A DIVINA COMÉDIA – INFERNO – Personagens, Símbolos e Notas Explicativas

Personagens: símbolos e notas explicativas

Quando decidimos ler o Inferno de A Divina Comédia, de Dante Alighieri, sabíamos da árdua tarefa que teríamos pela frente e não propusemos a leitura completa da obra, considerando de bom tamanho a primeira parte da viagem aos reinos do além-túmulo, com os seus trinta e quatro cantos, e quatro mil e setecentos e vinte e três versos rimados em tercetos sempre ascendentes: ABA, BCB, CDC, DED….

Mesmo assim, muitas foram as dificuldades encontradas. Entre elas, decidir o Inferno a ser visitado. A discussão começou pela internet e o critério inicial de escolha ateve-se à racionalidade econômica: edição de bolso, valor de compra acessível, ampla oferta nas livrarias e supermercados, acrescida da disponibilidade do livro por alguns. Mas a tal versão econômica com os seus vários tradutores nos criou outro problema: qual tradução escolher? Após ampla discussão sobre a qualidade das traduções, nomes como José Pedro Xavier Pinheiro, Hernani Donato, Fábio Alberti e Ítalo Mauro se destacaram. A decisão veio à mesa: a escolha resultaria da escuta de trechos das traduções daqueles senhores, edição de bolso ou convencional. Enfim, a economicidade dava passagem à musicalidade e o teor poético assumia o seu lugar. Do novo agon, Ítalo Mauro, Editora 34, edição bilíngue, revelou-se: qualidade poética, fidelidade ao original e, ainda, o valor das notas explicativas.

Inferno escolhido, mãos à obra. Novo impasse: cadê o compasso, a harmonia da leitura? Não mais a do texto, agora a dos leitores, a nossa. Ler a estrofe em português, seguida do italiano, fez-nos perder em ritmo e apreensão do conteúdo. Urgia encontrar outro caminho.

O Canto e as suas respectivas notas lidas, simultaneamente, garantiu-nos compreensão bem mais e melhor do que a tentativa anterior, mas a interrupção quebrava a harmonia poética. Assim, outra via foi procurada: a leitura completa do Canto, no final, as notas explicativas.

E depois, a leituraem italiano. Deu certo. Deste modo se fez. Lá adiante, com o tempo a nos exigir celeridade, houve o sacrifício do texto em italiano. Até porque as miríades de notas que foram surgindo em cada verso, tornaram-se verdadeiros tentáculos medusianos,  aprisionando-nos, absorvendo-nos. Sim, porque as sumárias notas de Ítalo Mauro pressupunham um saber anterior que, mesmo longe de querermos adquiri-lo num passo mágico, obrigava-nos a procurar em outras fontes as respostas para algumas das muitas interrogações que nos perturbavam.

Uma das fontes bem visitada foi a internet. Além da Wikipédia, outros textos eletrônicos foram consultados, até encontrarmos site estruturado de A Divina Comédia, autoria de Helder Rocha, destinado às pessoas com “interesse na mitologia dantesca e nas histórias da Divina Comédia”. O autor esclarece ser o site de entretenimento, vez que a sua proposta não seria servir de fonte para pesquisas acadêmicas. Mesmo assim, ele garante ter tentado obter as informações mais precisas, sempre indicando a fonte de todas as explicações e textos. Para compor a sua versão ele usou a tradução para o português de Ítalo Mauro, edição de 1998, e as traduções para o inglês de Dorothy Sayers (Dante Alighieri, The Comedy of Dante Alighieri the Florentine: Hell (L’Inferno), Penguin, EUA, 1949). e Mark Musa (Dante Alighieri. The portable Dante,Viking Press, EUA, 1995), além de Cambridge, Viglio, Larrousse, José Pedro Xavier Pinheiro e outros .

Seguimos a sua estrutura de Cantos. Muitas notas retiradas do site foram complementadas com outras fontes. Usamos, ainda, algumas das ilustrações de Gustave Doré e do próprio Helder Rocha, e mapa do Inferno de Sandro Botticelli.

Mas as nossas consultas não se encerraram aí. Pelo contrário, todas as referências à mitologia grega (e não foram poucas) privilegiou-se Junito de Souza Brandão, em seu Dicionário Mítico-Etimológico, Volumes I e II. A Eneida  de Virgílio, bastante citada por Dante, sofreu consultas sucessivas, devolvendo alegria esquecida da primeira leitura. Igualmente, a Metamorfose de Ovídio, a Ilíada  e a Odisséia  de Homero.

Carmelo Distante inicia o prefácio da tradução de Ítalo Mauro dizendo que a leitura e, sobretudo, o entendimento de a Comédia não é fácil, pois requer esforço intelectual árduo, por ser a síntese suprema de toda a cultura medieval, a qual (Dante) soube traduzir em poesia sublime. A obra de Dante é a síntese de toda a cultura, em particular da cultura clássica e cristã, como ele bem o diz: é a conjunção-sobreposição das duas culturas, a clássica e a cristã (que) caracteriza toda a cultura medieval, que encontra em Dante o seu poeta máximo e um dos seus máximos expoentes.

Entendemos a nossa viagem ao Inferno como uma iniciação à Divina Comédia, não apenas por ser o primeiro reino visitado, mas pelo muito que ainda temos de apreender desse manancial literário-cultural-filosófico-político. O autor florentino é eclético, diz Carmelo, abraçou todas as correntes do pensamento, gnosiológicas, morais e religiosas que lhe antecederam e ainda estavam vivas no seu tempo. Assim, diante da grandeza e complexidade da obra, a nós leitores de o Inferno resta as seguintes opções: sair do Inferno para sempre, pois a iniciação foi suficiente para nunca mais querermos voltar; mergulhar nas suas profundezas, com coragem e determinação, até sentir a alma se aquietar; ou sair para outras paisagens, e aqui e ali direcionar o leme para dar alguns mergulhos no reino das trevas, mas sempre com outros planos à vista. A escolha é nossa.

Jaboatão dos Guararapes, 02 de fevereiro de 2009

Lourdes Rodrigues

ÍNDICE

I – Convite à aventura e encontro com o mentor
Canto I — A selva escura – As feras – Espírito de Virgílio
Canto II — Razão da Viagem – Beatriz
II –Travessia do limiar – separação do mundo (indecisão), (covardia, ausência de opção pelo bem e pelo mal)
Canto III — A porta do Inferno – Vestíbulo – Rio Aqueronte – Caronte
Canto IV — Limbo – Círculo 1 – Castelo dos Iluminados
III – Viagem
III.1 — Pecados do leopardo
Incontinência
Luxúria: Canto V — Círculo 2 – Minós – Espíritos de Paolo e Francesca
Gula : Canto VI — Círculo 3 – Cérbero – Espírito de Ciacco
Avareza e Ira, Rancor : Canto VII — Círculos 4 e 5 – Pluto – Rio Estige
Canto VIII – Flégias – Demônios – A cidade de Dite
Heresia (Negação da Verdade)
Canto IX — Círculo 6 —Erínias e Medusa –Túmulos
Canto X – Espírito de Farinata – Espírito de Cavalcanti
III.2 — Pecados do leão (círculo 7).
Violência
Justiça Infernal: Canto XI – Túmulo do papa Anastácio
Tirania, assalto, assassinato: Canto XII – Minotauro – Cantauros –– Rio de Sangue
Suicídio, gastança autodestrutiva: Canto XIII –- Harpias – Selva dos Suicidas
Blasfêmia: Canto XIV – Deserto incandescente – Chuva de brasas – Flegetonte
Sodomia: Canto XV – Espírito de Brunetto Latini
Canto XVI – Espíritos de políticos florentinos
Usura: Canto XVII – Geríon – Espíritos de famílias da alta nobreza
III.3 — Pecados da loba (círculo)
Fraude Simples
Sedução, Rufianismo – Adulação, Lisonja: Canto XVIII – Malebolge
Simonia : Canto XIX – Vala dos Simoníacos – Espírito do papa Nicolau III
Magia e Adivinhação: Canto XX – Vala dos adivinhos
Corrupção (barataria): Canto XXI – Vala dos Corruptos – Malebranche (demônios)
Canto XXII – Escolta de 10 demônios
Hipocrisia: Canto XXIII – Vala dos hipócritas – Frades gaudentes
Roubo e Furto: Canto XXIV – Vala dos ladrões – Espírito de Vanni Fucci
Canto XXV – Transformação em répteis
Maus Conselhos: Canto XXVI – Vala dos Maus Conselheiros – Espírito de Ulisses
Canto XXVII – Espírito do frade Guido de Montefeltro
Cisma e Intriga: Canto XXVIII –Vala dos Separatistas –Maomé e Bertran Born
Falsificação: Canto XXIX – Vala dos Falsários – Alquimistas
Canto XXX – Falsificadores – Perjuros – Espírito de mestre Ádamo
Canto XXXI – Gigantes – Nemrod – Efialte – Anteu
Fraude Complexa
Traição contra parentes: Canto XXXII – Caína- Antenora – Espírito de Bocca
Traição contra a pátria : Cantos XXXIII –Espírito do Conde Ugolino – Ptoloméia
Espírito do Frei Alberigo
Traição contra benfeitores: Canto XXXIV – Judeca – Lúcifer – Bruto – Judas – Centro da Terra

I – Convite à aventura e encontro com o mentor
* Canto I — A selva escura – As feras – Espírito de  Virgílio
* Canto II — Razão da Viagem – Beatriz

Canto I – A SELVA ESCURA – AS FERAS – ESPÍRITO DE VIRGÍLIO

Dante perdido na floresta Ilustração de Gustave Doré (século XIX)

 

 

 

 

 

 

 

 

(17) Na astronomia ptolomaica, o Sol era considerado planeta. (Mauro,2007)

(37 a  40)  O início da viagem foi estabelecido por Dante como o equinócio de primavera do ano 1300, portanto a posição das constelações nesse momento deveria ser a mesma que, julgava-se, fora por elas ocupada por ocasião da Criação.(2007)

(73 a 75) Virgílio se apresenta: Poeta fui, cantei aquele justo/filho de Anquise, de Tróia a volver/quando o soberbo Ilíon foi combusto. Ele se refere a Enéias, filho de Anquise, cuja saga conta na Eneida e inicia assim: Canto os combates e o herói que, por primeiro, fugindo do destino, veio das plagas deTróia para a Itália e para as praias de Lavínio[1] Longo tempo foi o joguete, sobre a terra e sobre o mar, do poder dos deuses superiores, por causa da ira da cruel Juno; durante muito tempo também sofreu os males da guerra, antes de fundar uma cidade e de transportar seus deuses para o Lácio[2] daí  surgiu a raça latina e os pais albanos e as muralhas da soberba Roma. (Virgílio, 2003, p.9) Virgílio é considerado o maior poeta latino de todos os tempos. Natural da região de Mântua (70-19 a.C.), filho de família camponesa, alcançou pelo casamento situação estável, podendo então ouvir, em Milão e Roma, lições de filósofos epicuristas. Amigo de Horácio, como ele protegido por Mecenas, entrou em contato com o imperador que lhe deu incentivo para escrever a Eneida. Admirador da cultura helênica, empreendeu viagem à Grécia, mas morreu no regresso. O seu túmulo encontra-se em Nápoles. A obra de Virgílio compreende, além de poemas menores compostos na juventude, as Bucólicas ou Éclogas, em número de dez, reflexões sobre a influência do gênero pastoril criado por Teócrito.As Geórgicas, dedicadas ao seu protetor Mecenas, constam de quatro livros, tratando da agricultura. Trata-se de obra de implicações políticas indiretas, embora bem definidas: ao fazer a apologia da vida do campo, o poeta serve o ideal político-social da dignificação da classe rural. Reflete influência de Hesíodo e Lucrécio. Literariamente, as Geórgicas são consideradas a sua obra mais perfeita. E finalmente, a Eneida, o poeta a considerou inacabada, a ponto de pedir no leito de morte que fosse queimada, que se tornou um clássico da literatura. É a lenda do guerreiro Enéias, que, após a célebre guerra entre gregos e troianos, teria fugido de Tróia , saqueada e incendiada, e chegado à Itália, onde se tornou o antepassado do povo romano. Epopéia erudita, a Eneida tem como objetivo dar aos romanos ascendência não-grega, formulando a cultura latina como original e não tributária da cultura helênica.O poema consta de doze livros e a sua construção serviu de modelo definitivo para outra grande epopéia do Renascimento,  Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. (Wikipédia)  Virgílio ao escrever a Eneida inspirou-se em Homero, tentando superá-lo no seu fazer poético. A partir de uma releitura da obra de Homero, ele tenta fazer da Eneida o poema mais perfeito de todos os tempos, ao  contemplar nele as duas obras do rapsodo grego. De certa forma, a primeira metade (os seis primeiros cantos) da Eneida segue o modelo da Odisseia, enquanto a segunda tenta superar a Ilíada. A primeira metade é um poema de viagem e a segunda um poema bélico. O tempo da diegese, ou seja, dos acontecimentos narrados, ocorre imediatamente após a queda da cidade de Tróia, portanto a Eneida dá continuidade à Ilíada de  Homero. Se a Odisséia narra as aventuras de um grego, de Ulisses (ou Odisseus), que tenta voltar para a sua casa e para a sua família, a Eneida narra as aventuras de um troiano que, depois da destruição de Tróia, foge com a sua família e procura um sítio para fundar nova cidade.

(101) Lebréu, obscura profecia de um herói humano, e não de  intervenção divina. (Mauro, 2007)

(105) Feltro e Feltro, obscura alegoria da pátria do herói.(2007)

(106 a 108) Sofrimentos da guerra vividos por Enéias que Dará à infeliz Itália a plenitude/ pra qual morreram a virgem Camila e Euríalo e Turno e Niso. Euríalo e Niso – Guerreiros de muitos combates na Itália, segundo a Eneida, e neste verso lembrados por Dante. A luta rude, a carnificina que lhes é atribuída parece não combinar com a personalidade deles, sobretudo a de Euríalo a quem Virgílio retrata como meigo e terno, muito piedoso com a própria mãe, além de fiel e dedicado ao amigo Niso. Entretanto, por ser filho de guerreiro, viveu toda a vida entre armas, habituando-se a pensar ser lícito qualquer mal que pudesse fazer ao inimigo, e exterminar chefes e soldados contrários eram vistos como obra meritória e heróica. Assim, Euríalo foi nome de vários mortais, todos com estatuto de herói, e ainda, apelido de Apolo.  Companheiro de Enéias, ele foi retratado como jovem dotado de extraordinária beleza, e nutria grande e célebre amizade com Niso. Ele e Niso morreram na batalha contra os rútulos, chefiados por Turno, batalha que Dará à infeliz Itália a plenitude, segundo Dante. Sobre a sua morte e a amizade com Niso, o Livro Nove da Eneida canta: Singular amor unia esses dois seres, e juntos precipitavam-se para o combate; nesta mesma noite ambos estavam de guarda diante de uma porta. Niso diz : “Acaso são os deuses , ó Euríalo, que insuflam este ardor em minha mente?, ou, de um violento desejo, cada um faz um deus para si mesmo? (Virgílio, 2003, 240- 241) Niso e Euríalo incumbem-se de atravessar o exército inimigo a fim de levar notícias das tropas para Enéias. Eles partem assumindo o papel de mensageiros do herói troiano. Entretanto, ao atravessarem o campo inimigo são descobertos e mortos pelos ferozes rútulos. Na batalha em que morreram bravamente, fica bem evidente o grande amor que os unia: … As trevas que tombavam dos galhos e a pesada carga embaraçavam Euríalo; o temor o engana e faz-lhe perder a direção. Niso se afasta e, sem pensar em Euríalo, já tinha escapado aos inimigos e passados além dos lugares que depois foram chamados Albanos, do nome de Alba (O rei Latino aí possuía férteis pastagens), quando se deteve e procurou em vão atrás de si o amigo ausente: “Infortunado Euríalo, em que lugar te deixei? Onde te encontrar?”Percorrendo, de novo, todas as sendas tortuosas daquela floresta enganadora, segue em sentido contrário, os passos que primeiro dera, e erra pelas moitas silenciosas. Ouve os cavalos e o seu tropel e os apelos dos perseguidores. Pouco tempo depois, um grito chega aos seus ouvidos e ele vê Euríalo que, traído pelos lugares e pela noite, perturbado pelo súbito ataque dos soldados, se debate em vão contra a tropa toda que o arrasta. Que fazer? Com que forças, com que armas ousará salvar o jovem? Deverá acometer para morrer no meio dos inimigos e apressar, com suas feridas, uma bela morte? Move ligeiro seu braço para trás, brande o dardo e, olhando para a lua elevada, assim lhe ora: “Ó deusa, auxilia, propícia, o nosso trabalho, honra dos astros e protetora das florestas, ó filha de
Latona; se alguma vez meu pai Hírtaco ofereceu por mim alguma oferta em teus altares, se eu mesmo depus alguma, depois das minhas caçadas, ou as pendurei do teto do teu santuário ou as fixei no sagrado vestíbulo, permite que ponha em debandada este esquadrão e dirige meu dardo através dos ares.” Tinha dito, e, firmando o ferro com toda as forças, o arremessa: a seta, sibilando, corta as sombras da noite e crava-se nas costas de Sulmão, quebra-se, e lhe atravessa o coração com ruído de madeira. Ele rola vomitando do peito golfadas de sangue quente; já está frio e seus flancos pulsam com longos soluços. Os rútulos olham em todas as direções. Eis que o mesmo Niso, mais corajoso com este sucesso, vibra outro dardo, levando a mão à altura da cabeça; enquanto os inimigos trepidam, a haste sibilante veio penetrar as têmporas de Tago e permaneceu fincada na cabeça tépida ainda do cérebro que acabara de atravessar.O feroz Volcente enfurece-se, em parte alguma descobre o atirador do dardo, sem saber sobre quem descarregar seu furor: “Não importa”, diz ele,”entretanto me pagarás com teu cálido sangue a morte de ambos”. E, ato contínuo, desembainha a espada e arremete contra Euríalo. Então é que Niso, aterrado, louco de aflição, grita; não pode permanecer mais tempo oculto na escuridão, ou sofrer tamanha dor: “Matai-me a mim, fui eu que disparei os dardos; voltai contra mim o ferro, ó rútulos; sou o único culpado; ele nada ousou, pois nada pôde: tomo por testemunhas este céu e estes astros que tudo vêem. Ele nada mais fez senão amar excessivamente o seu infeliz amigo?”Tais eram as suas palavras, mas a espada, impelida com toda a força, atravessou as costas do amigo e trespassou-lhe o alvo peito. Euríalo rola na morte; corre o sangue ao longo dos seus formosos membros e seu pescoço exânime pende para os ombros: bem como quando uma flor purpúrea, cortada pelo arado, desfalece moribunda, ou quando as papoulas abaixam a fronde sobre a haste curvada pela muita chuva que tombou. Mas Niso precipita-se no meio dos inimigos e por entre todos procura somente Volcente e só em Volcente crava os olhares; os inimigos, aglomerados em torno do chefe, repelem Niso de um e outro lado; nem por isto o atacam menos; mas ele remoinha a fulmínea espada até que a enterra na boca do rútulo que gritava, até que arrebatou, indo morrer, a vida ao inimigo. Então, trespassado de golpes, lançou-se sobre o amigo exânime, e ali, por fim, expirou numa plácida morte.(Virgílio, 2003, 247-248) O exército dos rútulos destroça os corpos dos infelizes rapazes e, em lanças erguidas, suas cabeças são expostas ao público. Camila e Turno – Enéias chega com os troianos à foz do Tibre. O nome do rei dessa terra, Lácio, é Latino, sua filha chama-se Lavínia. O melhor de seus pretendentes é Turno, rei dos rútulos, mas seu pai foi alertado por uma divindade a dá-la em casamento a um estrangeiro que chegaria fatalmente lá. A delegação mandada por Enéias é bem acolhida por Latino, que lhe oferece aliança e a mão da filha. Juno chama à sua presença a Fúria Alecto, que incita a hostilidade exacerbada de Amata (mãe de Lavínia) e de Turno contra os troianos. Turno fica profundamente irado por perder a possibilidade de ser rei e ter a mulher que lhe estava destinada. Ele simboliza os antecedentes latinos da “raça” romana, enquanto Enéias simboliza os antecedentes troianos (que são ficcionais). Turno cerca o acampamento troiano e ateia fogo às naus troianas, mas Netuno as transforma em ninfas marinhas. Os rútulos assaltam o acampamento, mas Turno é envolvido na linha de defesa do acampamento e escapa mergulhando no rio. O feroz guerreiro rútulo então convoca a guerreira Camila – da nação vitoriosa dos volscos – para ajudá-lo a combater Enéias. Turno diz colérico: “Contra ele, sim, partirei, ainda mesmo que seja outro Aquiles e, tal como este, se vista com armas do forte Vulcano.” O Conselho então se reúne e Turno decreta a continuidade da guerra. Arma-se furioso, juntamente com Camila, e reabre a peleja. Camila, dotada de uma coragem invulgar, solicita a Turno que seja a primeira a enfrentar os perigos da batalha prestes a começar. Turno, fixando-se na terrível virgem donzela, diz: “Ó virgem, glória da Itália! Como hei de pagar-te, como hei de agradecer teu auxílio valioso em tamanha apertura? Teu brio a tudo supera; vem, pois, tomar parte na luta. Se for verdade o que os meus batedores há pouco informaram, o astuto Enéias os campos em torno devasta com a sua cavalaria ligeira, e ele próprio, galgando estes montes abandonados, tenciona alcançar a cidade hoje mesmo.” (p.238) Camila, semideusa, favorita da deusa da caça e da lua Diana (Ártemis na mitologia grega), era caçadora e guerreira. Não conhecia os afazeres domésticos, aprendera a suportar os trabalhos da guerra, em velocidade podia bater o vento, e andar sobre as águas, sem afundar. Seu pai, Métabo, expulso de sua cidade por discórdia civil, levou com ele a filha. Ao fugir dos inimigos que o perseguiam em meio à floresta, chegou às margens do rio Amazeno que estava cheio por causa das águas das chuvas, parou por um momento, e amarrou a criança em sua lança, envolvendo-a em cascas de árvore, depois levantou a garota e disse a Diana: “Deusa das matas! Consagro-vos esta donzela!” e arremessou a lança à margem oposta do rio, a arma atravessou as águas furiosas e ele pulou no rio e nadou em direção a lança, onde encontrou a filha salva.Daí por diante, passou a viver entre os pastores, ensinou Camila a utilizar arco e flecha, podendo assim abater patos e cisnes selvagens. Muitas mães queriam Camila como nora, mas ela permanecia fiel à Diana, rejeitando a idéia de casamento.A deusa prepara a virgem para entrar nos combates cruentos contra os troianos. Ao lado de Camila lutará o temível guerreiro Messapo. A luta tem início e Camila com o peito nu destaca-se no meio da indescritível batalha referida por Dante. Muitos na dor se contorceram frente à ferocidade assassina de Camila. Ela mata possantes guerreiros com velocidade e força descomunais. Sem precaver-se, desejando logo liquidar os troianos, Camila vai ao encalço de Arrunte que gira o dardo ao redor de Camila e, num golpe, crava no peito direito sem mama da jovem. Morta Camila, a emissária de Diana, Ópis, geme de dor. Logo em seguida, o matador de Camila é perseguido e morto por ninfa trácia. Turno ao receber a notícia da morte de Camila encontra-se emboscado na selva. Ao afastar-se de lá, Turno avista Enéias, e este a Turno. As forças opostas suspendem o combate enquanto os dois lutam. Enéias fere Turno, e de início pensa em poupá-lo, mas vê em seu corpo despojos de Palas e inflamado pela cólera mergulha a espada no peito do inimigo: “A alma indignada a gemer fundamente fugiu para as sombras.” (2003)

(134) A entrada do Purgatório é guardada por um anjo, vigário de S. Pedro. (Mauro, 2007)

CANTO II – RAZÃO DA VIAGEM – BEATRIZ

(7) Musas – a que deseja instruir ou a que fixa o espírito sobre uma idéia ou sobre uma arte (Lasso de la Vega)– As musas são filhas de Zeus e Mnemósina (personificação da memória). Após a derrota dos Titãs, os deuses pediram a Zeus que criasse divindades capazes de cantar condignamente a vitória dos Olímpicos. Zeus partilhou o leito de Mnemósina durante nove noites consecutivas e, no tempo devido, nasceram nove Musas: Calíope, preside à poesia épica; Clio, à história; Érato, à lírica coral; Euterpe, à música; Melpômene, à tragédia; Polímnia, à retórica; Tália, à comédia; Terpsícore, à dança; Urânia, à astronomia.   (Brandão, 2000)

(13) Pai de Sílvio – Enéias é o pai de Sílvio. A lenda diz que, depois da morte dele, Lavinia deu a luz um filho póstumo, chamado Silvio. Dos relatos sobre a aliança de Enéias com o rei Latino, bem como das guerras que ele empreendeu no Lácio, todas as versões apresentam Enéias unido a Lavínia e tendo como filho Sílvio, que mais tarde se tornaria avô de Remo e Rômulo, este último o fundador de Roma. Dizes que o pai de Sílvio, corruptível/ ainda, pôde naquele imortal/ mundo adentrar com seu corpo sensível.– Dante se refere à ida de Enéias ao Averno ou Hades, o Inferno. Enéias, diante da porta dos Infernos e do tenebroso pântano para onde reflui o Aqueronte, pede a profetiza de Cumas que lhe seja lícito ir ver meu pai querido e com ele praticar; ensina-me o caminho e abre-me as portas sagradas.  (Virgílio, 2003, p.150) E ele continua com as suas súplicas até que a sacerdotisa diz: Ó troiano, filho de Anquises, gerado do sangue dos deuses, fácil é a descida para o Averno: noite e dia está aberta a porta do sombrio Dite. Mas retornar sobre seus passos e sair para as brisas do alto, ái está a dificuldade, ai está o trabalho!  (p.151) Mas se ele tinha tão grande desejo, para concretizá-lo ele deveria: a) destacar com a mão (se o rito não for obedecido, não há força com a qual ele pudesse arrancar; se o ramo sair facilmente é porque os destinos estão chamando ele) ramo de ouro de árvore opaca (que produzirá outra rama, igualmente de ouro) para presentear a bela Prosérpina (esposa de Hades); b) enterrar o corpo do amigo que jaz morto (que ele ainda não sabia), pois o cadáver insepulto manchava toda a frota.E que ele conduzisse ao altar ovelhas negras; a sua primeira expiação. Somente após isso, ele poderia ver os bosques sagrados do Estige e o reino que não tem caminho para os vivos. Sobre a sua missão a sacerdotisa havia dito: Ó tu, finalmente livre dos perigos do mar! Mas a terra te reserva outros ainda mais penosos!Os dardânidas chegarão ao reino de Lavínio: bane este cuidado do teu coração; mas eles desejariam não ter vindo! Vejo guerras, guerras horríveis e o Tibre coberto de sanguinolenta espuma. Nem o Símois nem o Xanto nem os campos dórios te faltarão: outro Aquiles já foi gerado para o Lácio, nascido, ele também, de uma deusa, e Juno, encarniçada contra os teucros, jamais lhes dará trégua. Tu então, em circunstâncias difíceis, a que povos da Italia ou a que cidades não implorarás auxílio? A causa de tão grande desgraça para os teucros será ainda uma esposa estrangeira, e ainda com himeneu estrangeiro. Tu, porém,  não cedas à adversidade, mas afronta-a com mais audácia que a tua fortuna te permitir.(149/150)

(16 a 27) – Se pensarmos que Enéias não poderia, sem o consenso do Céu, realizar essa viagem ao Inferno, preparatória do seu sucesso, devemos admitir a intenção divina de elege-lo para precursor dos fundadores de Roma, futura sede do Império e depois do Papado. (Mauro, 2007)

(22 a 32) – São Pedro e São Paulo, embora não tenham sido os primeiros a trazer a fé a Roma, foram realmente os fundadores da Roma cristã: antigo hino litúrgico definia-os como pais de Roma; hinos do novo breviário fala de Roma que foi “fundada em tal sangue”. A palavra e o sangue foram as sementes com que os Apóstolos Pedro e Paulo geraram a Roma cristã, a Igreja.

