diana Gabaldon Outlander livro 6  
5 Diana Gabaldon Outlander livro 7  
6 M Valéria Rezende Outros cantos  
7 M Valéria Rezende Carta á rainha louca  
8 Ambrose Bierce O rastro de Charles Ashmore Conto isolado
9 Ambrose Bierce Um incidente na ponte Owl Crek Conto isolado
10 Machado de Assis O machete Conto isolado
11 Lisa Klein Ofélia  
12 Teresa Sales Cheiro de Velame  
13 Fred Vargas The accordionist  
14 Philippa Gregory Três irmãs, três rainhas  
15 Jenny Colgan A padaria dos finais felizes  
16 Nina George O livro dos sonhos  
17 Armando Lucas Correa A garota alemã  
18 Markus Zusak O construtor de pontes  
19 Saramago O cerco de Lisboa Relido
20 Saramago Memorial do convento Relido
21 Umberto Eco O nome da rosa Relido
22 V Nabokov Lolita Relido
23 Ildefonso Falcones A rainha descalça  
24 Ildefonso Falcones A mão de Fátima  
25 Urariano Mota A mais longa duração da juventude  
26 Manuel Pinheiro Chagas O terremoto de Lisboa  
27 Eva Werner O menino dos fantoches de Varsóvia  
28 Nina George A livraria mágica deParis  
29 Ken Follett Um lugar chamado liberdade  
30 Ken Follett Coluna de fogo  
31 Adrienne Monnier Rua do Odeon  
32 Thomas Harding A casa do lago  
33 Saramago Objeto quase  
34 Philip Roth Quando ela era boa  
35 Philip Roth Operação Shylock  
36 Maxim Huerta Uma loja em Paris  
37 Maria Dueñas As filhas do capitão  
38 Ariano Suassuna Romance de D. Pantero  
39 Elena Ferrante Um amor incômodo  
40 Elena Ferrante A filha perdida  
41 AntonioCavanillas de Blas A amiga de Leonardo da Vinci  
42 Jean E. Pendziwol O farol e a libélula  
43 Jennifer Egan Praia de Manhattan  
44 Paulo Cognatti As oito montanhas  
45 Valter Hugo Mãe A desumanização  
46 Valter Hugo Mãe O remorso de Baltazar Serapião  
47 Ana M. Gonçalves Um defeito de cor  
48 Marco Albertim Conspiração Guadalupe  
49 Marcelo M Melo Adversos Resistentes  
50 Hermilo Borba Filho Agá – Versão vermelha  
51 Hermilo Borba
Filho
Os ambulantes de Deus  
52 W Faulkner Enquanto agonizo  
53 Amós Oz A pantera no porão  
54 Mauro Mota Crônicas escolhidas  
55 Ricardo Braga A flor lilás e outros contos  
56 MargarethAtwood O conto da aia  
57 José Almino Alencar Gordos, magros e guenzos  
58 Walter Isaacson Leonardo da Vinci  

Mitafá

As leituras que lembro ter feito em 2019:

  1. –  O Falador, Mario Vargas Llosa.
  2. –  Madame Bovary, Flaubert
  3. –  Obras Completas, Raduan Nassar
  4. –   Werther Goethe
  5. –  A Metamorfose, Kafka
  6.  – A Lebre com olhos de âmbar, Edmundo Wall
  7. – O Estrangeiro, Albert Camus
  8. –  Vivendo com os Mestres do Himalaia, Swami Ajaya( org.)
  9. – Poesia Completa de Fernando Reis, Fernando Pessoa
  10. – Para Viver com Poesia, Mário Quintana
  11. – Infanto juvenis: A Origem do Mundo, Maria Augusta Randon
  12. –  Livro das Origens, José Arrabal
  13. –  Baús de trocas, Marilene lemos
  14. –  A Arte de Contar Histórias no séc.XXI, Cléo Busato
  15. –  O Valor Terapêutico de contar histórias, Margot Sunderland        (releitura)
  16. –  Psicologia Analítica e os contos de fadas, Patrícia Moreira
  17. –  A Arte de Encantar e o contador de história contemporâneo e seus olhares, Fabiano Moraes e Lenice Gomes(orgs)
  18. – O ofício do Contador de histórias, Gislayne Matos (releitura)
  19. –  Palavra do Contador de Histórias, Gislayne Matos( releitura)
  20. –  Seis Passeios pelos bosques da ficção, Humberto Eco
  21. ­– O Fluxo de Consciência, Robert Humphrey
  22. –  Tecendo fios, Campos de Queirós
  23. –  O Destino das Metáforas – Sidney Rocha