(52 a 72) – Virgílio foi procurado por Beatriz no Limbo, onde estão os espíritos dos que viveram antes de Cristo, “sustados” seja de pena como de acolhimento no Céu, por não terem recebido o batismo. (Mauro, 2007) Na Vida Nova Dante fala de seu amor platônico por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari), que encontrara pela primeira vez quando ambos tinham 9 anos e que só voltaria a ver 9 anos mais tarde, em 1283. Nos tempos de Dante, o casamento era motivado principalmente por alianças políticas entre famílias. Desde os 12 anos, Dante já sabia que deveria se casar com uma moça da família Donati. A própria Beatriz, casou-se em 1287 com o banqueiro Simone dei Bardi e isto, aparentemente, não mudou a forma como Dante encarava o seu amor por ela. Provavelmente em 1285, Dante casou-se com Gemma Donati com quem teve pelo menos três filhos. Uma filha de Dante tornou-se freira e assumiu o nome de Beatrice. Em 1290, Beatriz morreu repentinamente deixando Dante inconsolável. O acontecimento teria provocado mudança radical na sua vida, levando-o a iniciar estudos intensivos das obras filosóficas de Aristóteles e a dedicar-se à arte poética. Na obra La Vita Nuova, seu primeiro trabalho literário de importância, iniciado pouco depois da morte de Beatriz, Dante narra a história do seu amor por Beatriz na forma de sonetos e canções, complementando-a com comentários em prosa.

(85 a 124) – À pergunta de Dante se não temia “desceres neste fundo centro”, Beatriz responde que tem o apoio da Virgem Maria “Mulher gentil há no céu que se inquieta”, e acrescenta que “a Luzia (Dante era devoto de Santa Luzia, que recorreu a ela devido problemas na vista) , adversa a tudo que é cruel, logo se moveu vindo procurar-me onde eu sentava co´a antiga Raquel (“ linda” sinônimo de máxima beleza, descrita amorosamente como “bonita de forma e bonita de aparência” .Nos dias de hoje, Raquel na verdade quer dizer “Rosa Amorosa”): “Beatriz, glória de Deus, disse, ‘salvar quem mais te amou não vais, na desventura? Que tu elevaste da turba vulgar?” …  E .conclui mais adiante: “ Então quê há? Por que estás reticente? Por que no peito tal tibiez reténs? Por que não és audaz e persistente? Se três mulheres lá, benditas, tens para te cuidar na corte celestial e o meu dizer te augura tantos bens?

(94-96) – A Virgem, sabendo da desdita de Dante, moderou para seu caso a severidade do julgamento divino e promoveu o seu salvamento. (Mauro, 2007)

II – TRAVESSIA DO LIMIAR – SEPARAÇÃO DO MUNDO – INDECISÃO, COVARDIA, AUSÊNCIA DE OPÇÃO PELO BEM E PELO MAL-

* Canto III — A porta do Inferno – Vestíbulo – Rio Aqueronte – Caronte
* Canto IV — Limbo – Círculo 1 – Castelo dos Iluminados
CANTO III – A PORTA DO INFERNO,VESTÍBULO, RIO AQUERONTE, CARONTE

Dante e Virgílio no Portal do Inferno
Ilustração: William  Blake (Século XVIII)

 

 

 

 

(5 e 6) É a divina Trindade, nesta sequência: Pai, Filho e Espírito Santo. (Mauro, 2007) DIVINA POTESTADE (DEUS), MAIS O SUPREMO SABER

(O FILHO) E O PRIMO AMOR (ESPÍRITO SANTO).

(9 a17) DEIXAI TODA ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS…   O Portal do Inferno não tem portas ou cadeados, apenas aviso abre a entrada que

adverte: uma vez dentro, deve-se abandonar toda a esperança de rever o céu pois de lá não se pode voltar. As almas entram porque querem. “No poema, o inferno está repleto das almas daqueles que morreram com a determinação de entrar naquele portal; na alegoria, essas almas são a imagem do pecado na pessoa ou na sociedade.” (Rocha, citação de Sayers)  A alma só tem poder de escolha enquanto viva, porque ela pode decidir pelo céu ou pelo inferno. Depois de morta, perde a capacidade de raciocinar e tomar decisões. Dante não deve temer, diz Virgílio, porque ele ainda está vivo e ainda tem poder de arbítrio. O personagem Dante cruza o portal do inferno na noite de sexta-feira da paixão, pois no início do Canto II, quando Dante escapa das feras, já anoitece. (Rocha)

(18) Os pecadores praticaram o Mal por terem perdido o Bem do intelecto que, segundo Aristóteles, é o guia para a escolha da Virtude. (Mauro, 2007)

(21) O umbral, ou ante-inferno, é chamado também de vestíbulo. Serve como destino para as almas que não podem ir para o céu nem para o inferno. “Sendo o céu e inferno estados onde uma escolha é permanentemente recompensada (de forma positiva ou negativa), deve também existir um estado onde a negação da escolha seja recompensada, uma vez que recusar a escolha é escolher a indecisão.” (Rocha, citação de Sayers)  O ante-inferno é, portanto, a morada dos indecisos e covardes que passaram a vida “em cima do muro”. Nunca quiseram assumir compromissos, tomar decisões firmes ou fazer qualquer coisa definitiva por achar que assim perderiam alguma coisa. A sua neutralidade e falta de ação é retribuída na forma de um contrapasso[3] e agora são obrigados a correr atrás de uma bandeira que não vai a lugar algum.

(58 a 60) Dante se refere ao papa Celestino V, inepto e de frouxo caráter, que abdicou após poucos meses de exercício e foi sucedido por Bonifácio VIII, inimigo dele. (Mauro, 2007)

(61 a 63) Os ignavos são desprezados por Deus e pelo seu inimigo Satanás. (2007)

(76 a 78) O Rio Aqueronte (Acheron), primeiro rio do Inferno. Assim como os outros rios do mundo subterrâneo, este também não foi inventado por Dante. Citado nas obras clássicas de mitologia como a Eneida – Daqui começa o caminho que conduz às ondas do Aqueronte do Tártaro: é um golfo que borbulha, vasto abismo de lodo que referve… (Virgílio, 2000, p.156) e a Odisséia de Homero.

(88 a 93) O outro porto é aquele onde um anjo leva as almas que têm esperança para o purgatório. Caronte reconhece que Dante não é uma das almas condenadas e então diz a ele que o caminho dele é outro.(Rocha)

(94 a96) Caronte (Charon) é o clássico barqueiro dos mortos na mitologia grega. Transportava almas cujos corpos houvessem recebido sepultura, para além dos rios do Hades, mediante o pagamento de um óbolo. Parece que ele apenas dirige a barca, mas não rema, sendo isso tarefa das próprias almas que estão sendo transportadas. Representado como um velho feio, magro, vigoroso, barba hirsuta e grisalha, coberto com um manto sujo e roto, chapéu redondo. (Brandão, 2000)

CANTO IV – LIMBO – CÍRCULO I – CASTELO DOS ILUMINADOS
AUSÊNCIA DE PECADO (DESCONHECIMENTO DA VERDADE) – AUSENCIA DE BATISMO

(31,34,37,40 ) LIMBO é o local onde as almas que não puderam escolher Cristo, mas escolheram a virtude, vivem a vida que imaginaram ter após a morte. Não têm a esperança de ir ao céu pois não tiveram féem Cristo. Aquificam os não batizados e aqueles que nasceram antes de Cristo, como Virgílio. Na mitologia clássica, o Limbo não fica no inferno, mas suspenso entre o céu e o mundo dos mortos. Na poesia de Dante não se tem uma noção precisa de como se chega lá, pois o poeta desmaia no ante inferno e quando acorda já está no Limbo. (Rocha)

(49,52,55,58,61) Cristo ao ressuscitar esteve no Inferno para buscar e levar consigo para o Céu as almas de diversos personagens bíblicos e de grandes nomes da Antiguidade pagã.(Mauro, 2007) Personagens do Velho Testamento que, segundo Dante, foram levados para o Céu quando Cristo desceu ao Inferno após a crucificação: Adão, Noé, Moisés, Abraão, David, Israel, Raquel e Abel.

(88 a 90) Homero (século IX ou VI a.C.), poeta grego a quem tradicionalmente se atribui a autoria dos poemas épicos Ilíada, que narra a queda de Tróia, e Odisséia, que narra o retorno de Ulisses da guerra de Tróia e suas viagens. Horácio (65 a.C-8 d.C.), poeta romano lírico e satírico, autor de várias obras primas da língua latina, entre as quais Ars Poetica. Ovídio (43 a.C-17 d.C.), o mais popular dos poetas romanos. Autor de várias obras, entre as quais obras de mitologia como Metamorfoses.  Lucano (39-65) poeta romano nascido em Córdoba forçado a cometer suicídio por Nero. Autor de Farsália.

(121 a142) Electra – Existem três personagens míticas com este nome. Acredita-se que Dante esteja se referindo ao que Junito Brandão chama de versão “italiota” do mito. No verso ele diz ter visto Electra com muitos companheiros, entre eles Enéias, Heitor reconheci. Segundo a versão, Electra aparece como esposa do rei etrusco Córito, com quem teria tido Dárdano e Iásion. Zeus amava Electra e tentou violentá-la. A filha de Atlas se refugiou junto ao Paládio, inutilmente, porque o deus em seu furor eroticus, lançou a estátua do alto do Olimpo. O precioso talismã caiu em Tróia e era conservado no templo. Outras versões dizem que a heroína trouxe o Paládio e deu ao filho Dárdano como protetor de Ílion. (Brandão, 2000) Enéias, ver Canto II. Heitor – príncipe de Tróia, o mais valente dos guerreiros troianos, segundo a Ilíada de Homero, onde ele é citado trezentos e cinqüenta e cinco vezes. Filho primogênito de Príamo e Hécuba, reis de Tróia. Ele governava a polis, enquanto Príamo presidia o conselho dos anciãos, apesar de ser o soberano. Nenhum sinal de despotismo consta nas versões míticas conhecidas, apenas a conduta viril, destemida, equilibrada e terna, modelo de coragem, mas igualmente de pai e esposo. Idolatrado pelo povo, amigos e inimigos que reconheciam nele a grande força de Ílion. Morto cruelmente por Aquiles para vingar a morte de seu melhor amigo, morto na guerra pelo troiano. (Brandão, 2000) César – Caio Júlio César (em latim Gaius Julius Caesar), líder militar e político da República romana. As suas conquistas na Gália estenderam o domínio romano até o oceano Atlântico: um feito de conseqüências dramáticas para a história da Europa. O seu assassinato (44 a.C) por um grupo de senadores, abriu caminho a uma instabilidade política que viria a atingir o seu ápice com o fim da República e início do Império Romano. Os feitos militares de César são conhecidos através do seu próprio punho e de relatos de autores como Suetónio e Plutarco. Camila, Latino e Lavínia, ver Canto II. Pentesiléia, rainha das Amazonas, morta na guerra de Tróia. (Mauro, 2007). Após a morte de Heitor, ela seguiu para Ílion para lutar ao lado dos troianos contra os aqueus. Segunda uma tradição, a presença da temível guerreira em Tróia se deveu a exílio obrigatório, em função de um homicídio involuntário. Destemida, arrojada, guerreou com muita bravura até ser atingida no seio direito por Aquiles. Ela ficou tão bela morta que Aquiles se comoveu até as lágrimas. (Brandão, 2000) Brutus (Decimus Junius Brutus Albinus), general e político romano que conquistou a proximidade de Júlio César. Mais tarde, foi um dos conspiradores para o seu assassinato. Tarquínio, segundo a lenda, era muito odiado entre os romanos,  ainda copiado pelo filho, Sexto Tarquínio, que se apaixonou pela bela e casta Lucrécia, filha de um influente aristocrata e já casada com um notável patrício, obrigando-a ao adultério. Lucrecia, em resposta, suicidou-se, levando seus familiares e, em seguida, a população de Roma, depois de se inteirarem dos fatos, à rebelião, destronando Tarquínio e instalando a República.(Wikipédia) Junius Brutus, desapossou Tarquínio, o Soberbo, último dos sete reis de Roma. (Mauro, 2007). Julia, filha de Júlio César e esposa de Pompeu. Márcia, segunda esposa de Cato de Utica. Cornélia, mãe dos tribunos Tibério e Caio. (Wikipédia) Saladino, sultão do Egito no século II d.C. Aristóteles, o imortal mestre de todo homem de saber sentado em reunião filosofal. (Mauro, 2007) Ele nasceu em Estagira, de cultura grega, mas submetida pela Macedônia. O seu pai era médico oficial na corte. Órfão cedo, foi educado por um tutor, Proxeno de Atarneus. Muito jovem ele vai para Atenas e ingressa na Academia, onde permanece por duas décadas, inicialmente como aluno, depois como professor de retórica. Platão o chamava de “o leitor”, o aplicado. Responsável durante dois anos pela educação de Alexandre Magno, voltou depois a Atenas onde fundou escola no leste da cidade, lado oposto da Academia, que prosperou durante treze anos. Os textos de Retórica por si só lhe garantiriam a imortalidade, mas ainda se somam a eles, os tratados de física, os estudos psicologia, os estudos biológicos. (História Universal, 2005) Sócrates (470–399 a.C. ) filósofo ateniense, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental, e um dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são Platão, Xenofonte e Aristóteles (Alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria). A ausência de escritos seus levou a que ensinamentos seus apareçam com valor diverso nos escritos dos seus apologistas: Platão e Xenofantes.Sócrates demonstrava profundo desprezo pela retórica, muito em voga na Atenas da época. Sua escola era a vida, seus mestres, as pessoas que encontrava pelas ruas. (2005) Platão (428/27–347 a.C.), filósofo grego, discípulo de Sócrates, desde os vinte anos, permanecendo fiel até a morte do mestre. Fundador da Academia de Atenas, ele foi mestre de Aristóteles. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento. Ele foi o primeiro filósofo grego a colocar explicitamente o problema da estrutura essencial do homem e o sentido de sua existencia. Nasceu em Atenas, de família aristocrática. (2005). Demócrito, Demócrito de Abdera, (cerca de 460 a.C. – 370 a.C.)  tradicionalmente considerado filósofo pré-socrático. Cronologicamente é um erro, já que foi contemporâneo de Sócrates. Do ponto de vista doutrinário, contudo, faz algum sentido considerá-lo pré-socrático, pois seu pensamento ainda é fortemente influenciado pela problemática da physis. Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. A fama de Demócrito decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. Entretanto, não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo, e a ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por outro. Ambos são defensores do sistema atomista. (2005) Anaxágoras, Anaxágoras de Clazômenas, filósofo grego do período pré-socrático, seguidor da escola jónica, cuja maior preocupação era descobrir as propriedades da matéria, a razão da sua existência, o porquê de os corpos se manterem unidos e de a matéria orgânica crescer e mudar a sua natureza. Na verdade, Anaxágoras antecipou-se um século a Aristóteles, com a sua preocupação em entender as forças naturais, a preferência pelas ciências físicas. contribuindo para a expansão do pensamento filosófico e científico que era desenvolvido nas cidades gregas da Ásia. Protegido de Péricles que também era seu discípulo, mas que não pôde fazer nada por ele quando foi acusado de impiedade. Partiu para Lâmpsaco, uma colônia de Mileto, também na Jônia, e lá fundou uma nova escola. (História Universal, 2005) Tales de Mileto (625-546 a.C.), o primeiro filósofo da Grécia foi Tales, de Mileto, colônia dos jonios na Ásia. Pai da filosofia ocidental, do pensamento científico, considerado um dos sete sábios da Grécia. Ele não se preocupou em procurar um criador para o universo. O seu mérito consiste em ter sido o primeiro a questionar, não qual foi a substância original a partir da qual tudo se formou, mas sim o que é, atualmente, tudo o que é. Para ele todas as respostas estão na água, que forma vapores, que são o ar, as nuvens e o éter ou atmosfera luminosa, e até os astros vapores acesos.  A água forma, também, os corpos sólidos por condensação, e a Terra flutua na água como madeira. (2005) Empédocles, filósofo grego pré-socrático que propôs uma explicação geral do mundo, considerando todas as coisas como resultantes da fusão dos quatro princípios eternos e indestrutíveis: terra, fogo, ar e água. Esses princípios ou elementos são misturados ou separados pela ação do amor ou a amizade (philía) ou pelo ódio (neikos), que atuam alternadamente. Sua doutrina pode ser vista como uma primeira síntese filosófica. Substitui a busca dos jônicos de um único princípio das coisas pelos quatro elementos, combinando ao mesmo tempo o ser imóvel de Parmênides e o ser em perpétua transformação de Heráclito, salvando ainda a unidade e a pluralidade dos seres particulares. Na cosmologia foi o primeiro pluralista, seguido depois por Anaxágoras. Na política opôs-se à oligarquia, defendendo a democracia. Cedo virou figura legendária: ele mesmo se atribuía poderes mágicos. Conta a lenda que ele teria se suicidado atirando-se na cratera do Etna, para provar que era um deus. Escreveu dois poemas em jönico: Sobre a Natureza e Purificações. Provavelmente morreu no Peloponeso. (2005) Heráclito (540-475 a.C.), filósofo grego que acreditava que o fogo era fonte de toda matéria e que o mundo estava em constante mudança. Chamado o “obscuro”. Foi fundador da metafísica. Ele considera que a natureza e a vida representam um griphos, um enigma. E vê no processo cósmico uma luta eterna de oposições primárias arraigadas na natureza de todas as coisas. (2005) Zenão (séc. 5 a.C.), filósofo e matemático de Eléia, conhecido por seus paradoxos matemáticos. Ele combate os adversários à filosofia de Parmênides (seu mestre) com “aporias”, isto é, parte dos seus pressupostos, mas retira deles consequências que se excluem e contradizem. Apresenta a aporia como um enigma. (2005) Dioscóride, médico grego do século I d.C., estudou as qualidades de plantas medicinais. (Mauro, 2007) Diógenes, filho de um banqueiro de Sínope, (413 a.C), que o obrigou a ajudá-lo no fabrico de moedas falsas. Descoberta a fraude, ele ainda rapaz, fugiu para Atenas. Lá ele ouviu Antístenes, discípulo de Sócrates,  e iniciou severas críticas às instituiçõers sociais. Ele escreveu várias obras, provavelmente em forma de aforismos, que se perderam. Diogenes viverá eternamente por causa de algumas anedotas. Dormia dentro de um barril, como se fosse um cão; andava pela cidade com um lanterna à procura de um homem (alguém que fosse um verdadeiro homem); tivera uma tigela para beber água e jogou-a fora porque vira alguém bebendo com a mão; e muitas outras. Como filósofo foi o maior representante do Cinismo, escola filosófica fundada por Antístenes. Ele levou ao extremo os preceitos cínicos de seu mestre Antístenes. A felicidade – entendida como autodomínio e liberdade – era a verdadeira realização de uma vida. Sua filosofia combatia o prazer, o desejo e a luxúria pois isto impedia a auto-suficiência. A virtude, como em Aristóteles, deveria ser praticada e isto era mais importante que teorias sobre a virtude.Diógenes é tido como o primeiro homem a afirmar, “Sou uma criatura do mundo (cosmos), e não de um estado ou uma cidade (polis) particular”, manifestando assim um cosmopolitismo relativamente raro em seu tempo. (História Universal, 2005) Diógenes parece ter escrito tragédias ilustrativas da condição humana e também uma República que teria influenciado Zenão de Cítio, fundador do estoicismo. De fato, a influência cínica sobre o estoicismo é bastante saliente. Com efeito, a politeia (a República) escrita por Diógenes, parece apoiar mais tarde a politeia de Zenão (um estóico),porque ataca numerosos valores do mundo grego, preconizando, entre outros, a antropofagia, a liberdade sexual total, a indiferença à sepultura, a igualdade entre homens e mulheres, a negação do sagrado, a supressão das armas e da moeda e o repúdio à arrecadação em prol da cidade e de suas leis. Diógenes de Sínope é considerado precursor do Anarquismo no período clássico. Certos estóicos, próximos da corrente cínica de Diógenes, parecem ter preferido dissimular e esquecer essa herança julgada «embaraçosa». Orfeu, na mitologia grega, poeta e músico. Filho de Calíope (musa da poesia) e do rei Eagro que, por motivos político-religiosos é sempre substituído por Apolo (deus da música). A música de Orfeu era hipnotizante e surtia efeito sobre todas as pessoas, animais e plantas. Ao regressar da expedição dos Argonautas casou com a ninfa Eurídice, a quem amava profundamente, considerando-a como se ela fora a metade de sua alma.. Quando esta foi morta por uma picada de serpente, Orfeu fez uma viagem ao inferno para tentar resgatá-la. Com sua cítara e a sua voz divina, encantou de tal forma o mundo ctônio, que até mesmo a roda de Exíon parou de girar, o rochedo de Sísifo deixou de oscilar, Tântalo esqueceu a fome e a sede e as Danaides descansaram de sua faina eterna de encher tonéis sem fundo. Comovidos com tal prova de amor, Plutão e Perséfone concordaram em devolver-lhe a esposa, com uma condição, a de ele não olhar para trás enquanto o casal não transpusesse os limites do império das sombras. Eles estavam já alcançando a luz quando Orfeu temeroso de que Eurídice não estivesse atrás dele, olha para trás e ela se esvai para sempre, “morrendo pela segunda vez”. Tentou regressar, mas o barqueiro Caronte não mais o permitiu. (Brandão, 2000) Sêneca, Lucius Annaeus Seneca, filho de um grande orador, Annaeus Seneca, o Velho, educado em Roma, onde estudou retórica e filosofia. Tornou-se famoso como advogado. Membro do senado romano e depois nomeado magistrado da justiça criminal. Sêneca despertou a inveja do imperador Calígula, que tentou assassiná-lo. Em 41 d.C., envolveu-se num processo por suas relações com Julia Livila, sobrinha do imperador Cláudio. Acusado de adultério foi exilado e partiu para a Córsega, onde viveu até 49 d.C. Durante esse período, escreveu suas famosas “consolações”, textos dirigidos a um interlocutor com o propósito de confortar. Na Consolação a Márcia, dirige-se a uma mulher que acabou de perder um filho, tecendo considerações sobre a inconstância da sorte e a fragilidade da vida humana. Em Consolação a Hélvia, dirige-se à própria mãe, consolando-a pelo sofrimento de ver seu filho no exílio.Em 49 d.C., Messalina foi condenada à morte e o imperador Cláudio casou-se com Agripina, que convidou Sêneca para assumir a educação de seu filho Nero que tornou-se imperador em 54 d.C. e Sêneca assumiu as funções de conselheiro até 62 d.C. Em Roma, Sêneca redigiu dois tratados, Sobre a Brevidade da Vida e Sobre o ócio. Afastado da vida pública, sofreu perseguição, acusado de participar da Conspiração de Piso, que teria planejado o assassinato de Nero, sendo condenado ao suicídio.Em 65 d.C., Sêneca cortou os pulsos, na presença de amigos, no que foi seguido por sua esposa, Pompéia Paulina. Euclides, matemático grego (300 a.C.), escreveu cerca de uma dúzia de tratados, cobrindo tópicos desde óptica, astronomia, música e mecânica até um livro sobre secções cônicas,  porém, mais da metade do que ele escreveu se perdeu. Entre as obras que sobreviveram até hoje temos: Os elementos, Os dados, Divisão de figuras, Os fenômenos e Óptica. (Wikipédia). Ptolomeu (100-170), astrônomo e matemático cujas teorias sobre o universo dominaram o pensamento científico até o século XVI. Segundo a teoria de Ptolomeu, a terra é esférica e ocupa o centro do Universo. Em volta da terra giram todos os planetas, sol e lua. No final, gira uma esfera de estrelas fixas. Hipócrates, médico grego (460-377 a.C.), considerado uma das figuras mais importantes da história da saúde, “pai da medicina“. Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde.Nascido numa ilha grega, os dados sobre sua vida são incertos ou pouco confiáveis. Parece certo, contudo, que viajou pela Grécia e que esteve no Oriente Próximo. Nas suas obras há uma série de descrições clínicas pelas quais se pode diagnosticar doenças como a malária, papeira, pneumonia e tuberculose. Para o estudioso grego, muitas epidemias relacionavam-se com fatores climáticos, raciais, dietéticos e do meio onde as pessoas viviam. Muitos de seus comentários nos Aforismos são ainda hoje válidos. Seus escritos sobre anatomia contém descrições claras tanto sobre instrumentos de dissecação quanto sobre procedimentos práticos. Avicena, filósofo e médico árabe (980-1037 d.C.), filho de um homem de negócios, com extraordinária precocidade se distinguiu no domínio das ciências antes de completar os 16 anos, exercendo a prática de medicina. Depois de ter sido jurista, professor e administrador em Rayy e Hamadã, na Pérsia, foi nomeado vizir de Shams al-Dawla. Amante do estudo e de mulheres, dissertou sobre saúde e fortuna, morrendo de doença misteriosa, aparentemente uma cólica mal-tratada ou talvez envenenamento, em Hamadã. Sua cultura foi enciclopédica. Suas obras sobre medicina ainda eram reimpressas no século XVII. Além de gramática, geometria, física, jurisprudência e teologia, estudou profundamente a filosofia platônica e aristotélica. Uma das suas principais descobertas foi a capilaridade, sendo que a teoria desenvolvida por ele possibilitou a movimentação de fluidos sem a necessidade de impulsão mecânica, facilitando a hidráulica e trazendo benefícios perceptíveis até hoje (a destilação de substâncias químicas, por exemplo).Galeno, médico grego conhecido mundialmente (130-200 d.C.). Cláudio Galeno, em latim Claudius Galenus,  iniciou seus estudos em filosofia e medicina por volta de 146 em Pérgamo, sua cidade natal. Após dois anos, achou que nada mais tinha a aprender e partiu para outros centros como Esmirna, Corinto e Alexandria a fim de se aperfeiçoar. Voltou para Pérgamo em 157, julgando terminada sua instrução. Passou, então, a ocupar o cargo de médico da escola de gladiadores, especializando-se em cirurgia e dietética.Sendo Roma o centro do mundo àquela época, Galeno partiu para lá em 162. Galeno, que já havia ganho fama ao curar um milionário de nome Eudemo, torna-se ainda mais famoso. Tão famoso que se tornou médico particular do imperador romano Marco Aurélio. Suas conferências sobre medicina e higiene eram tão concorridas que Galeno as apresentava em um teatro. As aulas práticas que conduzia contemplavam vivissecção e necropsia. Permaneceu em Roma até 192, se afastando da cidade apenas por um curto período em que esteve no Oriente Médio. Ao fim da vida, retornou para Pérgamo. A maioria de suas obras e seus estudos se perderam. Sabe-se, contudo, que Galeno investigou anatomia, fisiologia, patologia, sintomatologia e terapêutica. Foi o mais destacado médico de seu tempo e o primeiro que conduziu pesquisas fisiológicas.Por volta de 170, Galeno realizou uma experiência que iria mudar o curso da medicina: demonstrou pela primeira vez que as artérias conduzem sangue e não ar, como até então se acreditava. No campo da anatomia, Galeno distinguiu os ossos com e sem cavidade medular. Descreveu a caixa craniana e o sistema muscular. Pesquisou os nervos do crânio e reconheceu os raquidianos, os cervicais, os recorrentes e uma parte do sistema simpático. Galeno também foi o primeiro a demonstrar (baseado em experiências) que o rim é um órgão excretor de urina. Farmacologia também interessava Galeno. Averróis (1126-1198 d.C.) – estudioso árabe conhecido como comentarista de Aristóteles que serviu de base para o trabalho de Tomás de Aquino. Aliás, o próprio Aristóteles foi redescoberto na Europa graças aos árabes e os comentários de Averróis muito contribuíram para a recepção do pensamento aristotélico. Averróis também se ocupou com astronomia e direito canônico mulçumano. Membro de uma família de juristas, estudou Medicina e Filosofia. (Wikipédia)

VIAGEM ÀS TREVAS
PECADOS DO LEOPARDO
INCONTINÊNCIA
Luxúria, Gula, Avareza e Ira, Rancor

CANTO V – CÍRCULO 2 – LUXÚRIA
MINÓS – ESPÍRITO DE PAOLO E FRANCESCA

Virgílio e Dante observam almas condenadas pela Luxúria sendo carregadas pelo vento
Ilustração de Gustave Doré (Século XIX)

Nos círculos da incontinência (círculos2 a 5) moram os que pecaram por não conseguir controlar os próprios impulsos, sejam impulsos relativos à luxúria, avareza, gula, ira ou rancor. No círculo dois estão os punidos pelo pecado da luxúria. Dante considera a luxúria como o menor dos pecados que levam ao inferno, daí ele ter escolhido para eles o primeiro círculo, aquele que está mais próximo da saída. A sua compaixão para com esses pecadores também é demonstrada pela profunda emoção que ele sente ao ouvir a história dos amantes Francesca e Paolo, chegando ao desmaio. A ventania é o contrapasso do pecado. Em vida, os amantes eram levados por suas paixões, que os arrastavam como o vento que agora os arrasta no inferno.

(4 a 12) Minós, filho de Zeus e de Europa, na mitologia grega, rei da ilha de Creta. Ele não assumiu pacificamente o trono, tendo que disputá-lo com os seus irmãos Sarpédon e Ramanto.Durante a confrontação disse que o trono era seu por direito e por vontade dos deuses e, para provar a sua importância perante a divindade, pediu a Posseidon que fizesse sair um touro do mar, comprometendo-se a imolar o animalem seguida. O grande deus atendeu o seu pedido, o que valeu o poder supremo para Minós, sem mais contestação dos irmãos. Ele, porém, não cumpriu a sua parte no acordo, mantendo o touro, ao invés de sacrificá-lo, para conservar-lhe a raça, mandando-o para junto do seu rebanho. Irritado, Posseidon enfureceu o touro, mas não parou por aí a sua vingança. Ele fez a esposa de Minós se apaixonar pelo touro e com ele ter um filho, que foi o Minotauro (ver Canto XII).Minós também ficou conhecido como o civilizador dos cretenses, por ter reinado com brandura e equidade através de leis notáveis que todos achavam serem inspiradas diretamente por Zeus. A legislação minóica é, por vezes, atribuída a seu irmão Radamanto, que teria sido expulso de Creta por ciúmes. Os dois, contudo, foram promovidos juntamente com Éaco à categoria de juízes dos mortos. (Brandão, 2000) .No inferno de Dante, Minós ouve as confissões dos mortos (que sempre dizem a verdade, pois não têm mais o dom do intelecto) e os designa a um círculo e subcírculo específico de acordo com a falta mais grave relatada. (Rocha)

(37 a 39) Os luxuriosos: Dante classifica o pecado da luxúria como o menos grave de todos, colocando-o no círculo mais externo.(Rocha)

(58) Semiramis – Diodoro Sículo (séc.Ia.C) relata de forma romântica o mito da bela rainha da Babilônia. Filha de Dérceto, deusa que vivia num lago de Áscalon, na Síria, de rosto muito belo e corpo de serpente¸ e de um jovem sírio chamado Caístro, por quem Afrodite (que não a apreciava) a fez se apaixonar. Desse amor nasceu uma menina A mãe, envergonhada, a abandonou exposta, matou o amante e escondeu-se no lago. Pombas salvaram a menina alimentando-a com leite e queijo furtados na vizinhança. Pastores encontraram-na, extasiados diante de sua extraordinária beleza, entregaram-na a seu chefe que a fez chamar-se Semíramis, que significa “amada ou amante das pombas”. Ones, conselheiro real, casou-se com elaem Nìnive. Ela era possuidora de grande talento e bom senso. Com conselhos e sugestões levou o marido a alcançar êxito em todos os seus empreendimentos. A essa época, o rei da Babilônia, Nino, guerreava contra Bactriana, na Pérsia.  Semíramis, chamada pelo marido, Ones, detectou erros na tática empregada por Nino e tomando sob o seu comando um punhado de soldados destemidos, treinados para lutar em montanhas, atacou os inimigos pela retaguarda, vencendo-os facilmente. Admirado, o rei tentou dar a sua filha em casamento a Ones, em troca de Semíramis, mas ele recusou a proposta, o que levou o rei a ameaça de arrancar-lhe os olhos, levando-o a se enforcar. Nino então se uniu a Semíramis, que dele teve um filho, Nínias. Morto o rei, ela subiu ai trono. Muitas cidades ela construiu ao longo do rio Eufrates e Tigre.  Fundou a cavaleiro do rio Eufrates uma cidade monumental, cujo perímetro era de66 km, com muros de cem metros de altura, o conjunto urbano possuía trezentas torres para a defesa. Em cada extremidade da fortaleza edificou um castelo para a residência da rainha. Na fortaleza ocidental ela mandou erguer os famosos jardins suspensos. (Brandão, 2000)

(61 e 62) – A viúva de Siqueu é Dido, segundo a mitologia grega, filha de Belo, rei de Tiro. Casou com Siqueu, o mais opulento dos fenícios, a quem amava profundamente. Quando Siqueu, seu marido, foi morto pelo novo rei de Tiro, Pigmalião, a Discórdia veio meter-se entre os dois irmãos. Durante muito tempo Pigmalião conseguiu esconder de Dido o assassinato de Siqueu, seu marido, até que ela teve uma visão dele, contando tudo que havia acontecido. Ele pede para ela fugir de lá, e para ajudá-la na viagem, mostra-lhe antigos tesouros enterrados sob a terra. Dido arregimenta para ir com ela pessoas que nutriam ódio ou temor pelo tirano. O acaso ofereceu-lhes navios que estavam preparados, carregaram-nos de ouro e partiram, chegando ao norte da África, e em um local comprado com ouro fundaram a cidade de Cartago.Ainda segundo a Eneida, de Virgílio, o príncipe troiano Enéias naufragou em Cartago depois de fugir de Tróia. Dido recebeu bem os troianos e acabou se envolvendo amorosamente com Enéias, conforme confessou à sua irmã; Ana, confessarei na verdade que, depois do destino infeliz do esposo Siqueu e depois dos Penates manchados com o sangue derramado por um irmão, só este subjugou os meus sentidos e comoveu meu ânimo vacilante: reconheço os vestígios da antiga flama.(Virgílio, 2003, p.91/92) Embora tenha resistido ao amor que alimenta as suas veias, acabou sendo consumida pelo fogo da paixão.Os dois passaram a viver juntos como marido e mulher e Enéias já estava para decidir que permaneceria em Cartago quando Júpiter o lembrou que precisaria deixar a cidade para cumprir sua missão e fundar Roma. Enéias dá ordem para que todos se preparem para a partida, de forma discreta, silenciosa, para que Dido não tomasse conhecimento, mas quem é capaz de esconder algo de um amante? Ela descobriu e ficou enfurecida: Esperaste pois, pérfido, poder dissimular tão grande crime e abandonar minha terra sem me dizer palavra? Nem nosso amor, nem esta mão que outrora te foi dada, nem Dido prestes a morrer com cruel trespasse te puderam reter? (2003, p.100) Enéias, seguindo as instruções de Júpiter, permaneceu irredutível, comprimindo com esforço a perturbação do seu coração. Desesperada por causa da partida do amante, Dido se mata com  trespassada por uma espada dardânia. Na sua visita ao inferno (Hades), Enéias encontrou Dido nos campos das Lágrimas, onde ficam aqueles que um duro amor devorou numa cruel consumação. Sangrando ainda da ferida, ela errava pela grande floresta. Ele diz então: Infortunada Dido! era pois verdade que não vivias mais e que, com o ferro na mão, seguiste o partido extremo! Da tua morte, ai de mim! fui eu a causa. Juro pelas constelações, pelos deuses do alto, e por tudo aquilo que há de sagrado nas profundezas da terra, foi, malgrado meu, ó rainha, que abandonei tuas plagas. Não fiz senão obedecer aos deuses, cujas ordens imperiosas me forçam agora a ir por entre estas sombras, por entre estes lugares cobertos de espantosos espinheiros e esta noite profunda. Não poderia crer que a minha partida te causaria tanta dor… Detém-te! Não fujas aos meus olhares! de quem foges? É a última vez que o destino me permite te falar. (2003, p.161) Mas ela foge, hostil, para a floresta umbrosa onde seu primeiro esposo Siqueu corresponde aos seus cuidados e partilha seu amor. Enéias, ao vê-la afastar-se, fica chorando. (2003)

(63) Cleópatra (69-30 a.C.), rainha do Egito conhecida por seus casos de amor com Júlio César e Marco Antônio.

(64) Helena, esposa do rei de Esparta Menelau, na mitologia grega, a mulher mais bela do mundo, filha Leda e de Tíndaro, seu pai humano,

e de Zeus, pai divino. Helena foi a causa aparente da guerra entre gregos e troianos que durou cerca de vinte anos. O motivo da guerra foi o rapto de Helena por Páris, filho do rei Príamo de Tróia Algumas versões defendem que ela foi levada á força por Páris, por astúcia ou não da deusa Afrodite: outras, a maioria delas, talvez, defendem que a rainha espartana seguiu espontaneamente o príncipe troiano porque se apaixonara por ele.  Na versão mencionada por Dante, Helena é a responsável pela guerra que acabou destruindo Tróia.

(65) Aquiles, o maior dos guerreiros, segundo a mitologia grega. Considerado um dos mitos mais rico, antigo e complexo, só na Ilíada ele é citado duzentas e noventa e duas vezes. Poetas após Homero continuaram a se inspirar no personagem para realizarem as suas construções poéticas. Na versão referida por Dante, Aquiles morre por amor. Ele se refere a versão míticaem que Aquiles se apaixona repentinamente por Polixena, filha do rei Príamo, ao vê-la por ocasião do resgate do corpo de Heitor, o irmão dela que ele matou em luta sangrenta, cruel. A paixão foi tão arrebatadora que ele se propôs a trair os aqueus, se o soberano lhe desse a filhaem casamento. O rei concordou de imediato e eles marcaram encontro no templo de Apolo para os juramentos de praxe. Aquiles compareceu desarmado e Páris, escondido atrás da estátua do deus, o matou. (Brandão, 2000)

(67) Páris – Ele era também chamado de Alexandre. Príncipe de Tróia, filho caçula do rei Príamo e de Hécuba, Ela havia sonhado, no final da gravidez, que dava à luz uma tocha que incendiaria Ílion (Tróia). O rei consultou Ésaco, seu filho bastardo, vidente por inspiração em Apolo, e ele confirmou que a criança seria responsável pela ruína de Tróia. O adivinho sugeriu que ele fosse morto tão logo nascesse, mas Hécuba não teve coragem e entregou-o a um pastor chamado Agesilau para que o expusesse no monte Ida. Assim o pastor o fez. Cinco dias depois ele voltou e encontrou a criança sendo amamentada por uma ursa. Impressionado, recolheu-a e passou a criá-la ou entregou-a aos pastores do Ida, segundo outra versão. Páris cresceu forte e belo, tornando-se pastor destemido, que defendia o rebanho contra ladrões e animais selvagens, recebendo o epíteto de Alexandre, o que significa, protetor dos homens. Por conta de uma competição nos Jogos Fúnebre, em que um touro do seu rebanho foi levado para prêmio ao vencedor dos jogos, Páris decidiu participar para ter de volta o animal, vencendo todas as provas, inclusive competindo com os próprios irmãos, um deles, Deifobo, tentou matá-lo, mas ele refugiou-se no altar de Zeus. Cassandra, a sua irmã que era profetisa, o reconheceu e Príamo, feliz por ter reencontrado o filho, acolheu-o e deu-lhe o lugar a que fazia jus no palácio real. Ainda quando era pastor, Páris havia arbitrado uma disputa entre as deusas Hera, Atena e Afrodite pelo título de quem era a mais bela, escolhendo Afrodite que lhe havia prometido em troca, o amor da mulher mais bela do mundo: Helena, esposa de Menelau, rainha de Esparta. Ele parte em busca da sua prenda, sendo recebido muito bem por Menelau que desconhecia as suas intenções. Como o rei espartano precisou viajar para assistir aos funerais do seu padrasto Catreu, na sua ausência Paris conquistou Helena que, apaixonada, fugiu com ele, levando todos os tesouros que pôde, deixando para trás a sua filha Hermíona. Daí a origem segundo a mitologia grega da guerra entre gregos e troianos, narrada por Homero na Ilíada. (Brandão, 2000) (67)Tristão, na mitologia celta, era filho do rei Rivalino e Brancaflor, que morreu ao ele nascer. Adulto, tornou-se guerreiro destemido, inteligente, habilidoso e passou a servir ao Rei Marcos. Muito confiante em si mesmo, provava a sua lealdade ao soberano e ao povo, pelo seu destemor. Ele foi encarregado pelo tio de lhe trazer em casamento uma linda mulher chamada Isolda. Para isso, Tristão teve que vencer uma luta,  e depois, conforme o combinado, partiu com a prenda para Cornualha, a fim de entregá-la ao tio.. Havia uma poção mágica, providenciada pela mãe de Isolda, que acreditava que através dela a sua filha e o marido iriam se apaixonar e ser felizes e Tristão, por engano, acabou por tomá-la, e os dois caíram de amor um pelo outro. Isolda era esposa do rei, eles passaram a se encontrar às escondidas, com a colaboração da serviçal dela, culpada pelo ocorrido, ela criava oportunidades para o casal adúltero se ver. Mesmo correndo perigo de serem descobertos em emboscadas feitas pelos homens da corte, Tristão e Isolda amaram-se até a morte. (Wikipédia)

(106) Caína, giro do círculo 9 do Inferno onde são punidos os traidores de parentes.(Mauro, 2007)

(79 a 139) Paolo e Francesca, cunhados adúlteros que foram surpreendidos e mortos pelo marido traído em Rimini (onde o rio Pó deságua), nos tempos de Dante (Mauro, 2007) Francesca, de beleza surpreendente, filha de Guido da Polenta, governante de Ravena, casara com Giovani Malatesta, por conveniência política, para selar a paz com a família que o seu pai estava em guerra. Paolo era o irmão mais novo de Giovani. Francesca diz que foram surpreendidos quando liam em Galeoto a lenda onde Lancelot, apaixonado por Guinevere (esposa do Rei Artur), é induzido a beijá-la, ficando eles, Paolo e Francesca tão envolvidos com a história que não resistiram e beijaram-se, também. Giovani Malatesta,  o assassino, por ter matado um parente sem ter lhe dado oportunidade de defesa, foi punido na Caína, onde penam os traidores de parentes. Lancelot e Guinevere são amantes na mitologia celta e britânica. Guinevere, esposa do rei Artur, era apaixonada pelo cavaleiro Lancelot. (Wikipédia)

CANTO VI – CÍRCULO 3 – GULA
CÉRBERO – ESPÍRITO DE CIACCO

Os gulosos, o prazer solitário concedido pela gula é ampliado no inferno onde os gulosos jazem solitários na lama, sem comunicação com seus vizinhos. O contrapasso pelo prazer e o conforto de comer alegremente além dos limites quando vivos, é o desconforto de dolorosa chuva gelada e a presença de Cérbero, que, com seu apetite insaciável, os morde pela eternidade. (Rocha)

As almas que sofrem no Inferno não têm corpos. Elas mantêm a aparência das suas formas corporais. Embora possam ser dilaceradas e sofrer torturas físicas, são apenas fantasmas, sem peso.

(13) Cérbero (Kerberos), na mitologia grega,  cão do Hades, um dos monstros que guarda o império dos mortos. De acordo com Hesíodo, ele possui cinqüenta cabeças e voz de bronze, Na maioria das versões, entretanto, ele é apresentado com três cabeças, cauda de dragão, pescoço e dorso eriçados de serpentes. Ele representa o terror da morte, e simboliza o próprio Hades e o inferno interior de cada um. Cabe ao Cérbero interditar a entrada dos vivos no Inferno, mas acima de tudo, impedir a saída de quem ali entrou. Poucos heróis conseguiram sair de lá, entre eles, Hércules e Orfeu. Um dos doze trabalhos impostos a Hércules foi o de ir ao Hades e trazer de lá Cérbero, sem o uso de armas. Numa luta corpo a corpo Hércules conseguiu vencê-lo, levando-o meio sufocado para Euristeu que, apavorado, ordenou devolvê-lo ao Hades. Orfeu, com o som irresistível de sua lira mágica, fez  ele adormecer por instantes. (Brandão, 2000) Na mitologia romana, Enéias e Psique também enganaram Cérbero com pão de mel. Segundo a alegoria do inferno de Dante, ele tem três goelas, e representa o apetite descontrolado (Rocha).

(52) Ciacco,  segundo Boccaccio, é o apelido de um nobre florentino conhecido pela gula. [Rocha, citando Sayers]. Ciacco também quer dizer “porco” e é “corruptela de Giacomo” (Mauro, 2007)

(64) As previsões de Ciacco referem-se à luta entre as duas facções em que se dividiu o partido dos guelfos, obrigando Dante a exilar os líderes da revolta (guelfos negros). Ciacco prevê  que alguém (o papa Bonifácio) apoiará os Neri e estes retomarão o poder, banindo de vez os Bianchi de Florença.

(65) A selvagem laia é a dos “brancos”, facção dos guelfos.(Mauro,2007) Florença, na época de Dante, dividia-se entre gibelinos e guelfos. Os guelfos contrapunham-se às pretensões imperiais, dividindo-se em negros (NERI), alinhados ao papa, e brancos (BIANCHI), defensores da autonomia das comunas, apoiando a Igreja circunstancialmente e de modo estratégico.  Representavam a classe média. Em Romeu e Julieta (obra de Shakespeare), os Capuletto eram uma família guelfa.Dante pertencia ao grupo dos guelfos brancos, razão do seu conflito com os negros, exílio e posterior aproximação dos gibelinos. Guibelinos, partidários do imperador. Representavam a nobreza. Em Romeu e Julieta (obra de Shakespeare), os Montecchio eram guibelinos. (Rocha)

(68)… a outra  – é a facção dos negros. (Mauro,2007)

(69) Ele se refere ao apoio do papa Bonifácio VIII, que fingia neutralidade.(2007) O papa Bonifácio VIII fingiu neutralidade durante a divisão dos guelfos mas depois traiu a confiança dos líderes de Florença ao apoiar o golpe dos Neri. (Rocha)

(73) Não identificados os dois justos, talvez um deles fosse o próprio Dante.(Mauro,2007)

(79) Farinata degli Uberti, importante líder guibelino. Participou da sangrenta batalha de Montaperti, onde guibelinos massacraram guelfos (partido da família de Dante) e retomaram o poder em Florença. Levantou-se, depois, contra a maioria dos aliados quando eles propuseram destruir a cidade, após a retomada da cidade. O discurso de Farinata convenceu os guibelinos que desistiram do projeto. Apesar de ter pontos de vista diferentes dos de Dante, este o respeitava por suas atitudes apartidárias em favor da população de Florença. A Batalha de Montaperti (monte da morte): Uma das mais sangrentas batalhas da história ocorreu quando o exército de Siena – cidade governada pelos guibelinos, enfrentou o exército de Florença – governada pelos guelfos. Do lado de Siena estava o guibelino florentino Farinata degli Uberti que estava exilado e pretendia recuperar o poder em Florença. A batalha durou do amanhecer ao por do sol do dia 4 de setembro de 1260. O exército guelfo, embora mais numeroso que o dos guibelinos, estes eram mais agressivos. Momento decisivo da luta ocorreu quando o guelfo florentino Bocca degli Abati traiu o próprio exército e junto com os aliados, que esperavam o momento certo para atacar, voltaram-se contra os guelfos e deram uma vitória fácil aos guibelinos. Mas os guibelinos não ficaram satisfeitos. Foram atrás dos guelfos em fuga e os mataram cruelmente, mesmo os que já haviam se rendido. O resultado foi um saldo de mais de 10 mil mortos que banhou o rio Arbia de sangue. Tegghiaio Aldobrandi, distinto cidadão de Florença que assumiu posição contrária ao conselho da cidade quando este decidiu declarar guerra a Siena, o que resultou na sangrenta batalha de Montaperti, na qual os florentinos foram derrotados.Jacopo Rusticucci, nobre florentino muito rico,  cuja desgraça foi casar com uma mulher de caráter insuportável,  causa do seu desvio. Mosca dei Lamberti, nobre florentino, responsável pelo conflito entre as famílias Buondelmonti e Amadei, que culminou com Florença dividindo-se entre guelfos e guibelinos. Buondelmonte dei Buondelmonti, que estava prometido em casamento a uma moça da família Amadei, trocou-a por outra da família Donati. Parentes procuravam a melhor maneira de reparar o dano, quando Mosca disse “o que está feito, está feito”, anunciando que Buondelmonte já havia sido assassinado. A partir daquele dia, Florença foi palco constante de disputas entre as facções rivais. (Rocha, citando Longfellow,  Mauro e Sayers)

CANTO VII – CÍRCULO 4: AVAREZA E GASTANÇA OSTENSIVA – PLUTO CÍRCULO 5: IRA – RIO ESTIGE

(1)“Pape Satan, pape Satan aleppe” Não há uma interpretação válida dessa fala de Pluto (Mauro,2007)

(2) Pluto (Plutão, Plutus), segundo o Catálogo dos Heróis de Hesíodo, nasceu em Creta, filho de Iásion e Deméter, “a terra cultivada e fecunda”. Ele fazia parte do séqüito de Deméter e Perséfone, sob a forma de um jovem ou de um menino robusto, carregando sempre uma cornucópia. Depois, tornou-se o deus da riqueza, sendo objeto, com o título de Pluto, de uma peça de Aristófanes, a última dele, talvez. Concebido como cego por favorecer, indiscriminadamente, os bons e os maus, os justos e os injustos. Para Aristófanes, Zeus o cegou para impedi-lo de atender apenas aos bons e forçá-lo a socorrer igualmente os maus. Estreita relação sempre houve entre os cultos agrários e a religião dos mortos, por isso, o rico em trigo (Pluto) acabou por confundir-se com outro rico, o rico em hóspedes que se comprimem no Hades. Assim, o rico em trigo, deus da riqueza, com uma desinência inédita segundo Junito Brandão, se transmudou, sob o vocábulo Plutão, num duplo eufemístico e cultural de Hades, que designa tanto o seu reino dos mortos quanto seu rei, Plutão. (Brandão, 2000)

(10) (11) No céu, onde São Miguel vingou a rebelião de Lúcifer. (Mauro,2007)

(22) Estreito de Messina, entre os escolhos de Scilla e Caríbdis, cria-se uma voragem perigosa para a navegação, famosa desde os tempos clássicos.(2007)

(58) Para os avaros e pródigos  o contrapasso é completar o giro da roda da fortuna que eles ajudaram a desequilibrar quando viviam. Suas riquezas materiais resultaram em grandes pesos que um grupo deve empurrar contra o outro, pois suas atitudes em relação à riqueza foram opostas. (Rocha, citando Musa)

(61) (62) A avareza, segundo descrição de Santo Agostinho, é a tendência em acumular e valorizar excessivamente coisas materiais. Outros a definem como a posse individual de coisas que a pessoa não precisa, ou que não precisaria ter só para si. Nesses termos, a avareza não se refere apenas a dinheiro ou bens, mas também ao conhecimento e à glória. (Rocha, citando Longfellow)

(67) (68) A roda da Fortuna : “O tema da Fortuna não era novo. Os pagãos chegaram a endeusá-la e a dedicar-lhe templos. Ela distribui os bens da terra rotativamente por não poderem pertencer todos a todos ao mesmo tempo. Dela dependem o alternar-se de miséria e riqueza, de bem-estar e de penúria por que passam os indivíduos e as nações. É, em outros termos, a Divina Providência que os pagãos chamam de Fortuna. A sua existência explicaria assim o estado de miséria em que vivem freqüentemente os sábios e os bons, destituídos de bens materiais, mas ricos, em compensação, dos tesouros da sabedoria e da virtude.” (Rocha, citando Viglio)

(106) O Rio Estige (Styx) é um dos rios do Inferno clássico. Os outros são o Aqueronte, o Flegetonte, o Letes e o Cócito. O Estige é um rio pantanoso que cerca a cidade de Dite.. É também o quinto círculo onde ficam submersos os iracundos.

(115) (116) Os vencidos pela ira são amontoados no rio Estige juntos com os que não conseguiram controlar a raiva. São submetidos assim aos efeitos da ira causados por seus semelhantes, e então se mordem, se batem e se torturam. No fundo do Estige estão os rancorosos que, por nunca terem externado sua ira, não podem subir à superfície e ficam a gorgolar a lama no fundo do rio. (Rocha)

CANTO VIII – CÍRCULO 5: IRA E RANCOR
FLÉGIAS – DEMÔNIOS – A CIDADE DO DITE

Flégias (o barqueiro) realiza a travessia do Rio Estige levando Dante e Virgílio. Dentro do rio estão os condenados pelo pecado da ira
Ilustração de Gustave Doré  (século XIX)

 

 

(16) Flégias (Phlegyas), herói epônimo dos flégias de que fala a Ilíada, Canto XIII, verso 302. (Homero, 2004) . Filho de Ares e de Dótis ou de Ares e Crisa. Considerado originário da Tessália. A tradição atribui-lhe muitos filhos, mas dois, Ixion e Corônis celebrizaram-se no mito.Sucessor de Etéocles no trono de Orcômeno, na Beócia, onde fundou a cidade de Flégia, reunindo em volta dele os mais belicosos e violentos de todos os helenos. Uma variante do mito diz ter Flégias visitado secretamente o Peloponeso com o intuito de desencadear expedição de pilhagem contra a região. Nessa viagem, Apolo seduziu Corônis, filha de Flégia, explicando-se o nascimento de Asclépio em Epidauro. Os amores do deus com a linda Corônis não duraram muito. Temendo a eterna juventude de Apolo, que certamente a abandonaria na velhice, Corônis decidiu unir-se ao mortal Ítis, mas o casal foi morto a flechadas pelo deus e sua irmã Ártemis. Flégias, completamente fora de si, tenta vingar a morte da filha, incendiando o Oráculo de Delfos. Pagou o ato insano sendo morto pelo filho de Zeus e lançado no Tártaro.(Brandão, 2000) Devido a incontinência da sua ira, foi condenado, no inferno clássico, a permanecer logo abaixo de uma pedra enorme, pendente, sempre prestes a cair sobre ele. (Rocha, citando Longfellow)

(61) Filippo Argenti, conhecido apenas nas obras de Dante e de Boccaccio. Teria sido um guelfo, da facção dos Néri que se desentendeu seriamente com Dante. Muito rico, forte e orgulhoso, mas de pavio curto. Qualquer provocação era respondida de forma explosiva. (Rocha)

(68) A cidade de Dite (Dis), a cidade de Lúcifer, outro nome pelo qual ele é conhecido. Cidade dolente, habitada pelos hereges que duvidavam da sua existência. Serve de divisão entre os pecados cometidos sem intenção (culpa) e os pecados cometidos conscientemente (dolo). (Rocha)

(82) Os caídos do céu são anjos rebeldes que guarnecem a cidade de Lúcifer. (Mauro, 2007)

(125) – O portal da entrada do Inferno que Cristo rompeu quando os diabos tentaram impedir-lhe a entrada e não foi restabelecido.

HERESIA (NEGAÇÃO DA VERDADE)

CANTO IX –  CÍRCULO 6 – ERÍNIAS E MEDUSA, TÚMULOS

(17 e 18) Alguém do Limbo, onde a única pena é a desesperança de alcançar o céu.(IV.33 e 34) (Mauro, 2007)

(23) Eritone, maga da Tessália de quem fala Lucano, fez reviver um morto para profetizar a Sexto Pompeu o resultado da batalha de Farsália. (2007)

(38) – As Erínias eram deusas violentas com as quais os romanos identificaram suas FÚRIAS. Consoante a Teogania de Hesíodo, as Erínias nasceram do sangue caído sobre Geia, quando da mutilação de Urano por Crono que lhe cortara os testículos.  Elas são titulares muito antigas do panteão helênico, encarnam forças primitivas que não reconhecem nem tampouco obedecem aos “Olímpicos”. Apresentam-se como monstros alados, cabelos entremeados de serpentes, chicotes e tochas acesas nas mãos, prontas para castigar na terra e nos infernos, sua residência habitual, os infratores de determinados preceitos morais. A função dessas temíveis divindades não é apenas a de castigar uma hamartia grave ou o homicídio parental voluntário, mas o homicídio em si, porquanto o assassínio é um miasma,  uma terrível mancha religiosa que põe em perigo todo o grupo social em cujo seio é praticado. (Brandão, 2000)

(40) Hidra, filha de Tifão e de Équidna, é figurada como uma serpente descomunal, de muitas cabeças, variando estas, segundo os autores, de cinco a seis e até mesmo a cem, e cujo hálito pestilento a tudo destruía: homens, colheitas e rebanhos. Criada sobre um plátano, junto da fonte Amimone, perto do pântano de Lerna, na Argólida, foi ali colocada para provar o filho de Alcmena (Hércules), que deveria eliminá-la. Para isso, ele precisou da ajuda do seu sobrinho Iolau, porque à medida que ele ia cortando as cabeças da Hidra, Iolau ia cauterizando o local para que outras cabeças ali não surgissem. A do meio era imortal,  mesmo assim ele cortou, enterrou-a e colocou por cima um enorme rochedo. Antes de regressar, ele embebeu suas flechas na peçonha ou conforme outros, no sangue da Hidra, envenenando-as. (2000)

(44) Proserpina (Perséfone): Filha de Zeus e de Demeter (deusa da agricultura), ou segundo versão recente, e de Estige. Core ou Perséfone vivia feliz entre as ninfas quando o seu tio Hades (irmão de Zeus), apaixonou-se por ela e a raptou com a conivência do irmão.. Ela colhia flores distraída, quando Zeus para atraí-la colocou um narciso ou um lírio às bordas do abismo. Quando ela foi apanhá-la a terra se abriu, Hades (Plutão) apareceu e a conduziu para as entranhas do mundo ctônio. Demeter, desesperada com o desaparecimento da filha passou a procurá-la, percorrendo o mundo inteiro com um archote aceso em cada uma das mãos. Ela abdicou de suas funções divinas e decidiu permanecer na terra, mas sem deixar mais que a vegetação crescesse até que a filha voltasse. Como a ordem do mundo estivesse em perigo por conta da decisão de Demeter de não mais deixar a vegetação crescer, Zeus pediu a Plutão que devolvesse Perséfone. O rei dos invernos curvou-se à vontade do irmão, e acabaram chegando a um consenso: Perséfone passaria quatro meses com o esposo no Hades e oito meses com a mãe no Olimpo, ou seis em cada um deles.  Reencontrada a filha, a deusa da vegetação voltou para junto dos deuses e a terra cobriu-se instantaneamente de verde. Antes do seu regresso, porém, ensinou ao rei de Elêusis, Céleo, e ao filho deste, Triptólemo, bem como Díocles e Eumolpo os grandes mistérios. A catábase (a descida) e a anábase (a subida, o retorno) de Perséfone provocaram a instituição dos célebres Mistérios de Elêusis. (2000)

(46) Uma visão mais popular das Fúrias atribui função a cada uma: Megera tem a função de gritar-lhes (aos criminosos), dia e noite, no ouvido, as faltas cometidas; Aleto, a de persegui-los ininterruptamente com fachos acesos; Tisifone açoita os culpados. (2000)

(52) – Medusa – Górgonas são as três filhas de duas divindades marinhas, Fórcis e Ceto: Medusa, Ésteno e Euríale. Apenas Medusa era mortal. Habitava com as irmãs o extremo Ocidente, junto ao país das Hespérides. Estes monstros tinham a cabeça enrolada de serpentes, presas pontiagudas como as do javali, mãos de bronze e asas de ouro que lhe permitiam voar. Elas são o símbolo do inimigo que se tem de combater. As deformações monstruosas da psique, segundo Chevalier et Gheerbrant, DIS, p.482, se devem às forças pervertidas de três pulsões: sociabilidade, sexualidade e espiritualidade.Ésteno seria a perversão social, Euríale, a sexual, e Medusa, a principal dessas pulsões, a pulsão espiritual e evolutiva, mas pervertida em frívola estagnação.Só se pode combater a culpabilidade oriunda da exaltação frívola dos desejos pelo esforço em realizar a harmonia, a justa medida, que é, em última análise, exatamente a etimologia de Medusa. Quem olha para a cabeça da Gorgona se petrifica. Não seria porque ela reflete a auto-imagem de uma culpabilidade pessoal? O reconhecimento da falta, porém, baseado num justo conhecimento de si mesmo pode se perverter em exasperação doentia, em consciência escrupulosa e paralisante. Em síntese, Medusa simboliza a imagem deformada, que petrifica pelo horror, em lugar de esclarecer com equidade.(2000).

(52 a 57) Alegoricamente Medusa, mudando em pedra o coração de Dante, o faria desesperar da Graça divina.(Ítalo Mauro) Os olhos de Medusa eram flamejantes e o olhar tão penetrante que transformavam em pedra quem as fixasse.(Junito Brandão)  Teseu desceu ao Averno, na tentativa fracassada de libertar Proserpina do domínio de Plutão. (Mauro, 2007)

(54) – Teseu – Herói essencialmente de Atenas, ele é o Heracles da Ática. Tendo vivido, de acordo com os mitólogos, uma geração antes da Guerra de Tróia, dois de seus filhos com Fedra participaram da mesma: Demofonte e Ácamas;.(Junito Brandão) Conhecido por várias façanhas, entre elas, aquela em que matou o Minotauro de Creta e escapou do labirinto com a ajuda de Ariadne, filha de Minós. Teseu também fez uma viagem ao inferno (Hades) com Piritoo para  raptar Proserpina. Pluto matou Piritoo e manteve Teseu como prisioneiro, mantendo-o sentado no trono do esquecimento. Hércules desceu ao inferno para salvar Teseu e arrastou Cérbero para fora do mundo subterrâneo, arrancando toda a pele em volta de seu pescoço. (Helder Rocha) Na versão apresentada por Junito Brandão, Teseu e Pirítoo foram muito bem recebidos por Plutão que os convidou para um banquete e eles não mais conseguiram levantar-se de suas cadeiras. Heracles tentou libertá-los quando esteve no Inferno, mas os deuses só permitiram que ele “arrancasse” Teseu da cadeira, Pirítoo permanceu sentado na Cadeira do Esquecimento. O erro fatal dos dois heróis teria sido o de sentar-se e comer no mundo dos mortos, pois o comer configura fixação, o sentar-se implica intimidade e permanência. (Brandão, 2000.

(98) – Cérbero, ao tentar se opor à descida de Hércules ao Averno, foi por ele acorrentado e conserva os sinais de sua derrota. (Mauro, 2007)

(112 a115) – Dante cita locais onde em seu tempo ainda havia ruínas de antigos cemitérios romanos. (2007)

CANTO X – ESPÍRITO DE FARINATA – ESPÍRITO DE CAVALCANTI

(14) Aqui são punidos os heréticos em geral. Comoos seguidores da doutrina de Epicuro, que negava a sobrevivência da alma após a morte corporal. (Mauro, 2007) Epicuro: filósofo grego que ensinou em Samos e Atenas. Sua filosofia materialista defende que todas as coisas são formadas por átomos cujas combinações dão ao mundo sua estrutura particular. A moral de Epicuro – diferentemente da reputação que adquiriu junto à igreja – recomenda gozar os bens materiais e espirituais com ponderação e medida, de forma que seja possível perceber o que neles há de melhor. O Epicurismo na opinião da Igreja era uma heresia, pois considerando todas as coisas materiais, negava a existência da alma e da vida após a morte. (Rocha, citando Larousse)

(32) Farinata degli Uberti importante líder dos guibelinos em Florença. Participou da sangrenta batalha de Montaperti, onde os guibelinos massacraram os guelfos (partido da família de Dante) e retomaram o poder em Florença. (Canto VI, verso 79).

(43) Farinata pergunta a Dante quem foram os seus ancestrais. Dante Alighieri nasceu em Florença em 1265 de uma família da baixa nobreza. Sua mãe morreu quando era ainda criança e seu pai, quando tinha dezoito anos. Pouco se sabe sobre a vida de Dante e a maior parte das informações sobre sua educação, sua família e suas opiniões são geralmente meras suposições. Mas, ele diz que não lhe escondeu nada, certamente falou da  posição da sua família. A política nas cidades representava os interesses de famílias. A afiliação era hereditária. A família de Dante pertencia a uma facção política conhecida como os guelfos (Guelfi) – representados pela baixa nobreza e pelo clero – que fazia oposição a um partido conhecido como os guibelinos (Ghibellini) – representantes da alta nobreza e do poder imperial. Os nomes dos dois grupos eram originários de partidos alemães, porém os ideais políticos eram um mero pretexto para abrigar famílias rivais. Florença se dividiu em guelfos e guibelinos quando um jovem da família Buondelmonti não cumpriu uma promessa de casamento com uma moça da família Amadei e foi assassinado. As famílias da cidade tomaram partido por um lado ou por outro e Florença se dividiu em guelfos e guibelinos. Dante nasceu em uma Florença governada pelos guibelinos, que haviam tomado a cidade dos guelfos na sangrenta batalha conhecida como Montaperti (monte da morte), em 1260. Em 1289, Dante lutou com o exército guelfo de Florença na batalha de Campaldino, onde os florentinos venceram os exércitos guibelinos de Pisa e Arezzo, e recuperaram o poder sobre a cidade.  A profecia de Farinata refere-se ao exílio de Dante que acontecerá em menos de 50 meses, ou 4 anos (1304).

(58 a 60) Quem fala com Dante é Cavalcante di Cavalcanti pai de Guido Cavalcanti, pertencente a influente família guelfa. Dante menciona que seu filho não apreciava a poesia de seu guia, Virgílio. Cavalcante entende o verbo no passado como indicação que seu filho não mais vivia, o que era falso. Cavalcante é incapaz de saber o que ocorre no presente. Guido Cavalcanti era poeta e amigo íntimo de Dante e, como seu pai, era incrédulo, por isso é esperado por ele entre os hereges.

(62) Virgílio. (Mauro, 2007)

(63 a 66) Guido Cavalcanti, poeta e amigo íntimo de Dante, era, como seu pai Cavalcanti, incrédulo, e foi pelas palavras deste e sua presença entre os heréticos que Dante adivinhou a sua identidade.(2007)

(79 a 81) Farinata refere-se a Proserpina, mulher de Plutão, rei do Inferno, identificada como a lua. Proserpina (correspondente na Grécia a Perséfone) era filha de Júpiter (Zeus) com Ceres (Demeter), uma das mais belas deusas de Roma. Enquanto colhia flores ela foi raptada por Plutão (Hades), que fê-la sua esposa. Sua mãe, desesperada com o  seu desaparecimento, caiu numa fúria terrível, destruindo as colheitas e as terras. Somente a pedido de Júpiter, acedeu a devolver a vida às plantas, exigindo, no entanto, que Plutão lhe devolvesse a filha. Como, por um ardil deste último, Proserpina havia comido um bago de romã, e por esta razão não poderia abandonar o submundo de forma definitva. Uma solução do agrado de todos foi encontrada: Proserpina passaria metade do ano debaixo da terra, no submundo, na companhia do marido – corresponde essa época, ao Inverno, quando Ceres, desolada, descuida a Natureza, deixando morrer as plantas – e a outra metade do ano à superfície, na companhia da mãe – corresponde ao Verão, quando a Natureza renasce, fruto da alegria de Ceres. (Brandão, 2000) “Nem ocorrerão cinquenta fases da lua.” A mitológica Proserpina, mulher de Plutão, rei do Inferno, era identificada com a Lua. (2007)

(85 a 90) “Foi o morticínio da batalha de Montaperti, que coloriu de vermelho o rio àrbia, que produziu a decretação de tais leis por nossa assembléia. (2007)

(91 a 93) Na dieta de Empoli, após Montaperti, os gibelinos propuseram a destruição de Florença, que foi impedida  por Farinata.

(100) Présbitas são pessoas que possuem dificuldade de acomodação da visão de curta distância, entre35 cm e 45cm, o que corresponde ao afastamento do ponto próximo do olho e que ocorre geralmente após os 40 anos. Presbitas – a dificuldade de acomodação decorre da perda de elasticidade do cristalino ou de alteração do índice de refração entre o núcleo e o córtex do mesmo.

(119  e 120) Frederico II foi rei da Sicília e Imperador do Sagrado Império Romano (1215-1250). Foi excomungado duas vezes: primeiro pelo papa Gregório IX, e depois pelo seu sucessor, o papa Inocêncio IV. Grande incentivador da cultura. A sua corte na Sicília foi chamada por Dante de berço da poesia Italiana. Cardeal Ottaviano degli Ubaldini era conhecido por apreciar os valores mundanos e ser amigo dos guibelinos (partido que rejeitava a autoridade da Igreja em favor da monarquia imperial).

PECADOS DO LEÃO (CÍRCULO SETE)
VIOLÊNCIA

* Justiça Infernal
* Tirania, assalto, assassinato
* Suicídio, gastança autodestrutiva
* Blasfêmia
* Sodomia
* Usura

CANTO XI – TÚMULO DO PAPA ANASTÁCIO – EXPLICAÇÃO SOBRE A JUSTIÇA INFERNAL – CÍRCULO DA VIOLÊNCIA (PECADOS DO LEÃO)

(8) O papa Anastácio II (496 d.C.) acolheu em Roma o diácono Fotino e foi com ele acusado de heresia (Mauro,2007). Fotino era diácono de Tessalônica e foi culpado de heresia por dizer que o Espírito Santo não procedia do Pai e que o Pai era maior que o Filho.

(25) A fraude simples é pecado próprio do homem porque, dispondo de livre arbítrio, escolhe conscientemente o mal que pratica. (2007) Assim, a fraude é uma característica humana, pois exige o uso do intelecto. O pecador não só procurou o mal por vontade própria, como planejou e premeditou o ato antes de executá-lo. Os seres mitológicos que habitam o oitavo círculo mentem, enganam e trapaceiam. São demônios.

(28 a 30) Círculo da violência: Enquanto nos círculos da incontinência são punidos os que pecaram por falta de autocontrole, nos círculos da violência são punidos os que cometeram pecados de forma consciente, aqueles que tiveram oportunidade de escolher e escolheram o mal. A violência é uma característica bestial do ser humano. Os seres mitológicos que habitam este círculo são seres meio humanos e meio animais como os Centauros, o Minotauro e as Harpias.

(50) Cahors, cidade da França conhecida pela prática da usura por seus habitantes.(2007)

(57 a 60) Círculo da traição (fraude complexa): A traição é o pior dos crimes porque se trata de um mal planejado e executado contra alguém desarmado e indefeso devido a se sentir segura diante do agressor, em quem deposita confiança. Tal pecado é representado por Lúcifer, que traiu a Deus. O próprio Lúcifer se encontra no centro da terra, no nono círculo onde tortura eternamente os traidores humanos.

(65) Dite, outra designação de Lúcifer. (2007)

(79 a 84) A justiça infernal: respeita a filosofia de Aristóteles que afirma, no início do livro VII da obra Ética a Nicômaco: “deve ser observado que há três aspectos das coisas que devem ser evitados nos modos: a malícia, a incontinência e a bestialidade.” A alma incontinente tem culpa, mas a culpa é menos grave que o dolo, a vontade de pecar. Esta vontade, quando surge de ocasião, como manifestação da natureza animal é ainda menos grave que aquele pecado que é cometido de forma arquitetada, premeditada, usando a inteligência própria do ser humano a serviço do mal. Ainda assim, é menos grave um indivíduo arquitetar e executar um crime contra um desconhecido, que pode se defender de um estranho que o ameaça, que ele fazer o mesmo com alguém que confia nele, e por isto está indefeso e desarmado. A traição, portanto, recebe a justa punição máxima, nas profundezas mais profundas do inferno. Mark Musa observa que a justiça do inferno é um sistema dual, que pode ser ilustrada da seguinte forma (Rocha, citando Musa,95)

(80) Ética a Nicômaco, obra de Aristóteles. Virgílio a chama de “sua Ética” porque sabe que Dante a conhece bem. A Ética foi comentada por Tomás de Aquino e tem influência na organização dos círculos do inferno. (Rocha)

(101 a105)Física, : obra de Aristóteles. No livro II, capítulo 8, escreve “em geral a arte humana ou completa o que a natureza é incapaz de fazer ou imita a natureza.” (Rocha)

(107) Gênese instrui o homem a tirar da natureza e de sua arte (trabalho) a sua sobrevivência: “em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida. Ela produzirá também espinhos e comerás as ervas do campo. Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; pois és pó, e ao pó tornarás.” (Genesis 3:17-19)  (Rocha)

(113) “Constelação dos Peixes já subiu acima do horizonte.” (Mauro,2007)

(114) A Ursa Maior (Carro) estava na direção do vento de Maestro (Corus), sinal da aproximação da aurora. (2007) Cronologia: já é madrugada do sábado de aleluia, segundo Virgílio. (Rocha)

CANTO XII – 1º GIRO DO 7º CÍRCULO – VIOLÊNCIA CONTRA AS PESSOAS – MINOTAURO, CENTAUROS, CÍRCULO DA VIOLÊNCIA, RIO DE SANGUE

VISTA DO 7º CÍRCULO
Ilustração:Helder da Rocha

(12 e 13) O desdouro de Creta é o Minotauro. Monstro mitológico com corpo de homem e cabeça de touro. Nasceu da recusa do rei  Minós em sacrificar um touro enviado por Netuno, o que motivou o Deus a fazer com que a esposa de Minós se apaixonasse pelo touro e com ele tivesse um filho, que foi o Minotauro. Depois do seu nascimento, o Minotauro foi aprisionado em um labirinto criado por Dédalo. O labirinto era tão complexo que ninguém jamais conseguira escapar dele e, perdido, sempre acabava devorado pelo Minotauro. O herói grego Teseu  entrou no labirinto com um carretel de linha oferecido por Ariadne, filha de Minós, conseguiu matar o Minotauro e escapar com vida. (Rocha)

(20) A irmã a que ele se refere é Ariadne, filha da esposa de Minós, portanto irmã do Minotauro.

(37 a 39) Cristo, que após a ressurreição foi ao primeiro círculo do Inferno, o Limbo, para levar com ele ao Céu as almas dos primeiros justos, livrando-os do império de Dite, rei do Inferno. (Mauro, 2007)

(41 a 45) Pela doutrina de Empédocles, o Amor e o ódio eram as forças que determinavam a variação das condições físicas do mundo. Na tradição cristã esse terremoto ocorreu na morte de Cristo.( Mauro,2007)

(47 e 48) Flegetonte, rio de sangue fervente que tortura os pecadores que foram violentos contra os seus semelhantes. Na mitologia grega é um rio de fogo. Dante só revela o nome deste rio de sangue mais adiante. Os violentos contra os seus semelhantes: Como o Minotauro e os centauros que dividem sua natureza animal com a sua natureza humana, os pecadores mergulhados no rio Flegetonte mantém imersa sua parte animal – bestial e violenta, no rio de sangue daqueles que oprimiram. Quanto mais grave o crime, maior a parte imersa. Os assaltantes, dentro do rio, são indistinguíveis dos centauros, pois têm apenas o peito de fora. São punidos por terem praticado violência contra os bens de suas vítimas. Os homicidas só mantêm fora a cabeça. Tiraram a vida de suas vítimas. Os tiranos só mantém acima da superfície as sobrancelhas. Eles atentaram contra a vida e contra os bens de suas vítimas. (Rocha)

Centauros aguardam Dante e Virgílio diante do rio de sangue fervente onde sofrem os culpados de violência contra o próximo (assaltantes, assassinos e tiranos)
Ilustração de Gustave Doré (séc XIX)

 

 

(55 a 57) Centauros: Monstros mitológicos que tinham o corpo de cavalo da cintura para baixo e de homem da cintura para cima. Os centauros se destacavam por sua natureza selvagem e violenta. A única exceção era o centauro Quirón. Diz a lenda mítica que Ixion, rei dos lápitas, na Tessália, para obter a mão da jovem Dia, fez grandes promessas ao futuro sogro Dioneu. Quando, após as núpcias, o sogro foi reclamar os presentes, Ixíon lançou-o traiçoeiramente numa fossa cheia de carvões ardentes, introduzindo o homicídio parental no mito. A hybris do rei dos lápitas foi tão grave que nenhum outro soberano ou herói atreveu-se a purificá-lo e aplicar-lhe a pena devida, como de praxe. Coube a Zeus essa tarefa por condoer-se do neto (ele era filho de Ares). Ixíon, mordido pela hybris praticada contra Dioneu, ousou um sacrilégio maior: apaixonou-se por Hera e tentou violentá-la. Zeus, outros afirmam que foi a própria rainha dos deuses, confeccionou em nuvens um eídolon de Heras, que ele envolveu imediatamente em seus braços. Dessa união nasceu Centauro,  o pai dos Centauros, de todos os centauros, filhos das nuvens (Brandão, 2000)

(65) Quirón foi o mais sábio dos centauros. Diferentemente dos outros da sua espécie, Quirón não agia de forma selvagem e era conhecido por sua sabedoria e bondade. Educou vários heróis gregos, entre eles Aquiles e Jasão. (Rocha) Além de Quirón, ele encontra o irascível Folo.

(67) Nesso, centauro que participou da luta de seus irmãos contra Heracles. Derrotados, todos fugiram, tomando direções diversas. Nesso tornou-se barqueiro do rio Eveno.  Hércules após o assassinato involuntário do copeiro Êunomo, saiu pra Tráquis, atravessando o rio Eveno a nado, numa versão, enquanto. Nesso transportava sua família. Nesso lembrando-se da derrota sofrida e da perseguição que Heracles lhe impusera, tenta, para vingar-se, violentar Dejanira a esposa do herói, que, desesperada, gritou por socorro. Heracles aguardou tranquilamente que ele alcançasse terra firme e varou-lhe o coração com uma de suas flechas envenenadas com o sangue da Hidra de Lerna. Nesso, agonizante, dá a Dejanira sua túnica manchada com o sangue venenoso da Hidra e disse-lhe que seria para ela um precioso talismã, um filtro poderoso, com a força e a virtude de restituir-lhe o esposo, se porventura este, algum dia, tentasse abandoná-la. Mais tarde, Dejanira querendo reconquistar o amor de Hércules, que o traía, mandou a túnica para que ele a vestisse, quando se preparava para erguer um altar para Zeus e precisava de uma túnica não usada.. Ao vesti-la, a peçonha infiltrou-se em seu corpo. Ele tentou retirá-la, mas a veste aderia-lhe ao corpo de tal modo, que as suas carnes saíam aos pedaços. Alucinado de dor, escalou o monte Eta e lançou-se sobre uma fogueira perecendo carbonizado (Brandão, 2000).

(82 a 84) É na altura do peito que se juntam as duas naturezas, a humana e a bestial dos centauros.  (Mauro,2007)

(88) Beatriz. (2007)

(107 a 111) Alexandre é provavelmente o tirano de Pherae (368-359 a.C), contemporâneo de Dionísio, cuja crueldade extrema fora relatada nas obras de Cícero.  Dionísio (430-360 a.C.), tirano de Siracusa, Sicilia. Venceu várias guerras contra Cartago e tornou Siracusa a cidade mais poderosa da Itália grega. Dionísio era conhecido por patrocinar o teatro. Era também ator e freqüentemente atuava nos festivais dramáticos de Atenas. Azzolino: foi tirano da cidade de Pádua. Obizzo d’Este, tirano da cidade de Ferrara.(Rocha)

(118 a120) Dante se refere a Guy de Montfort.Em 1272, durante a missa numa igreja de Viterbo, Guy de Montfort apunhalou e matou o príncipe Henrique, filho de Ricardo da Cornualha, como forma de vingar a morte de seu pai, vítima do rei Eduardo I. De acordo com Giovanni Villani, o coração de Henrique foi colocado numa taça de ouro sobre uma coluna central da torre de Londres, onde até hoje o sangue  pinga sobre o Tâmisa. (Rocha)

(133 a 135) Átila, o Huno (406-453), chamado de flagelo de Deus, era rei dos Hunos. Invadiu a Europa deixando um rastro de destruição e morte. Devastou o norte da Itália mas morreu antes que pudesse invadir Roma. Pirro: Segundo alguns comentaristas é o rei de Epiro, que venceu os romanos três vezes entre 280 e 276 a.C. Para Ítalo Eugenio Mauro é o filho de Aquiles. Sesto: o filho mais novo de Pompeu, segundo a maioria dos comentaristas. Outros acreditam que seja Sexto Tarquínio Superbo que estuprou e causou a morte de Lucrecia, a esposa de seu primo. Rinier da Corneto e Rinier Pazzo: foram famosos salteadores nas estradas da Toscana. (Mauro, 2007)

CANTO XIII – 2º GIRO DO CÍRCULO 7 – HÁRPIAS – SELVA DOS SUICIDAS  SUICÍDIO, GASTANÇA AUTODESTRUTIVA:VIOLÊNCIA CONTRA SI

Os violentos contra si próprios são aqueles que tiraram a sua própria vida (os suicidas) e os pródigos (gastadores) que gastaram tanto (por vontade de gastar) que terminaram na miséria (os viciados em jogo, por exemplo). O que diferencia estes gastadores daqueles gastadores incontinentes do quarto círculo (Canto VII) é que estes sabiam que iriam terminar pobres e miseráveis e mesmo assim, decidiram continuar gastando até alcançar seu objetivo, que se caracteriza como uma violência contra si próprios. Os primeiros, embora não se tenham se controlado, não chegaram a se autodestruir. (Rocha)

Dante arranca um galho de árvore que chora de dor na floresta das Hárpias (onde são punidos os suicidas) (Canto XIII)
Ilustração de Gustave Doré (século XIX)

 

 

 

(9) Aldeias próximas de Maremma que era desabitada e selvagem. (Mauro, 2007)

(10) As Hárpias, monstros mitológicos com corpo de ave e rosto de mulher, anunciaram desgraças aos companheiros de Enéias chegados às ilhas Strófadi fugindo de Tróia vencida. (Mauro,2007) Elas podiam voar à velocidade do vento. Freqüentemente raptavam humanos e os levavam ao Inferno. (Rocha)

(37) Os suicidas são transformados em árvores. (Rocha)

(46) Na Eneida, Virgílio tinha contado o episódio de Polidoro, também transformado numa árvore.(2007) Quando Enéias oferecia sacrifício à sua mãe, a deusa Dione, e aos deuses protetores das nascentes muralhas, ali perto havia um outeiro, em cujo cume floresciam rebentos de pilriteiros e murtas eriçadas de densos ramos. Ele se aproxima e tenta arrancar da terra um arbusto verdejante para cobrir os altares com a sua ramagem, os galhos que eram cortados deixavam cair, ao invés da seiva, um sangue negro e corrompido que manchava a terra. Enéias ficou gelado de terror e suplicou aos Deuses Inefáveis que fizessem com que aquele presságio se tornasse favorável a seus desígnios. Conta-se que o herói rompeu outros galhos da mesma árvore, porém todos gotejavam sangue. De repente, chegou a seus ouvidos uma voz que parecia sair das raízes da planta que dizia: Enéias, por que me despedaças? Respeita a um pobre infeliz e não cometas a crueldade de me torturar. Sou eu, Polidoro, a quem os inimigos crivaram de feridas neste mesmo lugar. Os ferros que cravavam em meu corpo germinaram e criaram uma planta que, em lugar de puas, dá aceradas azagaias. (Virgilio, 2003)

(58 a 69) Frederico II, Imperador do Sagrado Império Romano (1215-1250) e rei da Sicília.Pier della Vigna, ministro que ocupava cargo de alta confiança na corte do imperador, foi acusado de traição ao aliar-se ao papa (Inocêncio IV) e de tramar a morte de Frederico, sendo por essas acusações, condenado à morte. Antes, porém, Pier cometeu suicídio. Ele alega que foi vítima de armação e que a acusação era injusta. Dante acredita em Píer, pois do contrário não o teria colocado entre os suicidas mas entre os traidores, no nono círculo. (Rocha)

(97 a 102) Os suicidas são transformados em árvores, cujas negras folhas as Hárpias dilaceram.

(120) Lano (Ercolano Maconi), após dilapidar toda a sua fortuna, procurou a morte na batalha de Toppo em 1287, que alcançou, entretanto, não combatendo, mas tentando fugir. (Mauro, 2007) De acordo com os comentários de Boccaccio, ele era um jovem muito rico, de Siena, que pertencia a um clube chamado Clube dos Gastadores. Chegou a consumir tudo o que tinha e se tornou muito pobre. (Rocha)

(124 a 129) Os gastadores são perseguidos por cadelas famintas que os despedaçam. Cadelas famintas: “Alguns comentaristas interpretam esses cães como a pobreza e o desespero, ainda perseguindo suas vítimas depois da morte. O Ottimo Comento os interpreta como homens pobres que, abandonando suas famílias e lares para servir a pessoas que arruinaram suas vidas, foram transformadas em cães caçadores e agora passam a eternidade perseguindo seus mestres.” (Rocha)

(133 a 135) Giacomo de Santo Andrea, outro famoso perdulário, mesquinho e invejoso. (Mauro,2007) Ele era paduano e tinha uma vida de gastança como a de Lano. “O Ottimo Comento afirma que, desejando observar um grandioso e belo fogo, mandou atear fogo em uma de suas fazendas.” Giácomo, pecador perseguido e dilacerado por cadelas, arrancando na fuga vários galhos do suicida que lamenta e chora de dor. (Rocha)

(136 a 138) Segundo suicida: Este suicida não foi identificado por nenhum dos comentaristas da obra de Dante. Ele reclama de Giácomo de Santo Andrea por ele ter provocado mais sofrimento e dor ao arrancar seus galhos (Rocha).

(143) Florença, que trocou seu primeiro protetor, Marte, pelo patrono cristão São João Batista. Nos tempos de Dante ainda restava na ponte Velha um fragmento da estátua de Marte.(Mauro,2007).

(151) Este suicida não diz o seu nome, e os comentadores não o identificaram. (Mauro, 2007)

CANTO XIV – O 3º GIRO DO CÍRCULO 7 – BLASFÊMIA (VIOLÊNCIA CONTRA DEUS) DESERTO INCANDESCENTE, CHUVA DE BRASAS, RIACHO FLEGETONTE

Os violentos contra Deus, a Natureza e a Arte são torturados em um deserto. O areão é o oposto da arte e da natureza do mundo criado por Deus. Estéril e sem vida, é atravessado por rios de sangue e vive sob uma permanente chuva de brasas. Os pecadores vivem num mundo sem cor, sem conforto e sem esperança. É o mundo que desejaram ter quando, em vida, rejeitaram tudo o que Deus, a Natureza e a Arte lhes ofereceu, preferindo dar maior valor às coisas materiais. (Rocha)

Os blasfemos são os que ofenderam a Deus com calúnias ultrajantes e não tiveram a  humildade de o respeitarem como Criador. Sofrem deitados no areão. Não podendo se levantar, são castigados com brasas que se acumulam nos seus peitos em homenagem ao seu orgulho e vaidade. (Rocha)

Os sodomitas (contra a Natureza) são os que ofendem a Deus por agir contra a ordem da Natureza criada por Ele, pecando por sodomia (pederastia, coito anal). Tostados pelas brasas, correm sem nunca poder parar sobre o areão incandescente. Segundo o seu estado de correr sem destino pelo areão pode ser uma representação, em um nível mais baixo, da punição dos luxuriosos do segundo círculo. (Rocha)

Os usurários (contra a Arte) são os que ofendem a Deus por rejeitar o poder de criação, a arte, valorizando antes de tudo o status social, as aparências, os títulos de nobreza e outros valores materiais como o dinheiro, em detrimento dos valores eternos. Na interpretação de Dorothy Sayers: “A Arte (criação e o trabalho do homem) e a Natureza (criação de Deus que inclui o homem) são as únicas verdadeiras riquezas. A compra e venda do dinheiro como se fosse uma mercadoria (agiotagem, usura) produz apenas uma riqueza espúria, e resulta em danos à terra (Natureza) e à exploração do trabalho (Arte). Como a Arte deriva da Natureza e a Natureza deriva de Deus, a usura é vista como uma ofensa a Deus.” (Rocha)

(13 a 15) O deserto incandescente é o contrapasso de quem rejeita a natureza, as suas leis (de Deus) e a criação (a arte). A areia é quente e chuva de brasas assola o lugar eternamente. A imagem do areão e a chuva de brasas são reflexos do destino de Sodoma e Gomorra (Gênese, 19:24). (Rocha cita Sayers) Catão guiou pelo deserto líbico o que restava do exército de Pompeu. (Mauro, 2007)

Os que praticaram violência contra Deus sofrem em um deserto incandescente e são torturados por chuvas de brasas
Ilustração de Gustave Doré (século XIX)

 

 

 

(31) Alexandre Magno, célebre conquistador do mundo antigo, filho de Filipe II da Macedónia, homem de raro talento e de Olímpia do Épiro, personalidade turbulenta, mística e ardente adoradora do deus grego Dionísio. Filipe foi assassinado e seu filho, que acabava de completar 20 anos assumiu o poder, morrendo doze anos e oito meses após a morte do pai. No curto período de tempo, conquistou enorme império, percorreu grandes distâncias, combateu difíceis campanhas sempre com o objetivo de estender o seu poder às terras asiáticas. Alexandre conquistou um império que ia dos Balcãs à Índia, incluindo ximadamente o atual Afeganistão), o maior e mais rico que já havia existido.Em sua juventude teve como preceptor o filosófo Aristóteles, que se encontrava nos seus melhores anos. O pai de Aristóteles, Nicómaco, inclusive,  havia sido médico de Filipe, existindo entre eles laços de amizade. Aristóteles estabeleceu sua escola longe da capital, perto das montanhas de Tessália, no templo das Ninfas, no lugar de Mieza. Lá, Alexandre recebeu durante quatro anos suas lições. (História Universal, 2005)

(52 a 55) O fabro é Vulcano. (Vulcano, na mitologia grega, é Hefesto). Filho de Júpiter e de Juno, ou segundo alguns mitólogos, de Juno só, com o auxílio do Vento. Envergonhada de ter dado à luz filho disforme, a deusa o lançou do alto do Olimpo. Após rolar dia inteiro ele caiu no mar e foi recolhido pela bela Tetis e Eurínome, filhas do Oceano. Durante nove anos, cercado de cuidados, viveu numa gruta profunda onde fez  longa aprendizagem, trabalhando o ferro, o bronze e as pedras preciosas fabricou os mais belos e surpreendentes objetos de arte jamais vistos. (Brandão, 2000). Os Ciclopes,  na  forja aos pés do vulcão Etna.(Mauro, 2007) Etna ou Mongibello.

(58 a 60) No vale do Flegra, Júpiter fulminou os gigantes que tentavam escalar o Olimpo. (2007)

(61 a 66)Capâneo, um dos sete reis contra Tebas. Simboliza os blasfemos, os que ignoram ou amaldiçoam a Deus. Orgulhoso, destemido, sem nutrir respeito por leis que não fossem as suas. Enquanto escalava as paredes de Tebas, amaldiçoou Júpiter que o matou com um raio. (Rocha)

(79 a 81) O lago de Bulicame, perto de Viterbo, de águas quentes, alimentava talvez instalações de banhos termais geridas por prostitutas. (Mauro, 2007)

(94 – 96) Minós, ver Canto V, versos 4 a12.

(100 a 102) Réa, mulher de Saturno (Cronos) e mãe de Júpiter (Zeus), Netuno (Posseidon) e Plutão (Hades). Saturno, temendo a profecia segundo a qual seria despojado do trono por seus filhos, os devorava logo que nascidos. Réa, para salvar Júpiter, escondeu-o no monte Ida e mandava elevar as vozes de seus mandados para encobrir o choro do recém-nascido.(Mauro, 2007)

(103 a 109) A figura do velho de Creta é tirada da Bíblia (Daniel 2:32-35) e aparece em sonho ao rei Nabucodonosor. A interpretação, porém, é diferente. No primeiro livro de Metamorfoses, Ovídio utiliza o ouro, prata, bronze e ferro para descrever as quatro eras do homem, e esta alegoria provavelmente se aproxima mais daquela pretendida por Dante. Segundo a interpretação do tradutor Mark Musa, a cabeça de ouro representa a idade dourada do homem (antes da expulsão do paraíso). É a única parte da estátua que não está podre. Os braços e peito de prata, o peito de bronze e as pernas de ferro representam as três eras da decadência do homem. O pé de ferro pode simbolizar o Império e o pé de argila, a Igreja, enfraquecida pelas disputas políticas. A estátua fica no meio do oceano e tem as costas viradas para o mundo antigo, pagão (Damieta, um importante porto egípcio) e a frente virada para o mundo moderno, cristão (Roma). (Rocha)

(130 a 132) Flegetonte, em grego, significa fervente.(Mauro,2007). O rio Letes: localiza-se, de acordo com a mitologia clássica, no inferno Hades. Era onde os mortos se banhavam e esqueciam sua existência anterior. Na Comédia de Dante,. Letes é um rio do purgatório onde as almas penitentes se banham e se purificam para que possam ter acesso ao Paraíso. Letes também é o córrego que flui através da gruta que Virgílio e Dante atravessam para chegar do inferno ao purgatório.(Rocha) Lete provém de o verbo esquecer, esconder. Lete, o Esquecimento, é filha de Éris, a Discórdia, e, consoante uma tradição, foi mãe das Cárites, que traduzem a alegria de viver, talvez quando se esquecem das mazelas da vida. Emprestou seu nome a uma fonte, a Fonte do Esquecimento, depois transformada num rio, o Lete. De suas águas bebiam os mortos para esquecer a vida terrestre. Depois, sobretudo a partir dos Órficos, e bem mais tarde, de Platão, as almas que retornavam a esta vida e se revestiam de um novo corpo, bebiam das mesmas águas, a fim de não se lembrarem do que viram no mundo das sombras. (Brandão, 2000) Letes se encontra no Paraíso Terrestre, e é em suas águas que as almas se purificam após a expiação. (Mauro,2007)

CANTO XV – AINDA NO 3º GIRO DO CÍRCULO 7 – SODOMIA (VIOLÊNCIA CONTRA A NATUREZA) – ESPÍRITO DE BRUNETTO LATINI

(09) Enquanto as neves da região montanhosa da Caríntia não degelam para avolumar o rio Brenta. (Mauro,2007)

(28-33) “Ser” é abreviação de “senhor”. Brunetto Latini foi mestre muito querido de Dante.(2007) Filósofo e mestre da retórica. Comentou a retórica de Túlio e é autor de várias obras, entre elas uma chamada de Tesouro, escrita em francês durante seu exílioem Paris. Segundo o comentador Villani, era homem mundano, porém, empenhou-se em ensinar aos florentinos artes refinadas. Escrevendo principalmente em italiano (em vez de latim, a língua culta), ensinou princípios básicos de ética e política, sempre prezando pela qualidade da língua italiana, mostrando as formas corretas de falar e escrever. (Rocha)

(61 a 63) O “povo maligno” da Florença é aquele que, segundo a lenda, a invadiu escapando da Fiesole etrusca, destruída pelos romanos por ter se aliado com Catilína. (Mauro, 2007) Lucius Sergius Catilina, político romano, de família patrícia, mas pobre, ele teria iniciado desde cedo uma vida de crimes e vícios. Ao ser desmascararado, optou pela luta aberta. Preparações foram feitas através da Itália, especialmente na Etrúria, onde chefiou um exército. O conjunto dos discursos de Cícero contra Catilína ficaria celebrizado sob o nome de “Catilinárias”, que foram usadas por muito tempo como uma das principais formas de ensino de argumentação em todo o mundo. (Wikipédia)

(73 a 78) A parte decente da população de Florença, segundo Brunetto, seria a descendente de romanos.(Mauro, 2007)

(88 a 96) Referência às previsões de Farinata (X,81) e à resposta de Virgílio(X,130). (2007)  Exílio de Dante que acontecerá em menos de 50 meses, ou 4 anos, em 1304. As previsões de Brunetto referem-se à acontecimentos posteriores à tomada de Florença pelos facção dos Nerie o exílio de Dante. Ele fala que Dante será procurado pelos guibelinos e pelos guelfos de Florença que desejam aliar-se a ele. (Rocha)

(109 a 111) Prisciano, celébre gramático do século VI. Francesco d’Accorso, contemporâneo de Brunetto, famoso mestre da escola jurídica de Bolonha. (Mauro,2007)

CANTO XVI – 7º CÍRCULO – VIOLÊNCIA (PECADOS DO LEÃO): SODOMIA (VIOLÊNCIA CONTRA A NATUREZA)

Espíritos de políticos florentinos

(38, 41 e 44) – Guido Guerra, líder guelfo que participou de diversas batalhas.Como Tegghiaio (a seguir), aconselhou os guelfos florentinos a não se engajarem na guerra contra Siena em 1260. (Rocha) Guido Guerra, neto de Guido il Vecchio e da “boa Gualdrada”, foi valoroso combatente contra os gibelinos de Florença.(Mauro,2007) Tegghiaio Aldobrandi,  distinto cidadão de Florença que assumiu posição contrária ao conselho da cidade que havia decidido declarar guerra contra Siena. A guerra resultou na sangrenta batalha de Montaperti na qual os florentinos foram derrotados. (Rocha) Tegghiaio Aldobrandi, também guelfo, honrado cidadão e valoroso combatente.(2007)Jacopo Rusticucci,  nobre florentino muito rico cuja maior desgraça foi ter se casado com uma mulher de caráter insuportável, que teria sido a causa do seu desvio. (Rocha) Jacopo Rusticucci, rico cavaleiro florentino. Os comentadores antigos citam o caráter insuportável de sua mulher, pelo qual ele aqui responsabiliza o seu desvio.(2007) (70) Gugliemo Borsiere, citado por Boccaccio no Decamerão, agradável e espirituoso homem da corte. (Mauro, 2007,)

CANTO XVII – CÍRCULO 7- VIOLÊNCIA CONTRA A ARTE- GERIÓN – ESPÍRITOS DE FAMÍLIAS DA ALTA NOBREZA

Dante e Virgílio na garupa de Gerión, descem para o oitavo círculo (Canto XVII)
Ilustração de Gustave Doré (século XIX)

 

 

 

 

 

 

(1 a 15) Gerión era um monstro de três cabeças e de torso tríplice. Habitava a ilha de Eritia, a “vermelha”(Espanha, arredores de Cádis), situada nas brumas do Ocidente, além do imenso Oceano. Um dos trabalhos de Heracles, impostos por Euristeu, consistia em roubar os bois do gigante. O herói enfrentou primeiro o cão Ortro e o liquidou; eliminou, em seguida, com golpes de clava e flechadas Gerião. (Brandão, 2000) Alguns poetas retratam Gerião como uma criatura de três corpos e três cabeças que representariam as ilhas de Majorca, Minorca e Ivica.. Dante o representa como uma criatura de três naturezas: cabeça de homem, tronco e garras de fera, corpo e cauda de serpente. O rosto de pessoa boa e honesta que esconde sua verdadeira natureza terrível qualifica Gerión como a personificação da fraude, que é punida nos círculos restantes. (Rocha)

(16) ARACNE, mítica tecelã da Lídia, desafiou Minerva e foi transformada em aranha. (Mauro, 2007) Aracne, bela jovem que bordava e tecia com tal esmero que até as ninfas dos bosques vinham contemplar e admirar-lhe a arte. Entre seus dotes, entretanto, não estava a modéstia, tanto assim que desafiou a deusa Atená (Minerva)  para um concurso público. A deusa ainda tentou dissuadi-la de seu propósito, assumindo a forma de uma anciã procurou aconselhá-la a desistir, chamando a atenção para a sua hybris, sua desmedida, para que não ultrapassasse a sua métron, mas ela ignorou os conselhos e ainda insultou a anciã. Atena representou em lindos coloridos, sobre uma tapeçaria, os doze deuses do Olimpo em toda a sua majestade. Aracne, maliciosamente, desenhou certas histórias pouco decorosas dos amores dos imortais, principalmente as aventuras de Zeus. Atená examinou atentamente o trabalho: sem deslize, sem irregularidade. Na verdade, um trabalho perfeito. Furiosa, a deusa o fez em pedaços e ainda feriu Aracne com a naveta. Humilhada, insultada, ela tenta enforcar-se, mas a deusa a impede, sustentando-a no ar. Depois, transformou-a em aranha, para que tecesse pelo resto da vida. (Brandão, 2000)

(52 a 57) Italianos usurários: famílias Gianfigliacci e Ubbriachi, de Florença, Scrovigni e Pádua, de acordo com os brasões que ostentam em suas bolsas (Rocha, citando Longfellow). São usurários, os apegados aos valores materiais (títulos de nobreza) que valorizam mais que qualquer coisa. (Rocha)

(67) Vitaliano di Iacopo Vitaliani, nobre paduano que viveu na época de Giotto e Dante. (Rocha)

(107 a 109) FAETONTE, tentando guiar o carro do Sol, perdeu o comando e incendiou parte do céu, como ainda mostra a Via Láctea. ÍCARO, cujo pai Dédalo quis salvar do Labirinto de Creta fazendo-o voar com asas coladas com cera, perdeu-as por chegar muito perto do sol e caiu no mar.(Mauro, 2007)

(127 a 129) O falcoeiro, para chamar de volta o falcão, agitava um arremedo de pássaro. (2007)

PECADOS DA LOBA

FRAUDE SIMPLES
* Sedução, Rufianismo
* Simonia
* Magia e Adivinhação
* Corrupção (barataria)
* Hipocrisia
* Roubo e Furto
* Maus Conselhos
* Cisma e Intriga
* Falsificação

CANTO XVIII – CÍRCULO 8 –SEDUÇÃO E RUFIANISMO – MALEBOLGE – VALAS DOS SEDUTORES, E ADULADORES

Sedutores e rufiões (sentidos opostos) açoitados por diabos na primeira vala. No primeiro plano, os aduladores imersos no esterco (segunda vala)
Ilustração de Sandro Botticelli (século XV)

Sedutores e rufiões são os que exploraram deliberadamente as paixões dos outros, controlando e usando-os para servir a interesses próprios. Na primeira vala do Malebolge eles são levados, na base do chicote, a cumprir o desejo dos diabos. (Rocha)

(2) Malebolge (bolsas ou valas malditas): O oitavo círculo do inferno é dividido em 10 valas (bolsas) circulares. Dentro de cada vala é punida uma modalidade de fraude. É possível atravessar as valas através das pontes de pedra que interligam os rochedos que as isolam. As beiras de cada vala são mais baixas no interior do círculo que no seu exterior, pois cada vala está num plano mais baixo que o outro. Depois da décima vala, há mais um rochedo e em seguida há um grande fosso que leva ao nono e último círculo. (Rocha)

(28 a 33) Em Roma, no ano do primeiro Jubileu,1300, amultidão foi dividida, sobre a ponte de Santo Ângelo, em duas faixas circulando em sentido oposto para os que  iam para São Pedro e os que voltavam.(Mauro, 2007)

(50) Venedico Caccianemico, chefe de uma facção dos guelfos de Bolonha, várias vezes governador de Pistóia, Modena, Ímola e Milão. Ele era acusado, entre outras coisas, de ter assassinado o próprio primo. Ele estava nesta vala porque havia entregue a própria irmã à concupiscência do marquês Obizzo dos  Esti de Ferrara, por dinheiro ou escopo político . (2007) (51) Le salse  (os molhos), nome dado a um charco próximo de Bolonha onde eram jogados os corpos dos criminosos indignos de enterro cristão. (2007)

(61) Sipa  é corruptela bolonhesa de “sia” (seja). Savena e Reno são dois rios que margeiam Bolonha.(2007) (86) Jasão, originário da Tessália, o futuro condutor dos Argonautas* descende de Éolo. Muito jovem ele sofreu as agruras do exílio, porque o seu pai, legítimo herdeiro do trono de Iolco, fora destronado e condenado à morte ou coagido a suicidar-se por seu irmão, o usurpador Pélias. Em outra versão, o seu pai já idoso havia confiado o reino a Pélias, até que o filho atingisse a maioridade. De qualquer forma, Jasão foi confiado a Quirão (centauro) que o instruiu nas artes, na iátrica. Completada a iniciação porque passava todo herói, ele deixou o mestre e voltou à cidade natal para reivindicar o trono. O rei concordou em devolver, desde que ele lhe trouxesse da Cólquida o Velocino de Ouro, arrancado do carneiro que transportara Frixo. Jasão, contando com a ajuda de Atená, pediu a Argos, filho de Frixo, que construísse a nau Argo. Ordenou a um arauto que convocasse príncipes e heróis da Hélade para a magna empresa.  Apresentaram-se mais de cinqüenta paladinos e o barco se fez ao mar. Após muitas e perigosas aventuras em terra e nos domínios de Posídon, Jasão retornou com Medeia e o precioso velo de ouro. O mito doloroso de Jasão e Medeia foi reinterpretado  particularmente por Eurípides, na tragédia Medeia, Sêneca, numa tragédia homônima, e nos tempos atuais por Chico Buarque e Paulo Pontes, na tragédia de cunho fortemente político-social, Gota-dÁgua. (Brandão, 2000) Jasão sofre na primeira vala do Malebolge, segundo Virgílio, por ter seduzido e abandonado Ísfile, filha do rei de Lemnos. Medéia, porém, também foi abandonada por ele. (Rocha) Jasão, chefe dos Argonautas que conquistaram o “Tosão de Ouro” (Mauro, 2007)

(112 a 114) Aduladores e lisonjeadores são os que exploram os outros ao tirar proveito de seus medos e desejos. Sua arma é o uso fraudulento da linguagem, através de raciocínios falsos, que destrói a comunicação entre as mentes. No Malebolge eles estão imersos na merda que deixaram no mundo. “Dante não viveu para ver o desenvolvimento completo da propaganda política, da propaganda comercial e do jornalismo sensacionalista, mas deixou um lugar preparado para eles.” (Rocha)

(121) Alessio Interminei,  membro dos guelfos brancos de Lucca. (Mauro, 2007)

(133) Taís personagem literária da peça O Eunuco do poeta romano Terêncio. (Rocha)

* Principais Argonautas
Ao todo eram cinqüenta argonautas. Os que ficaram conhecidos na literatura foram:
Jasão – (Chefe dos Argonautas)
Acasto –  primo de Jasão, filho de Pélias;
Idmon –  o advinho, filho de Apolo;
Castor e Pólux – os dióscuros (gêmeos filhos de Zeus);
Calais –  semi-deus do vento, filhos de Bóreas,
Zetes –  irmão de Calais;
Anfião;
Etalides – filho do deus Hermes;
Argos –  o Gigante Armador, que foi o construtor do navio e seu piloto;
Ascalafos –  filho do deus Ares e rei de Orcômene;
Atalanta – mulher que tentou embarcar disfarçada de homem, mas foi descoberta por Jasão;
Autólico – um ladrão filho do deus Hermes e que viria ser o verdadeiro pai de Ulisses;
Laertes – que era o “pai putativo” de Ulisses;
Butes – filho de Téleon;
Équion – filho de Hermes;
Eufemo – filho de Poseidon;
Euríalo –
Héracles ou Hércules – filho de Zeus;
Iolau – sobrinho de Hércules;
Hilas –  discícipulo de Hércules;
Poias –  amigo de Hércules;
Filoctetes – filho de Poias;
Idas e Linceu – os gêmeos rivais de Castor e Pólux;
Oileu –  pai de Ajax, e que era namorado de Apolo;
Meléagro;
Orfeu – o poeta que desceu aos Infernos, filho de Apolo e da musa Calíope, inspiradora da literatura;
Peleu –  pai de Aquiles;
Télamon – irmão de Peleu;
Palemon – o reparador, filho de Hefesto capaz de consertar praticamente tudo;
Poriclimeno – filho de Poseidon, que tinha o poder de se metamorfosear em qualquer animal marinho;
Talau – rei de Argos;
Tífis –  timoneiro que acabou morto durante a viagem;
Anceu – timoneiro que revezava enquanto Tífis dormia;
Ergino – timoneiro que revezava com Anceu e que substituíra Tífis, quando este morrera;
Anfiarau – adivinho célebre;
Admeto – filho de Feres.

CANTO XIX –CÍRCULO 8 – SIMONIA – VALA DOS SIMONÍACOS – ESPÍRITO DO PAPA NICOLAU III

Dante conversa com o papa Nicolau III que o confunde com o papa Bonifácio VIII, aguardado para substituí-lo.
Ilustração de Gustave Doré (século XIX)

(1) Simoníacos, traficantes de coisas divinas. O nome origina-se de Simão, o mago, mencionado no livro de Atos, capítulo 8: “Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: Dai-me também esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo” (vs. 18, 19 – trad. João Ferreira de Almeida). Simão tentou comprar dos apóstolos o poder do Espírito Santo e por isso seu nome está associado com o tráfego de coisas divinas. “A pena de se enterrar vivo com a cabeça enterrada e os pés para o ar era a punição desumana aplicada aos assassinos de aluguel, de acordo com a justiça e leis municipais de Florença, segundo o Ottimo Comento.” (Rocha, citando Longfellow) Os buracos se assemelham a fontes de batismo. Os simoníacos, que perverteram a igreja, são ‘batizados’ ao contrário, com óleo o fogo, aplicado aos pés. Vários condenados ocupam o mesmo buraco onde são empilhados, de cabeça para baixo, ficando apenas o mais recente com as pernas de fora. ( Rocha)

(53) O papa Bonifácio VIII que se tornou papa em 1294 ao persuadir o seu antecessor Celestino V a renunciar. Além dos desentendimentos com os italianos, o papa Bonifácio ficou conhecido principalmente devido aos seus constantes confrontos com o rei Filipe IV (o belo) da França. Várias vezes o papa se desentendeu com os priores de Florença, entre os quais, Dante, tendo por fim conseguido provocar a sua expulsão da cidade. (Rocha)

(56) A formosa mulher é a Igreja de Roma (Mauro, 2007)

(69) É o papa Nicolau III (eleito em 1277), da família Orsini, cujo brasão representava uma ursa, e que se valeu do cargo para enriquecer e distribuir favores a toda a sua família, os “ursinhos”, referência ao nome de sua família.(2007). Em seu mandato a simonia era praticada abertamente.

(82 a 84) O protegido da França é o papa Clemente V, francês, eleito em 1305 sob a influência do rei Felipe IV (o Belo) da França. Ele transferiu a sede do papado para Avignon onde permaneceu por 71 anos. (Rocha)  Depois de Bonifácio VIII veio Clemente V. (Mauro, 2007)

(94 a 96) Matias,  designado pelos Apóstolos para o posto que Judas Iscariotes havia perdido.(2007)

(107) Dante aplica à Igreja corrupta o símbolo do Apocalipse da Roma Imperial, cavalgando uma besta de sete cabeças e dez cornos (os sete dons do Espírito Santo e os dez mandamentos)que lhe valeram enquanto seus esposos (os papas) praticaram a virtude.(2007)

(115) – Acreditava-se que o imperador Constantino, em sinal de gratidão por São Silvestre tê-lo curado da lepra, tivesse doado a cidade de Roma à Igreja. (2007)

CANTO XX – CÍRCULO 8 – MAGIA E ADVINHAÇÃO – VALA DOS ADIVINHOS (4ª VALA)

(3) A “primeira canção” da Divina Comédia é o Inferno, onde estão “submersos” os pecadores.  (Mauro,2007)

(10 a 15) Os adivinhos têm a cabeça torcida de forma que não conseguem olhar para frente. É o contrapasso por alegar saber o futuro que só a Deus pertence. (Rocha)

(34) Anfiarau, adivinho e profeta, um dos sete reis que assediaram Tebas. (Mauro,2007)Anfiarau era filho de Ecles e Hipermnestra. Além de adivinho famoso, inspirado por Zeus e Apolo, era um guerreiro destemido, mas honesto e moderado, predicados próprios de um detentor de mantéia. Participou da expedição contra Tebas, junto com Adrasto. Anfiarau se notabilizou pela coragem e destemor. Derrotados, entretanto, pelos chefes tebanos, cinco dos Sete pereceram às portas da cidade de Édipo. Adrasto conseguiu salvar-se. Anfiarau fugiu e, no momento em que estava para ser alcançado por Teoclímeno, junto ao rio Ismeno, Zeus abriu a terra com seus raios e o herói-adivinho mergulhou vivo no seio da Grande Mãe. O pai dos deuses e dos homens concedera-lhe a imortalidade. (Brandão, 2000)

(40 e 43) Tirésias, personagem mítico das Metamorfoses de Ovídio.(Mauro, 2007 da ninfa Cárido7) Tirésias, filho de Everes e da ninfa Cáriclo, o herói pertencia, através de seu pai, à primitiva nobreza tebana, isto é, descendia dos Spartof, vale dizer, dos Semeados. Adivinho famoso, corresponde na vida religiosa  ao papel e importância exercidos por Calcas na vida militar. Este fazia parte do ciclo troiano, aquele do ciclo tebano.  Há duas versões para os dons divinatórios de Tirésias. Em uma delas, Tirésia, na puberdade, tinha visto a sua mãe e Atená tomando banho nuas na fonte de Hipocrene. A deusa furiosa o cegou. Cáriclo reclamou  da crueldade da punição e a filha de Zeus concedeu a Tirésias dons maravilhosos. Deu-lhe de saída um bordão mágico, que o guiava como se tivesse olhos. Purificou-lhe, em seguida, os ouvidos, para que pudesse compreender e interpretar o canto dos pássaros. Em outra versão, mais seguida pela tradição, todavia, os fatos relatados são bem diferentes. A mantéia (poder divinatório) do profeta tebano era conseqüência de um castigo e de uma compensação. Na puberdade, Tirésias na época da sua dokimasía, a saber, das “provas”  de caráter iniciático porque passava todo jovem, ao ingressar  na efébia e, em seguida, participar da vida da polis,  escalou o monte Citerão e viu duas serpentes que se acoplavam num ato de amor. Ele as separou e segundo outra fonte, matou a serpente fêmea. O resultado foi desastroso, o adolescente tornou-se mulher. Sete anos mais tarde, subiu o mesmo Citerão e, encontrando cena idêntica, repetiu a intervenção anterior, matando dessa vez a serpente macho, e recuperou o seu sexo masculino.  Certa feita, no Olimpo, Zeus e Hera discutiam sobre “Quem teria maior prazer num ato de amor, o homem ou a mulher?” Tirésias foi chamado para arbitrar a questão, exatamente por ele ter vivido as duas situações. Ele disse, sem hesitar, que se um ato de amor fosse fracionado em dez parcelas, a mulher teria nove e o homem apenas uma. Hera, furiosa, o cegou, porque ele havia descoberto o grande segredo da mulher, e, sobretudo, porque no fundo, ele estava decretando a superioridade do homem, pela capacidade de provocar tanto prazer à mulher.  Zeus, agradecido, concedeu-lhe dons divinatórios extraordinários; o privilégio de viver sete gerações humanas e guardar, após a morte, as faculdades intelectuais. (2000)

(46) – Aronta, arúspice etrusco, citado na Farsália  de Lucano. (Mauro,2007)  Ele previu a guerra civil romana e seu desfecho. (Rocha)

(51) Tebas  (Mauro,2007)

(55 a 60) Manto, filha de Tirésias, possuía igual ao pai o dom divinatório, outorgado por Apolo. Alquebrado e carente de visão, o mantis máximo da Hélade foi retirado das cinzas de Tebas, destruída pelos Epígonos, e conduzido pela filha em direção a Delfos. Tirésias, porém, faleceu em Haliarto, na Beócia, antes de chegar à cidade sagrada do filho de Leto.. Os argivos, antes da vitória final sobre os tebanos, haviam prometido a Apolo “o que houvesse de mais belo no espólio”, e Manto foi a escolhida como “oferta ao deus”. Ela permaneceu longo tempo em Delfos, aperfeiçoando-se na arte divinatória e exercendo a função de Pitonisa. Casou-se com o cretense Rácio e deu-lhe um filho, tido por alguns como de Apolo, cujo nome era Mopso, e veio a ficar famoso pela sua rivalidade com o grande adivinho Calcas. (Brandão,2000) Na Eneida,  de Virgílio, ele se refere a Ocno filho da profetisa Manto e do rio Toscano, aquela que te deu muralhas, e o nome da sua mãe, ó Mântua rica em ancestrais…(Virgílio, 2003, p.269)

(61) Agora Lago de Garda. (Mauro,2007)

(65) Não a cadeia do Apenino, mas o nome de outro monte.(2007)

(67) Ponto onde se encontram as divisas dessas três paróquias. (2007)

(95 a 96) Pinamonte, mediante ardil, afastou o regente Casalodi da cidade e se apossou do governo de Mântua.(2007)

(110) Eurípiles, arúspice, determinou o momento propício para o corte das amarras (a partida das naus gregas reunidas em Áulide). (2007)

(116,118,124 e 127) Michael Scott, astrólogo de Frederico II.(2007) Ele havia previsto que sua morte viria com a queda de uma pequena pedra na sua cabeça. Para se prevenir, Michael sempre usava um capacete de aço sobre seu capuz. Ao entrar, um dia, numa igreja durante a festa de Corpus Domini, ele tirou o capuz em sinal de respeito (não a Cristo, no qual ele não acreditava, mas com a intenção de ganhar popularidade entre as pessoas simples) e uma pedra caiu do teto da igreja atingindo sua cabeça desprotegida e o matou. (Rocha, citando Longfellow) Guido Bonatti – também astrólogo de Frederico II. Asdente, ex-sapateiro, depois conhecido astrólogo e vidente de Parma. (Mauro,2007) A lua, tendo chegado em seu percurso até o extremo ocidental da esfera celeste, já toca, em seu ocaso, as ondas do mar. A Lua era identificada, na lenda popular, com a imagem de Caim carregando seu feixe de espinhos (as manchas lunares). (2007) Cronologia: o dia já amanhece (7 horas da manhã) no sábado de aleluia, segundo a descrição de Virgílio. (Rocha)

CANTO XXI – CÍRCULO 8 – CORRUPÇÃO – (BARATARIA).  – VALA DOS TRAFICANTES  (5ª VALA) – MALEBRANCHE (DEMÔNIOS)

Corruptos (barateiros), acusados de barataria (ação de dar tendo em vista benefício pessoal), como os juízes que recebem propinas para alterarem o julgamento ou políticos que só defendem  interesses de seus representantes em troca de favores. “Os corruptos são para a cidade o que os simoníacos são para a Igreja. Eles tiram proveito da confiança que a sociedade deposita neles; e o que vendem é justiça. Assim como os simoníacos eram enterrados na pedra fervente, os corruptos são submersos na pez fervente, pois suas negociatas são secretas.” (Rocha, citando Sayers)

(37) Malebranche, nome da legião de demônios que guarda a vala dos corruptos. Malebranche significa literalmente “malvadas garras”.

(Rocha) Santa Zita, padroeira da cidade de Luca. Lá, os magistrados eram chamados de anciãos (em Florença, por exemplo, eram chamados de priores). (Rocha) “Anziani”, chefes dos magistrados de Luca que eram devotos de  Santa Zita. (Mauro, 2007)

(40) Bonturo Dati, chefe popular de traficantes em Luca. (2007)  O mais corrupto dos anciãos de Santa Zita. Quando o demônio diz que todos são trapaceiros com exceção de Bonturo, ele está falando com ironia, pois Bonturo distribuía empregos e cargos a quem o apoiava, assim como excluía quem não lhe agradasse. (Rocha, citando Longfellow)

(48) Nome de um crucifixo guardado na Basílica de Luca. (Mauro, 2007)

(49) Serchio, rio próximo de Luca.(2007)

(76) Malacoda, demônio. Significado literal do nome: malvada cauda. (Rocha)

(95) Assédio e rendição castelo de Caprona, em Pisa, que Dante participou em 1289. (Mauro,2007)

(103) Scarmiglione – demônio. Significado do nome: cabelos despenteados.

(114) O desmoronamento da ponte é atribuído ao terremoto que abalou a terra na hora da morte de Cristo na cruz.(Mauro, 2007) Cronologia: há 1266 anos (1300 – 1266) Cristo era crucificado e descia ao inferno. Na ocasião houve um grande terremoto que derrubou a ponte sobre a sexta vala e causou o deslizamento de terra entre o sexto e sétimo círculos (Canto XII). A descida ao inferno teria ocorrido na nona hora (depois do nascer do sol), o que corresponde às três horas da tarde, portanto, são aproximadamente dez horas da manhã de sábado. (Rocha)

(118 e 121) Os demônios: Significado literal dos nomes: Calcabrina – pisa neve; .Alichino – asa baixa; Cagnazzo – focinho de cão; Barbariccia – barba crespa; Libicocco – libiano; Draghignazzo – dragão feio;  Graffiacane – esfola-cães; Ciriatto – porcalhão; Farfarello – duende;  Rubicante – vermelhaço. (Rocha, citando Pinheiro)

CANTO XXII – CÍRCULO 8 – CORRUPÇÃO (BARATARIA) – ESCOLTA DE 10 DEMÔNIOS

(52) Thibault II, rei de Navarra.(Mauro, 2007)

(82) Frade Gomita, de Gallura, uma das quatro seções da Sardenha, acabou sendo enforcado como traficante. (2007) Ele era chanceler de Nino Visconti, governador de Pisa. Aproveitando o seu status social e a boa fé de Nino, que ignorava as acusações contra ele, frei Gomita se envolveu com a venda de cargos públicos. Quando Nino descobriu que o frade havia aceitado propina em troca da libertação de prisioneiros, mandou enforcá-lo.(Rocha, citando Musa)

(88) Michel Zanche, de Logodaro, Sardenha, de quem pouco se sabe, é citado no Canto XXXIII, verso 137, como tendo sido envenenado por seu genro Branca d’Oria. (Mauro, 2007)Acredita-se que tenha sido governador de um dos distritos da Sardenha. Após a morte do rei da Sardenha, Dom Michel utilizou recursos fraudulentos para conquistar a viúva do rei. (Rocha, citando Longfellow)

CANTO XXIII –CÍRCULO 8 – HIPOCRISIA—VALA DOS HIPÓCRITAS – FRADES GAUDENTES

(4 a 6) Na fábula de Esopo  um rato da terra trava amizade com uma rã que, de caso pensado, acorrenta a pata dele à sua própria pata. De início, foram comer trigo nos campos e, depois de se aproximarem de uma lagoa, a rã pulou com o rato para o fundo da água, e ela ficou brincando e coaxando alegremente. Como era de se esperar, o rato morreu afogado, mas continuava emergindo por estar preso à pata da rã. Um milhafre que vira tudo isso, pegou o rato com suas garras, e a rã presa pela corrente, também seguiu o mesmo caminho: virou comida para o milhafre. Moral: Mesmo após a morte é possível alguém ser vingado, pois a justiça divina que tudo vê retribui na mesma moeda. (ESOPO)

(58 a 72) Os hipócritas aparecem vestidos com roupa brilhante, visualmente atraente, porém pesada como chumbo. O contrapasso é o peso que não sentiram na consciência ao pregarem uma coisa e fazerem outra. No inferno, sentem finalmente o peso do falso brilho.(Rocha). Do convento de Cluny, na Borgonha .Frederico II condenava criminosos a vestirem capas de chumbo expondo-os em seguida ao fogo até à morte. (Mauro, 2007)

(103) Frades Gaudentes (frades alegres) Os monges da Ordem dos “Cavaleiros de Maria Virgem e Gloriosa” foram apelidados, por seu comportamento mundano e relaxado, de“frades gaudentes”.(2007) Apelidados de frades alegres por não se retirarem em conventos, como os frades de outras ordens, e não estarem sujeitos a regras rigorosas, como o celibato. Dedicados à manutenção da paz entre as facções políticas que dividiam as famílias, protegendo viúvas e órfãos. Dois frades gaudentes que atuavam em Florença, Catalano e Loderingo, se desviaram de suas funções de pacificadores e tomaram partidos, pensando mais em benefícios pessoais que sociais, e ganharam fama pela sua hipocrisia. (Rocha, citando Longfellow)

(104 a 108) Catalano e Loderingo, um guelfo e o outro gibelino, eleitos juntamente para prefeitos de Florença, para conservá-la em paz entre as duas facções, mas traíram o intento favorecendo a revolta popular que destruiu a casa dos Uberti no bairro de Gardingo. (Mauro, 2007)

(115) Fariseu é Caifás, alto sacerdote dos Judeus, propôs a morte de Cristo e ao defendê-la disse: “Vós nada sabeis! Vós não percebeis que convém que um só homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação.” (Evangelho de João 11:50) (Rocha)

CANTO XXIV – CÍRCULO 8 – ROUBO E FURTO—VALA DOS LADRÕES –- ESPÍRITO DE VANNI FUCCI
Ladrões torturados por serpentes na sétima vala do Malebolge. Ilustração de Gustave Doré (Século XIX).

(1) A noite terá a mesma duração do dia no equinócio de primavera, a 22de março.(Mauro,2007)

(4) A neve. (2007)

(91 a 94) Heliotropia é uma pedra preciosa de cor verde com manchas vermelhas que se acreditava tornar invisível quem a portasse. (2007) Os ladrões recebem no inferno como contrapasso (retribuição) o roubo constante de seus corpos por serpentes e outros répteis mutantes que os atravessam e os desintegram, roubando seus traços humanos. (Rocha)

(125) “Mulo” por ser bastardo, filho ilegítimo de Fuccio de Lazzari, de Pistóia.(Mauro,2007)  Vanni Fucci, militante ativo dos Neri de Pistóia, conhecido como um homem violento e depravado, mas que raramente era punido pois pertencia a uma família nobre e influente. Tendo sido banido de Pistóia por seus crimes, ele voltou à cidade na noite de Carnaval e roubou as jóias da sacristia da igreja de San Giacomo. Por tal crime um homem inocente (Rampino dei Foresi) foi preso, mas Vanni Fucci, que já havia deixado a cidade, enviou uma nota denunciando o receptador, que foi preso e enforcado, enquanto Rampino foi libertado (Rocha, citando Longfellow e Sayers)

(143 a 150) Isto é: primeiro Pistóia expulsa muitos “negros”, que depois são recebidos por Florença. Marte faz chegar de Val di Magra um raio (Moroello Mala-Spina, chefe dos “negros”) envolto em nuvens turvas. Sob uma tempestade esse raio romperá as nuvens, isto é, as forças dos “brancos”, que serão todos feridos. (Mauro,2007)

CANTO XXV – CÍRCULO 8 – ROUBO E FURTO – VALA DOS LADRÕES – TRANSFORMAÇÃO EM RÉPTEIS

(10 a 12) Pela lenda, os primeiros habitantes de Pistóia teriam sido os derrotados  seguidores de Catilina. (Mauro,2007) Catilina (Lúcio Sérgio Catilina ) morreu em Pistóia, no ano de 62 a .C.. Filho de família em decadência econômica, prestou serviço militar na guerra civil de 89 a.C. ao lado do ditador Sila. Em Roma ganha o favor de figuras importantes e cai nas graças do povo devido à sua política populista. Catilina apoiava os libertos (escravos libertados). Concorre às eleições de cônsul em 64 perdendo-as para Cícero, o que motivou a inimizade entre os dois políticos, com direito a  feroz batalha política com acusações mútuas para todos os gostos, desde acusações de assassínio do próprio filho até tentativas de assassinato. O senado, sob a pressão de Cícero, decreta uma lei dando poderes extraordinários ao cônsul para lidar com a ameaça de Catilina o senatus consultum ultimum. Catilina abandona Roma após o célebre discurso de Cícero, Quosque tandem abutere Catilina patienta nostra. Catilina parte em direção ao exílio em Massilia (atual Marselha) seguido por considerável numero de jovens romanos, libertos e ex-combatentes partidários de Sila. A rápida ação de Cícero permitiu capturar e executar os líderes do movimento em Roma, enviando depois, força militar contra as tropas de Catilina – compostas na sua maioria por aventureiros e escravos recrutados. A batalha campal dá-se junto de Pistóia. Apesar das recompensas oferecidas por Cícero para abandonarem Catilina, ninguém o abandonou. Ele enfrenta o exército do senado  uma desproporção de três para um, e perde inevitavelmente a batalha tendo o seu cadáver sido encontrado no meio dos seus inimigos isolado na linha da frente. É reconhecida pelos seus inimigos a sua bravura e nenhum corpo dos rebeldes foi encontrado com feridas nas costas.(Wikipédia)

(15) Capaneu, (XIV,63) (Mauro,2007)

(19) Maremma, região pantanosa e desabitada da Toscana.(2007)

(25) Caco, filho de Vulcano, roubou o rebanho de Hércules, seu vizinho, que o matou a golpes de clava. (2007) Caco, gigante que na obra de Virgílio (Eneida), era considerado semi-humano. Dante o retrata como um centauro, irmão dos centauros que guardam o sétimo círculo. Vivia numa caverna sob o monte Aventina. Foi morto por Hércules de quem roubou várias cabeças de gado.(Rocha, citando Musa e Sayers) Vulcano é o deus do fogo, na mitologia grega. Hércules, herói da mitologia grega, conhecido pela sua força e coragem. Filho de Júpiter com uma mortal, foi alvo do ciúme de Juno que enviou duas enormes serpentes para matar o filho ilegítimo. Hércules, embora ainda um bebê, estrangulou as cobras. Quando jovem, Hércules matou um leão com suas próprias mãos. Ele se casou com uma princesa de Tebas e com ela teve três filhos. Novamente foi vítima da ira de Juno que lhe fez perder o juízo e matar toda a  família. De remorso, Hércules teria se matado se não fosse o oráculo de Delfos que disse que ele seria purgado aceitando ser o servo do rei de Micenas. O rei, incitado por Juno, arquitetou como pena 12 tarefas, impossíveis para qualquer mortal. Entre elas estava trazer Cérbero ao mundo superior sem usar armas e o roubo do gado do monstro Gerión. Esta última tarefa fez Hércules viajar à Espanha, viagem que marcou ao partir em duas partes uma grande pedra que deu origem aos rochedos de Ceuta e Gibraltar (as colunas de Hércules). Hércules cumpriu todas as tarefas e depois se casou com Dejanira, que ganhou como presente de Anteu , filho de Netuno. (Rocha)

(43) Cianfa dei Donati, nobre florentino. É ele que aparece pela primeira vez como um réptil de seis patas, agarra Agnel e com ele se mescla. (Rocha) Agnel é Agnello dei Brunelleschi, nobre florentino. Ele aparece inicialmente como uma alma humana, mas é depois mesclado com Cianfa, que aparece como uma serpente de seis patas. Transformação em répteis: Os pecadores que se transformam em répteis neste Canto são nobres florentinos. Dorothy Sayers explica esta alegoria da seguinte forma: “os ladrões, que não faziam distinção entre o meu e o seu, não podem considerar suas formas e suas personalidades como propriedade sua.” As transformações são as seguintes: Agnel, aparece como homem e se funde com Cianfa, que surge como um monstro de seis patas. Buoso aparece primeiro como homem e depois troca formas com Francesco que primeiro aparece como um réptil cinza. (Rocha, citando Sayers)

(85) No umbigo, onde o feto recebe a alimentação. (Mauro,2007)

(95 e 97) Na Farsália, de Lucano, dois soldados de Catão mordidos por serpentes; Sabellus definhou em cinza e Nasídius inchou até estourar.  Nas Metamorfoses  de Ovídio,  Cadmo foi transformado em serpente e Aretusa em fonte. (2007)

(140) Alguns comentaristas acham que este personagem (que Dante menciona simplesmente como “Buoso”) não é Buoso Donati, mas Buoso degli Abati. Ambos nobres florentinos que teriam enriquecido apropriando-se da propriedade alheia. Buoso aparece com forma humana mas depois se mescla com Francesco e parte como réptil de quatro patas.(Rocha)

(142) “A sétima borra”, a escória da sétima vala. (2007)

(149) Puccio Sciancato, nobre florentino. É o único que não se transforma em serpente durante a visita de Dante. (Rocha)

(151) Francesco Cavalcanti, morto por gente de Gaville, próxima de Florença, que ainda chora o cruel morticínio que em retaliação veio a sofrer pelos amigos do morto.(2007) Francesco surge como um réptil de quatro patas e troca de formas com Buoso.(Rocha)

CANTO XXVI – CÍRCULO 8 –  MAUS CONSELHOS – VALA DOS MAUS CONSELHEIROS – ESPÍRITO DE ULISSES

Os maus conselheiros são os que induziram outros a praticar a fraude. De acordo com Dorothy Sayers “o fogo que atormenta também oculta os conselheiros da fraude, pois o pecado deles foi cometido às escondidas. E como pecaram com suas línguas, agora a fala só pode passar pela língua da chama furtiva.” (Rocha, citando Sayers)

(9) Prato, cidade próxima a Florença, que a dominava. (Mauro, 2007)

(34) Eliseu, o profeta que chamou os ursos para vingá-lo da zombaria de uma multidão de rapazes, viu seu mestre Elias ser raptado por um carro de fogo que subiu para o céu. (2007)

(54) Eteócles e Polinice, os irmãos inimigos e recíprocos matadores das tragédias de Ésquilo e Eurípides. Em sua pira funerária comum, até as chamas dividiram-se em duas. (2007)Etéocles, herói do ciclo tebano, filho de Édipo e Jocasta, irmão de Poliníce, Antígona e Ismene. Após a descoberta do incesto de Édipo, os irmãos Etéocles e Polinice, seus filhos, segundo uma variante, expulsaram de Tebas “o pai-irmão”.Édipo que os amaldiçoou, além de vaticinar (todo cego é mantis) que eles se matariam reciprocamente, lutando um contra o outro. Para fugir da maldição, os dois príncipes resolveram governar Tebas alternadamente, reinando cada qual um ano. O primeiro a assumir o poder foi Etéocles. Findo o prazo de um ano, Polinice exigiu o cumprimento do acordo, mas Eteócles recusou-se a entregar-lhe o trono. Face à recusa absurda do irmão, Polinice dirigiu-se a Adrasto, seu sogro e rei de Argos que, junto com ele, organizou a trágica expedição dos Sete Contra Tebas. A expedição reuniu sete príncipes chefiados por Adrasto que marcharam em direção a Tebas a fim de derrubar Etéocles e entronar seu irmão. Além de Adrasto e Polinice, participaram da expedição Anfiarau, Capaneu, Hipómedon, Partenopeu e Tideu. Antes do confronto, Polinice mandou Tideu  tentar convencer o irmão a cumprir a palavra empenhada e o juramento feito. Etéocles cego de ódio e fascinado pelo poder não quis ouvir a voz da razão e da justiça. Os Sete marcharam contra Tebas e foi um desastre sangrento que culminou com a morte de Eteócles e Polinice, conforme a maldição. Creonte mandou que organizassem funerais suntuosos para Etéocles e proibiu, sob pena de morte, que se desse sepultura a Polinice “invasor da terra natal”. Inconformada com a proibição, Antígona desafiou o edito e mesmo sabendo que ia morrer, enterrou ritualmente Polinice. Afinal, disse ela, “a morte iguala a todos”.

(Brandão, 2000) Essa tragédia está em Ésquilo ( Os Sete contra Tebas),  e Sófocles (Antígona).

(56 a 65) Diomedes, filho de Tideu e de Dêipila, filha de Adrasto e rei de Argos. Ele aparece quase sempre ao lado de Ulisses na guerra de Tróia, numa união perfeita de astúcia e bravura. Com Ulisses foi para a ilha de Ciros a fim de conseguir que Aquiles participasse da luta contra os troianos; colaborou com  ele para forçar Agamêmnon a sacrificar Ifigênia; participou igualmente da Dolonia, a sortida noturna dos dois heróis aqueus, que surpreendem o troiano Dólon, matam-no, depois de saberem o lugar onde acampava Reso, rei da Trácia, que viera em socorro dos troianos. Assassinam a Reso e apossam-se de seus cavalos (Canto X da Ilíada).(Brandão, 2000) Ulisses e Diomedes, autores do logro do cavalo de Tróia, do ardil que levou Aquiles para as armas abandonando Deidâmia e do furto da estátua de Palas que afiançava a inexpugnabilidade de Tróia. (Mauro, 2007)

(60) Enéias, surgindo de sua Tróia derrotada, encontrou abrigo na Itália, onde foi “semente” do futuro império romano. (2007) (Ver Cantos I,II e V)

(62) Ao decidi ir com Ulisses, Aquiles abandonou Deidâmia, filha do rei Licomedes.

(93) No tempo em que Ulisses, enleado por Circe, ficou em Gaeta, Enéias, que assim a nomeou, ainda lá não estivera. (Mauro, 2007) A fala é de Ulisses e ele se refere aos entes queridos que deixara em Ítaca:  filho ternura, Telêmaco; velho pai, Laertes; justo amor, Penélope. Penélope, segundo a mitologia grega, princesa de Esparta e esposa de Odisseus (Ulisses), que lutava na guerra de Tróia, esperou  mais de 20 anos por ele,  mas nunca duvidou de que ele voltaria. Embora fosse constantemente assediada por inúmeros pretendentes, ela sempre os dispensava dizendo que não podia escolher um novo esposo enquanto não terminasse uma colcha que tecia para seu sogro Laertes. Toda noite ela desfazia o trabalho feito durante o dia e assim evitava ter que fazer a escolha. Uma noite, porém, ela foi surpreendida por uma criada que revelou seu segredo e foi assim obrigada a concluir o trabalho. Quando os pretendentes estavam prontos a ouvir sua decisão, Ulisses voltou, disfarçado, matou todos eles e reencontrou Penélope.

(101) – Companha – (Ant.): tripulação de barco. (Mauro, 2007)

(103 a 142) Na concepção de Dante, o hemisfério sul seria todo de água, com a montanha do Purgatório em seu pólo, antípoda de Jerusalém, centro do hemisfério norte, seco e habitado (XXXIV, 112-126)  (2007) A viagem de Ulisses, cujas aventuras foram narradas por vários outros autores, além de Homero (Odisséia). No Inferno, Ulisses diz que atravessou o mediterrâneo até onde Hércules ergueu os seus resguardos, os pilares (estreito de Gibraltar), na Espanha, e pelo rochedo de Ceuta (Abila), em Marrocos, que separam o mar Mediterrâneo do oceano Atlântico. No mundo antigo acreditava-se que os pilares de Hércules sinalizavam o ponto onde acabava o mundo habitado (na época, só se conhecia três continentes: Europa, África e Ásia). De acordo com a mitologia clássica os montes antigamente formavam um só rochedo que foi partido em dois por Hércules.  Ulisses foi além dos rochedos, virou para o sudoeste e navegou por mais cinco meses quando finalmente viu, no horizonte, a forma de uma altíssima montanha. Jamais conseguiu chegar até lá, pois antes um redemoinho afundou sua embarcação, matando ele e todos os seus tripulantes. A montanha era o monte do purgatório, que fica do outro lado do mundo. (Rocha)

CANTO XXVII –CÍRCULO 8 –   MAUS CONSELHOS – VALA DOS MAUS CONSELHEIROS – ESPÍRITO DO FRADE GUIDO DE MONTEFELTRO

(7 e 12) Faláride, tirano de Agrigento, mandou construir um boi de cobre em cujo interior fechava sua vítima e em seguida a expunha ao fogo. Experimentou sua idéia em seu próprio executor. (Mauro, 2007) Agrigento (ou Girgenti como é mais conhecida)  da região da Sicília, capital da província de Agrigento, A cidade foi fundada em 581 a.C. por alguns habitantes da Gela, com o nome de Acragas, homónimo ao rio que banha o território. Píndaro a chamava de “a cidade mais bela dos mortais”, devido as maravilhas do Vale dos Templos.. Ali foi instalada a tirania de Falaride (570-554 a.C.). Apesar da sua política de expansão para o interior, de fortificação das muralhas e embelezamento da cidade, ele ficou conhecido pela crueldade e era odiado pelo povo, morrendo apedrejado. O “touro de fogo”, sua criação, é uma das peças do tesouro original do Museu do Crime de Roma. (Wikipédia)

(28) Romanha, região histórica da Itália setentrional, atualmente faz parte da região da Emília-Romanha, formada pelas províncias de Ravenna, Forlì-Cesena, Rimini e partes da província de Bolonha (cercanias de Imola). Pequena parte dela encontra-se também na região das Marcas e da Toscana (Wikipedia)

(41) Guido de Polenta, cujo brasão representatava uma águia, queria, além de Ravena, conquistar a pequena e próxima Cérvia. (Mauro,2007). Os governantes de Polenta reinaram sobre Ravenna por cento e setenta anos (até 1441) e em seus territórios estava incluída a Cérvia. (Rocha).

(43) Forli, que tinha vencido as tropas francesas mandadas pelo papa Martinho IV, está sob as ordens de Oderlaffi, cujo brasão ostenta um leão verde em campo dourado.(Mauro,2007)A província de Forlì-Cesena pertence à Emília-Romanha. (Wikipédia)

(46) Verrucchio, perto de Rímini, está nas mãos da família Malatesta que mandara assassinar Montagna, chefe dos Gibelinos em Rímini. (Mauro, 2007) Os mastins de Verruchio são os tiranos Malatesta e seu filho Malatestino de Rimini. Eles mataram Montagna dei Parciati, um guibelino também de Rimini. (Rocha)

(49) Faenza, sobre o rio Lamone, e Ímola, próxima do rio Santerno, estão sob Maghinardo dei Pagani, cujo brasão é um leão azul em campo branco. (Mauro,2007) Comuna italiana da região da Emília-Romanha, província de Ravenna. (Wikipédia)

(52) Cesena,.comuna italiana da região da Emília-Romanha, banhada pelo rio Savio. (Wikipédia)

(67) Guido de Montefeltro (1223-1298) é a chama que fala neste Canto. Capitão guibelino famoso por sua sabedoria e estratégia militar. Obteve sucesso em batalhas contra os guelfos. Chegou a ser excomungado, mas se reconciliou com a Igreja, entrando para a ordem dos franciscanos. O filho, Buonconte, morreu em 1289 lutando pelos guibelinos na batalha de Campaldino, na qual Dante lutava do outro lado, pelos guelfos. (Rocha)

(70) O papa Bonifácio VIII. (Mauro,2007)

(85) -O príncipe dos novos fariseus é o papa Bonifácio VIII.(Rocha)

(89) São João de Acri, último baluarte dos cristãos na Palestina em 1291.(Mauro,2007)

(94) O Imperador Constantino pediu ao papa Silvestre que o curasse da lepra, e ao sarar lhe fez doação da cidade de Roma para sede do papado (XIX,115) (2007)

(102) Penestrino, fortaleza de Palestrina da família Colonna que, após se render sob enganosos compromissos, foi destruída por Bonifácio VIII. (2007) A família Colonna, excomungada pelo papa Bonifácio VIII (por não considerar legítima a renúncia do papa Celestino V, obrigado a deixar o cargo por insistência de Bonifácio), se refugiou na fortaleza Penestrino, que pôde suportar os ataques das tropas papais. Por sugestão do frade Guido, Bonifácio prometeu anistia total à família Colonna que, acreditando na sua boa fé, se rendeu. Bonifácio prendeu-os e destruiu o palácio. (Rocha)

(127) “Ladro Fogo” porque ele rouba e envolve as presas para mantê-las escondidas. (Mauro, 2007)

CANTO XXVIII – CÍRCULO 8 –  CISMA E INTRIGA: MAUS CONSELHOS – VALA DOS SEPARATISTAS – MAOMÉ E BERTRAN DE BORN

Bertran de Born, condenado a ter a cabeça separada do corpo, por ter causado a separação de pai e filho. Ilustração de Gustave Doré (século XIX).

 

 

 

 

 

Os semeadores de discórdias dividem-se  em três tipos: (1) criadores de cismas religiosos (Maomé, Ali), (2) instigadores de conflitos sociais (Caio Cúrio, Pier da Medicina), e (3) semeadores de desunião familiar (Bertran de Born e Mosca) (Rocha, citando Sayers). O demônio que os pune causa mutilações em partes do corpo representativas do tipo de discórdia provocada.

(9, 10) Apúlia,  Itália meridional, conquistada pelos troianos chegados com Enéias. (Mauro, 2007)

(10,11) Nas longas guerras púnicas, Anibal recolheu grande butim de anéis retirados dos romanos mortos em batalha.(2007) Lívio, autor da obra histórica intitulada “Ab urbe condita” (“Desde a fundação da cidade”), onde relata a história de Roma da fundação 753 a.C. até ao início do século I da era comum, mencionando os reis, tanto os primeiros como os Tarquínios.(Wikipédia)

(14) Roberto Guiscardo, normando que conquistou vastas regiões meridionais da Itália.(Mauro,2007)

(15 e 18) Em Ceperano, barões napolitanos traíram o Reino deixando passar forças de Carlos I de Anjou. Em Tagliacozzo, Carlos I venceu pela estratégia do conselheiro Alardo de Valéry. (2007)

(31 e 32) Maomé (570-632), fundador do Islã, cujos ensinamentos proféticos abrangiam de princípios políticos até sociais e religiosos, base da civilização islâmica, grande influência na história mundial. Nascido em Meca (Arábia), ficou órfão de pai e mãe antes dos seis anos, sendo criado pelo tio. Tornou-se, como a maioria de sua tribo, ativo comerciante e fez várias viagens à Síria onde conheceu Khadija, viúva, cujos negócios ele passou a administrar. Impressionada com a sua honestidade ela lhe pediu em casamento e ele aceitou. Maomé teve a oportunidade de ouvir judeus e cristãos pregarem religião nas feiras de Meca, e, freqüentemente, se retirava para orar e meditar sobre as questões que eles levantavam. Num dos retiros, teve a visão do arcanjo Gabriel que o proclamou profeta de Deus. Inicialmente assustado com a responsabilidade que lhe foi passada, aos poucos foi assumindo sua missão profética e passou a pregar em público, tendo como primeiros seguidores a esposa e o primo Ali. Ele pregava a existência de um único Deus, do juízo final e lutava pela justiça social e econômica. Maomé formalizou suas revelações no Corão, que se tornou livro sagrado. Afirmou ser o último dos profetas e o Corão a última das revelações. Por pregar contra as tradições tribais, Maomé foi perseguido, refugiando-se em Medina. O início do exílio marca o início do calendário islâmico. Lá, ele estabeleceu o império islâmico, implementando amplas reformas sociais, porém dando autonomia aos judeus e cristãos. Salvatore Viglio comenta sobre sua presença no inferno: “Dante pertence a uma época em que eram freqüentes os conflitos entre cristãos e muçulmanos e vivos os horrores das invasões dos grupos islâmicos sobre as nações cristãs. Embora admire a cultura árabe, não sai do clima de hostilidade religiosa, proveniente da pregação das Cruzadas. Dentro da mentalidade da Idade Média, considera Maomé cristão dissidente, que, por vaidade, teria separado grande parcela da humanidade da verdadeira Igreja de Cristo.” Para os muçulmanos, Maomé foi precedido em seu papel de profeta por Jesus, Moisés, Davi, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão. Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até à Península Ibérica.Não é considerado pelos muçulmanos como um ser divino, mas sim, um ser humano; contudo, entre os fiéis, ele é visto como ser humano perfeito.(Wikipédia e Rocha, com citações de Encarta e Viglio)]Ali (600-661), primo de Maomé, foi um dos seus primeiros seguidores, casou-se com Fátima, a única das filhas do profeta que sobrevivera à idade adulta.

(55 a 60) – Frei Dolcino, herético e reformador, assediado com seus seguidores nas montanhas da Lombardia, teve de se render às forças do papa Clemente V, guiadas pelo bispo de Novara (o Novarês), e acabou na fogueira. (Mauro, 2007) Reformador mal sucedido da Igreja Cristã. A sua seita, Os Irmãos Apostólicos, pregava a volta da religião à simplicidade dos tempos dos apóstolos, o fim da propriedade privada, a comunhão dos bens e das mulheres. Sustentava que a eucaristia não podia conter o corpo de Cristo, a confissão dos pecados a padres humanos e pecadores era inútil, a cruz não deveria ser adorada como símbolo divino e que o batismo com água benta não tinha valor espiritual algum, entre outras doutrinas consideradas heréticas pela Igreja de Roma. O papa Clemente V baniu a seita e ordenou o fim da irmandade. Fugiram, então, Dolcino e os seguidores, para as proximidades de Novarra onde resistiram às forças do papa durante um ano, até que finalmente foram vencidos pela fome. (Rocha, citando Musa). Dolcino e a companheira, a bela Margareth de Trento, foram condenados à fogueira em 1307, mas antes torturados cruelmente. Margareth, queimada primeiro, num fogo lento, diante de Dolcino. Este, depois de assistir à morte da companheira, preso a uma carroça puxada por bois, desfilou por várias ruas da cidade. Em sua volta havia vários potes de ferro cheios de brasas. Mergulhadas nas brasas estavam grandes pinças de ferro, incandescentes. Durante o desfile pela cidade, as pinças eram aplicadas em várias partes do corpo nu de Dolcino, até que toda a pele tivesse sido arrancada. No final, a carcaça foi jogada sobre o que sobrou de Margareth. (Rocha, citando Longfellow). Para a igreja, a doutrina de Dolcino era extremamente perigosa por causa das posições contrárias às determinadas por Roma e por influenciar tantos seguidores. Os culpados, quando capturados, sempre eram submetidos a torturas exemplares. No livro O Nome da Rosa, o escritor Umberto Eco narra episódio onde religiosos são acusados de heresia por seguirem princípios da seita de Dolcino. (Rocha)

(73 a 75) Píero, de Medicina, cidade próxima de Bolonha, era semeador de discórdia entre os senhores da Romanha.(Mauro, 2007) De acordo com o estudioso Benvenuto da Imola, ele era instigador de rixas entre as famílias de Polenta e de Malatesta.Suas mutilações ocorrem na garganta (que usava para mentir e espalhar intrigas), no nariz (que usava para farejar segredos alheios) e na orelha (que usava para escutar através das portas e paredes).(Rocha, citando Musa) Vercelli, província italiana da região de Piemonte.

(76) (77) Fano, comuna italiana, região dos Marche, província de Pesaro e Urbino. Guido del Cassero e Angioliello da Calignano cidadãos de Fano, mortos por afogamento em Cattolica, cidade às margens do mar Adriático, perto de Rimini, numa região conhecida pelo  mar turbulento. O afogamento foi cumprimento de ordem de Malatestino de Rímini (Rocha, citando Sayers)

(81) Malatestino de Rímini, nobre guelfo da família dos Malatesta, cego de um olho, (XXVII,46) (Mauro, 2007) Dante o chama de “mastim novo de Verrucchio” (o velho é Malatesta). (Rocha)

(83) Netuno, por antonomásia, o mar.Primeiros navegadores gregos, muitos piratas. (Mauro,2007).

(89) Focara , localidade famosa por suas ventanias perigosas para a navegação. (2007)

(93 a 102) Caio Cúrio fora condenado ao exílio em Rímini e é por isso que Piero da Medicina diz (87) que nunca gostaria de ter visto essa cidade. Antigo partidário de Pompeu, estimulou depois César,inimigo dele, à famosa transposição do Rubicão.(2007) Tribuno romano sob as ordens de Pompeu, cônsul romano que, aproveitando a ausência de Júlio César (em conquista à Gália) aplicara golpe de estado se declarando Cônsul de Roma. Em 49 a.C., César estava proibido de cruzar a fronteira entre a Gália e a república romana, marcada pelo rio Rubicão. Segundo Lucano (em Pharsalia), Cúrio dirigiu-se a César e o convenceu a atravessar o rio e avançar na direção de Roma. Essa ação iniciou a guerra civil romana (discórdia pela qual Caio é punido) que culminou com a vitória de César três meses depois.(Rocha)

(105 a 109) Mosca dei Lamberti, estimulador de discórdias, responsável pela divisão dos toscanos em guelfos e guibelinos,  e cuja família sofreu daí os seus primeiros danos. (Mauro, 2007) Nobre florentino que, ao instigar briga entre as famílias Buondelmonti e Amadei, levou Florença a se dividir entre guelfos e guibelinos. O problema surgiu quando Buondelmonte dei Buondelmonti, prometido em casamento a uma jovem da família Amadei,  trocou-a por outra da família Donati. Parentes procuravam a forma de reparar o dano quando Mosca disse que “o que está feito, está feito”, anunciando que Buondelmonte já havia sido assassinado. A cidade tomou partidos, e dali em diante, Florença foi palco constante de disputas entre as facções rivais. (Rocha)

(134) Bertran de Born, célebre trovador provençal, induziu o jovem príncipe, depois Henrique III, à revolta contra o pai, Henrique II da Inglaterra.(Mauro, 2007) O contrapasso de Bertran de Born é um dos mais nítidos da Comédia: como o efeito do pecado foi a separação de pai e filho, o contrapasso foi a separação de cabeça e tronco. (Rocha)

(137) Aquitofél, conselheiro de Davi, incitou Absalão contra o pai. (Mauro, 2007) Davi significa “querido”, “amado”, em hebraico. Personagem do Antigo Testamento, filho de Jessé, da tribo de Judá, teria nascido na cidade de Belém e se destacado na luta dos Israelitas contra os Filisteus. Tornou-se rei, sucedendo a Saul e conquistou Jerusalém, que transformou em capital do Reino Unido de Israel.(Wikipédia) Absalão,  terceiro filho de Davi, segundo o Antigo Testamento, era rebelde e tentou usurpar o trono do pai. Em hebraico seu nome quer dizer “meu pai é paz”.Unico filho homem com Maacá, filha de Talmai, rei de Gesur, nascido em 1000 a.C..Absalão era admirado por sua beleza, sem defeito, notável por longa cabeleira. Davi teve com Maacá uma filha chamada Tamar, que se tornou linda mulher. Tamar foi estuprada pelo filho mais velho de Davi, Amon. Absalão manteve-a em sua casa e planejou vingar o ato violento. Esperou dois anos. Um dia convidou os filhos de Davi para a festa da tosquia das ovelhas, em Baal-Hazor, perto de Efraim. Davi havia sido convidado, mas não aceitou o convite. Enquanto os convidados comiam e bebiam, os servos de Absalão, previamente combinados, assassinaram Amon. Os restantes fugiram para Jerusalém e contaram a Davi o sucedido, o que lhe ocasiou grande tristeza. Absalão fugiu para Gesur e ali ficou durante três anos com o avô, o rei Talmai. Davi continuava amando a Absalão e este desejava voltar. Joabe mediou o retorno e Davi o chamou de volta, mas durante dois anos Absalão não pode comparecer à presença do rei. Posteriormente, a reconciliação aconteceu de maneira completa, em1036 a.C. Absalão começou a traçar planos para substituir o pai no trono. Amon, o irmão mais velho ele matara, restava ainda Quileade, mas somente Absalão era de sangue nobre, porque sua mãe era filha de um rei. Aparentemente, Quileade morreu cedo, pois não há mais menção ao seu nome. Davi poderia escolher um dos filhos mais jovens e rejeitar a Absalão. E tal direito foi exercido quando ele escolheu a Salomão e este tornou-se rei, embora não fosse ele o herdeiro presuntivo por questão de idade. Havia uma predição de que o rei seria sucedido por um filho que na época da profecia ainda não havia nascido. Muitos tinham conhecimento disso, talvez até mesmo Absalão.Com astúcia, Absalão convenceu a muitos para a sua causa, dando a entender que seria melhor juiz que seu pai. Os planos de Absalão começaram a se concretizar. Após quatro anos de seu retorno de Gesur a Jerusalém, ele já se encontrava preparado para dar o golpe. Retirou-se para Hebrom e ali se declarou rei. Contava com o apoio de grande parte da população e Davi teve que deixar Jerusalém e ir para Maanaim, do outro lado do Jordão,  para se proteger e planejar a  resistência. Quando Absalão descobriu que Davi não se encontrava mais em Jerusalém, foi para lá e se apossou do poder sem qualquer resistência. Absalão, seguindo conselhos de Aquitofél, (que fora conselheiro de Davi), perseguiu a Davi procurando não lhe dar tempo do golpe sofrido. Husai que havia sido enviado por Davi para ajudá-lo junto a Absalão, procurando ganhar tempo, convenceu Absalão a reunir primeiro um contigente maior de forças que lhe garantisse a vitória. Isso feito, Davi teve tempo arregimentar força poderosa, três divisões comandadas por Joabe, Abisai e Itai. Joabe, que era o comandante-em-chefe usou a tática de atrair o adversário para os bosques, para então cercá-lo. Fazendo assim, a maioria dos homens de Absalão foi destruída com facilidade, enquanto o restante fugiu.Isso se passou na floresta de Efraim.Absalão fugiu em uma mula ligeira, mas seus cabelos ficaram enroscados nos galhos de uma árvore e ele ficou suspenso no ar. Embora Davi tenha dado ordem para que não o matassem, Joabe o transpassou com três dardos. O corpo foi jogado em uma cova, com um monte de pedras por cima, em cerca de 967 a.C. O amor de Davi permaneceu o mesmo e a notícia da morte de Absalão, causou-lhe profunda tristeza.(Wikipédia)

CANTO XXIX – CÍRCULO 8 –  FALSIFICAÇÃO: – VALA DOS FALSÁRIOS – ALQUIMISTAS

Falsificadores (alquimistas), a décima bolsa do Malebolge pune os que falsificaram coisas, palavras, dinheiro e pessoas. O Canto fala dos falsificadores de matéria (coisas), especificamente, os alquimistas. “Na nossa sociedade, eles podem ser representar os que adulteram remédios e comida, os que constroem prédios e casas com materiais de baixa qualidade e acabamento de primeira, etc.” No Malebolge eles estão cobertos de sarnas e sofrem com uma coceira incessante. (Rocha)

(10) Cronologia, a lua cheia está abaixo dos pés de Dante e Virgílio, o que significa que é aproximadamente uma hora da tarde (sábado). (Rocha)

(27) Geri del Bello, primo do pai de Dante, cuja reputação não era das melhores. Ele se envolveu em rixa com a família Sacchetti e foi assassinado.”A vingança pela morte de parentes era considerada obrigatória na época, e, aparentemente, a morte de Geri ainda não fora vingada pela família Alighieri em 1300.”(Rocha, citando Musa)

(29) – Bertran de Born, que fora senhor de Hautefort. (Mauro,2007)

(40) – Claustro, no sentido de lugar fechado, os seus reclusos assemelhados a frades.(2007)

(47 a 48) – Localidades de malária endêmica. (2007)

(58) Egina, ilha grega. Lenda recontada nas Metamorfoses  de Ovídio.(2007) Egina, filha do deus-rio Asopo, e amada por Zeus, que a raptou. Asopo percorreu toda a Grécia à sua procura, encontrando-a graças à denúncia de Sísifo, que revelou a identidade do seqüestrador, recebendo em troca a fonte de Pirene que brotou na acrópole de Corinto. Zeus o castigou e fulminou o rio-Asopo por ter ousado entrar nos seus domínios para recuperar a filha. Esse fato explica a presença do carvão no leito do rio. Zeus levou a amante para a ilha de Enone, onde nasceu Éaco e mudou o nome da ilha para Egina. Mais tarde, Egina foi para a Tessália, casou com Actor, foi mãe de Menécio, pai de Pátroclo.(Brandão, 2000).

(109) Griffolino de Arezzo, famoso alquimista, acusado falsamente de heresia por seu desafeto Alberto, de Siena, que o fez condenar à fogueira por seu protetor o bispo de Siena.físico. (Mauro, 2007) Ele levou Alberto, o afilhado do bispo de Siena, a acreditar que era capaz de ensiná-lo a voar. Alberto, tolo, acreditou e lhe pagou uma razoável quantia pela aula. Griffolino, porém, não cumpriu o acordo e Alberto, descobrindo que fora enganado, denunciou-o ao seu padrinho, o bispo, que o mandou para a fogueira.(Rocha).

(120) Minós não se enganou: colocou-o entre os falsários. (2007)

(125 a 132) Diversos gastadores de Siena. Para suas folganças importaram do Oriente pela primeira vez o cravo e outras especiarias. (2007)

(135) Capocchio, alquimista florentino conhecido de Dante, condenado à fogueira em Siena.(2007)

CANTO XXX –  CÍRCULO 8 –  FALSIFICAÇÃO: FALSIFICADORES,  PERJUROS – ESPÍRITO DE MESTRE ADAMO

Falsificadores – Este Canto fala de mais três tipos de falsários (além dos alquimistas, falsificadores de matéria, encontrados no Canto XXIX). Os falsificadores de pessoas são os impostores que assumem identidades falsas, se passam por outras pessoas, punidos com a insanidade extrema, correm feito loucos pelo Malebolge  mordendo e arrastando os outros condenados. Os falsificadores de palavras são os culpados de perjúrio, falsidade ideológica e falso testemunho. Fervem de febre tão intensa que os deixa imóveis. Os falsificadores de dinheiro se desfazem com uma hidropisia tão grave que os derrete totalmente. Sentem uma sede nunca saciada porém nos sonhos só vêem rios, fontes e muita água, o que os tortura ainda mais. Segundo Dorothy Sayers, a imagem de doentes pode representar a decadência da sociedade por causa da falsidade, com uma doença mortal e já em estado de necrose avançada. “Malebolge começou com a corrupção da igreja e do estado. Nesta última vala, o próprio dinheiro é corrompido, cada afirmação se tornou perjúrio, e cada identidade, uma mentira. Não sobrou meio de troca.” (Rocha,  citando Sayers)

(2) Semele, filha de Cadmo e de Harmonia, na tradição tebana. Ela foi amada por Zeus e concebeu Dioniso. Juno, (Hera) enciumada, transformou-se em ama da princesa e aconselhou-a a pedir ao amante que se lhe apresentasse em todo o seu esplendor. Zeus ponderou que não poderia atender ao pedido porque um mortal não teria estrutura para suportar a epifania de um deus. Devido a insistência e ao juramento feito pelas águas do Estige de jamais contrariá-la, Zeus se lhe apresentou com seus raios e trovões, incendiando o palácio e matando a princesa carbonizada. O feto, o futuro Dioniso, foi salvo por um gesto dramático do pai dos deuses e dos homens. (Brandão, 2000)

(4) Atamante, cunhado de Sêmele, sofreu também a ira de Juno (Hera) que jamais o perdoou pela acolhida dada a Dioniso pelos reis de Orcômeno, Átamas (Atamante) e Ino, irmã de Sêmele. Juno enlouqueceu o casal. Ino jogou o filho caçula, Melicertes, num caldeirão de água fervente, enquanto Àtamas, com um venábulo, matava o filho mais velho, Learco, por tê-lo confundido com um veado. Ino, em seguida, atira-se ao mar com o cadáver do filho caçula e Átamas, sempre perseguido por Juno, foi banido da Beócia e começou um longo itinerário através da Hélade. (2000).

(13) Quando Tróia é derrotada na guerra contra os gregos.

(16) Hécuba , mulher de Príamo, rei de Tróia. (Mauro, 2007) Ela vê a filha Polixena sacrificada para atender desejo de guerreiro argivo morto, Aquiles; Cassandra partir para longe escrava de outro argivo, Agamêmnon, após perdida a guerra; morto o rei Príamo,  e quase todos os  filhos, o grande guerreiro Heitor, em luta sangrenta travada com Aquiles;  a morte de Páris,  pivô da guerra por ter trazido para Tróia,  Helena, a esposa de Menelau, rei de Esparta; mas ela realmente se desespera é quando vê  o corpo de Polidoro na praia, o filho enviado para Quersoneso, na Trácia, com considerável fortuna, para ser protegido pelo rei Polimnestor, sendo por ele assassinado ao perceber que Tróia estava destruída e o seu rei morto. Desesperada e indignada ela manda chamar Polimnestor sob falso pretexto e auxiliada por duas cativas troianas arrancou-lhe os olhos enquanto as cativas matavam os filhos dele. Para puni-la os aqueus lapidaram-na. Conta-se que Ulisses, apesar de ter sido salvo por ela, atirou-lhe a primeira pedra. Depois, sob o monte de pedras atirados, em lugar dos seus ossos encontrou-se uma cadela com olhos de fogo. (Brandão, 2000)

(31) O Aretino é Griffolino, de Arezzo, que estava em colóquio com Dante. (Mauro, 2007)

(32) Gianni Schicchi pertencia à família Cavalcanti, de Florença. Exímio em disfarces e na arte da imitação. Segundo Benvenuto, Buoso Donati , ilustre nobre de Florença, ao sentir que a hora de sua morte se aproximava, teve crise de consciência pelo enriquecimento ilícito através de roubos, e decidiu deixar gordos legados para diversas pessoas que ele  poderia ter prejudicado. O seu filho Simone, sentindo-se prejudicado, contratou os serviços de Gianni para que este se passasse por seu pai, elaborando um novo testamento que desfazia o primeiro e declarando como único herdeiro o filho Simone  Donati. No testamento, Gianni não se esqueceu dele próprio, incluindo a seguinte cláusula: “para Gianni Schicchi de Cavalcanti eu deixo a minha égua”.(Rocha, citando Longfellow) Gianni Schicchi é o “outro” do verso 42 que, para ganhar a mais bela égua da cavalariça de Buoso Donati (43,45), que acabara de falecer intestado, apresentou-se como sendo ele no leito de morte, e ditou testamento em seu favor. (Mauro, 2007)

(38) Mirra, filha do rei Ciniras. Apaixonada pelo próprio pai,  ela tramou com sua ama uma forma de entrar nos seus aposentos à noite e passar por uma jovem aguardada pelo rei. No escuro, o rei não a reconheceu e manteve, sem saber, relações sexuais com a própria filha. Mirra voltou várias outras vezes até que, numa certa noite, o rei, desejando saber quem era aquela que tanto o amava, acendeu uma tocha e viu que era Mirra. Ele sacou a espada para matá-la, mas ela fugiu. Arrependida, pediu perdão aos deuses e foi transformada em uma árvore: um pé de mirra. O seu filho, quando finalmente nasceu, se chamou Adonis. (Ovídio)

(61) Mestre Adamo, por incitação dos condes de Romena, Guido, Aghinolfo e Alessandro, cunhava com liga falseada os florins de Florença que levavam a imagem de São João Batista. Foi descoberto e levado à fogueira. (Mauro, 2007)

(74) Florim, moeda de Florença tinha gravada em um dos lados, o padroeiro da cidade, João Batista, e do outro, um lírio.(Rocha)

(78) Uma nascente em Romena. (Mauro, 2007)

(97 e 98) A mulher de Putifar que inculcou José, e Sínon o grego que induziu aos troianos a receber o cavalo em Tróia.(2007)José, filho de Israel, havia sido vendido como escravo por seus irmãos. Potifar, oficial do Faraó, comprou José que passou a servi-lo. Potifar em pouco tempo passou a confiar em José e o fez mordomo de sua mais alta confiança. A esposa de Potifar, porém, tentou seduzir José a ir para a cama com ela. José recusou. Ela não desistiu. Passou a insistir dia após dia. José sempre recusava. Um dia, ela encontrou-se a sós com ele, agarrou-lhe pela capa e tentou seduzi-lo à força. Ele fugiu, deixando a capa nas mãos dela. Ela então mentiu para seu marido dizendo que José havia tentado violentá-la, mostrando a capa como prova. Potifar, acreditando na palavra da mulher, expulsou José e mandou prendê-lo no cárcere (Gênese 39). Sinon, grego que se deixou levar prisioneiro pelos troianos, e os convenceu a levarem para dentro das paredes da cidade, um grande cavalo de madeira deixado pelos gregos. O cavalo, disse, era presente dos gregos para substituir a estátua de Palas (Palladium) roubada por Ulisses e Diomedes. O cavalo estava repleto de soldados que, à noite, saíram de seu esconderijo e tomaram Tróia. (Wikipédia e Rocha)

(128) O espelho de Narciso é a água da fonte onde ele se espelhava. (Mauro, 2007)

(141) A vergonha que o incapacitava à fala representava um pedido de desculpas. (2007)

CANTO XXXI – TRAIÇÃO CONTRA PARENTES:CAÍNA
GIGANTES – NEMROD – EFIALTE – ANTEU

Gigantes simbolizam traição. Em várias lendas, os gigantes estão envolvidos em revoltas onde traem seus criadores. Na Odisséia é