LUZIA FERRÃO

LEITURAS EFETUADAS/ ANO 2019
 
A CEIA DOS CARDEAIS                                  JULIO DANTAS
A CINZA DO PURGATÓRIO                           OTTO MARIA CARPEAUX
A JORNADA DO ESCRITOR                            CHRISTOPHER VOGL
A ÁRVORE (Conto)                                        MARIA LUISA BOMBAL
A FLOR LILÁS E OUTROS CONTOS                RICARDO BRAGA
A CHUVA (Conto)                                           SOMERSET MUGHAM
A PAIXÃO SEGUNDO GH                               CLARICE LISPECTOR
A TARDE DE UM ESCRITOR                           PETER HANDKE
ANTÍGONE                                                       SÓFOCLES     
A ANGUSTIA DA NFLUENCIA                       HAROLD BLOOM
A ILHA                                                             ALDOUS HUXLEI
A INTERPRETAÇAO DOS SONHOS               FREUD
ALGUNS ASPECTOS DO CONTO                   CORTAZAR
A MULHER DESILUDIDA                                SIMONE DE BEAUVIOR                                                           
A SERPENTE                                                     NELSON RODRIGUESS
A VELOCIDADE DA LUZ                                  JAVIER CERCAS
ANDANÇAS PELA FICÇÃO                              LOURDES RODRIGUES
ALMAS MORTAS                                             GOGOL                                           
CANTARES                                                        HILDA HIRST
CARTAS A RAINHA LOUCA                               MARIA VALERIA REZENDE
CONQUISTA DE BRAGA                                     SARAMAGO
CONTOS DE MACHADE DE ASSIS                      MACHADO DE ASSIS
CONTOS COMPLETOS                                           FLANERY O’CONORY  
CONTOS DE IMAGINAÇÃO E MISTERIOS            EDGAR ALLAN POE
CONTOS LATINO-AMERICANOS ETERNOS          VÁRIOS AUTORES
CRONICA                                                               LUANA BERNARDESO
DO RIO QUE TUDO ARRASTA                                  BERTOLT BRECHT
DE AMOR E TREVAS                                             AMOZ OZ                                       
ENSAIO AUTOBIOGRAFICO                                  JORGE LUIS BORGES
ENTREVISTA                                                               HUMBERTO ECO
ESPERANÇA                                                                EMILY DICKSON
EXPLORADORES, MAIS QUE INVENTORES            ERNESTO SABATO
MADRIGAIS PRIVADOS                                          EUGENIO MONTELE                                                      
GRANDE INQUISIDOR (Conto)                                 DOSTOIEVSKI
HISTORIAS EXTRAORDINARIAS                               EDGAR ALLAN POE
KAFKA E A BONECA VIAJANTE                            JORDI SIERRA FABRA
LUTO E MELANCOLIA                                                    FREUD
LAÇOS                                                         DOMENICO STARNONEN                                                    
MEMORIAL DE BRAS CUBAS                                 MACHADO DE ASSIS
MULHERES SEM NOME                                       MARTHA HALL KELLY
MUNDO CRISTAO E A FUND.DA EUROPA        OTTO M CARPEAUX                                                                
NO DEPARTAMENTO DOS CORREIOS(Conto)     ANTON TCHÉKHOV                                                           
TERRORISTA ELEGANTE E OUTRAS        MIA COUTO, J.E.AGUALUSA                                                                                      
O PRÓPRIO SER EU CANTO                                        WALT WHITMAN
O NARIZ                                                                              GOGOL
OS ESTRANHOS                                                             STEPHAN   KING
ODISSEU A TELÊMACO                                              JOSEPH BRODSKY
OBRA ABERTA                                                              HUMBERTO ECO
O MACHETE   (Conto)                                     MACHADO DE ASSISS                                                
PARA INTRODUZIR O NARCISISMO                                FREUD
POEMAS                                                                 JORGE LUIS BORGES
POEMAS                                                                           ADELIA PRADO
POEMAS                                                                             PUCHINK
POEMAS                                                                             TCHÉCKOV
POEMAS                                                                        BERTOLT BRETCH
POEMAS                                                                             MIA COUTO
POEMAS                                                                       THIAGO DE MELO
POEMAS                                                         SOROR INES DE LA CRUZU                                                                                                                                                                                                      
RÉQUIEM  POR TATIANA                                               TATIANA
RETRATO DE UM ARTISTA QUANDO JOVEM             JAMES JOYCE
SEIS PASSOS PELO BOSQUE DAS PALAVRAS             HUMBERTO ECCO                               
SOBRE A TRANSITORIEDADE                       FREUD VERGÄNGLICKEIT                                                         
TODAS AS CRONICAS                                             CLARICE LISPECTOR                                                                
UM CORAÇÃO SINGELO                                                    FLAUBERT
UM AMOR INCOMODO                                             ELENA FERRANTE
UM LUGAR LIMPO E ILUMINADO                    ERNEST HEMINGWAY                                                            
VASOS COMUNICANTES E CAIXA CHINESA   MARIO VARGAS LLOSA
VIDAS SECA                                                           GRACILIANO RAMOS
VIDA E DESTINO                                                     VASSILI GROSSMAN
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
   
 
 
 
 
 
 

Escritos sobre a Oficina

A Oficina de Criação Literária Clarice Lispector foi criada em 2006, no Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise. Surgiu de um grupo dedicado às leituras da obra de Clarice Lispector, daí o seu nome. Tem como objetivo o trato com a palavra, dada a sua importância para os estudos literários e psicanalíticos. Seu desenvolvimento está pautado em três linhas básicas: a teórica, a do conhecimento crítico da obra em esNtudo e a da escrita dos participantes seja sob a forma ficcional, poética ou ensaísta.

De quase uma década e meia de encontros às quartas-feiras a Oficina retém registros, diários de bordo sob a forma de livros que recebem o nome de Escrituras.  Mais do que simples grafos pretos em papel Escrituras são a memória de um tempo de descobertas, fantasias e palavras tecidas com rigor artesanal, criando perspectivas infinitas de caminhos ou de bosques a serem enveredados.

Escrituras V- Velas a Barlavento traz alguns rastros dos percursos realizados por dezoito participantes da Oficina – de um total de vinte – nos últimos dois anos. São dezoito autores  que se inscrevem na história desse tempo com seus poemas, contos, crônicas, ensaios, resenhas e novela.

A Literatura tem sido o traço que dá consistência imaginária ao grupo e a ilusão de completude. Os oficineiros se dizem viageiros pelos mares das palavras, constituindo-se, assim, sujeitos que navegam pelas letras.

                                                                         Lourdes Rodrigues

Coisas que a Oficina Clarice Lispector vem me mostrando
Fernando Gusmão

Na quarta-feira passada, quando estávamos discutindo o boneco da edição do Escrituras5, foi comentado que o livro era muito importante por mostrar os resultados da produção da Oficina nos dois últimos anos. Claro! Naquele material, tão bem reunido em forma e conteúdo, está um pedacinho de cada um de nós. Mas, fiquei pensando que, muito embora o livro materialize e sintetize nossa convivência na Oficina durante aquele período, para mim o convívio —em si— foi mais longe, foi mais rico e bem maior do que o que está mostrado nas Escrituras5. Principalmente porque a partilha semanal que fazemos do tema Literatura se dá na forma de uma roda de conversa, num clima de informalidade e brincadeira, mas, ao mesmo tempo, de seriedade e responsabilidade, onde a ressonância coletiva provoca a construção e a reconstrução de conceitos e de argumentos, através dos diálogos dos participantes —e de cada um consigo mesmo— mas, principalmente por conta da escuta de cada um. São expressas livremente inquietações, opiniões e expectativas. Discutem-se verdades de quem fala, e de todos.

A Oficina demonstra como sábios são os povos que desde a antiguidade já praticavam, e praticam até hoje, o hábito de sentar em roda para resolver conflitos ou para que comemorar festas da comunidade. Mais ainda, para que uma geração aprenda com a outra.  Esse formato em círculo possibilita que todos possam ao mesmo tempo se ver e, com paciência e sabedoria, falem e escutem. Ninguém fica fora da roda. Há disponibilidade para ouvir o outro —o que não é comum no nosso cotidiano— pois no círculo, necessariamente, os momentos de escuta são mais numerosos do que os de fala, surgindo daí o silêncio observador e reflexivo. São momentos singulares de partilha onde as opiniões de cada um são construídas a partir da interação com o outro, complementando, discordando ou, até mesmo, concordando. Nessas conversas aparece a compreensão de maior profundidade, de mais reflexão, assim como de ponderação, buscando o franco compartilhamento.

A Oficina é, portanto, um dispositivo que permite a repartição de experiências e o desenvolvimento de ponderações sobre as práticas criativas em um processo mediado pela interação entre os pares, tanto nos diálogos externos, como nos internos.  Neste círculo forjam-se opiniões e formas de reviver o prazer da troca e da produção rica de conteúdo e de significado.  São experiências pessoais e profissionais que se articulam e que desaguam nas questões da Literatura.
E Escrituras V mostra que a reflexão individual não se desenvolve sem o concomitante crescimento da intercomunicação crítica. Por isso, a Oficina, inclusive, muda caminhos.

Outra coisa que me marcou foi constatar que a Oficina vem ensinando que somos sempre narradores em potencial. Mas que não narramos sozinhos: reproduzimos vozes, discursos e memórias de outras pessoas, que se associam à nossa no processo de rememoração e de socialização, numa construção coletiva de significados. Cada um de nós sendo, assim, também protagonista do aprimoramento literário que os demais vivenciam. Isso faz brotar o pensamento capaz de levar à compreensão e à reelaboração de conceitos e de conhecimentos sobre o criar literário.

E, assim, a conversa vai seguindo criativa e divertida… Em um modelo ganha/ganha em que o contentamento e a alegria estão sempre presentes.

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O que a Oficina faz por mim

Elizabeth Freire

Fui conhecer a Oficina numa quarta-feira de agosto de dois mil e dezoito, para ver se gostava.  Não gostei. Amei!  Posso dizer que foi paixão à primeira visita. O ambiente é muito agradável, acolhedor.
Duas coisas me cativaram: a seriedade como os trabalhos são conduzidos e as pessoas do grupo que são bastante generosas umas com as outras. Mesmo as mais avançadas fazem questão de dividir seu conhecimento com os iniciantes na arte de escrever.
Todas as quartas-feiras, nós, os viageiros, somos transportados por uma nau mágica, sob o comando de Lourdinha, para uma tarde de navegação pelo mundo das palavras.
Contar uma história pode até ser fácil, mas transmitir emoções, fazer o leitor sorrir, chorar, torcer, rezar, sofrer, é uma tarefa difícil, ao menos para mim. Fazer tudo isso de uma forma original, buscando um estilo próprio, tem sido percorrer uma estrada sem saber se chegarei ao meu destino.
Graças à Oficina voltei a ler com a assiduidade perdida ao longo dos anos. Encontrei uma atividade instigante, que exige criatividade, dedicação e perseverança. Conheci pessoas inteligentes, sensíveis e dispostas a se ajudarem mutuamente.
Estou com mais de sessenta anos. Faz pouco tempo que perdi meu amor, meu companheiro de toda uma vida. Sigo em frente, sempre acreditando que nunca é tarde para sonhar. Decidi trilhar o tortuoso, lindo e mágico caminho das palavras. Talvez nunca seja de fato uma escritora, mas o coração e a mente estão abertos e plenos de emoção.
Obrigada a todos que fazem a Oficina navegar.

Escrituras V – Velas a Barlavento

Lançamento em 11/12/2019

O lançamento de Escrituras V – Velas a Barlavento foi uma grande festa! As pessoas foram chegando devagar, ocupando os espaços e quando nos demos conta quase não podíamos circular tão cheia estava a livraria da Praça de Casa Forte, local do lançamento. Amigos novos, amigos de sempre, amigos que não víamos há muito tempo reforçando sentimento antigo de amizade. Companheiros de luta, de ideias, de paixão pela Literatura. Ouvi dos outros autores as mesmas falas sobre os seus convidados ali presentes. Uma festa, uma grande festa! Segundo um amigo, deveria ter sido em outro lugar, bem mais amplo, para que todos coubessem com certo conforto. Não sei. Aquele lugar lindo e adorável da Livraria não nos deixava sentir o desconforto da circulação difícil, antes dava-nos sensação de aconchego, e a grata possibilidade de sentir cheiros e ouvir sons agradáveis e conhecidos. Encantado, outro amigo me disse, você jamais conseguirá repetir esse lançamento: isso foi um grande acontecimento! Concordo que foi um grande acontecimento. Assim foi registrado na nossa Carta de Navegação. Quanto a não ser capaz de repetir, acredito. Nada se repete. Sequer nós seremos os mesmos num próximo lançamento. O próximo terá o seu brilho particular, as suas sutilezas, e registrará outras viagens, outros percursos porque com as velas a barlavento a nossa nau continuará a singrar outros mares em 2020.

Algumas imagens do evento: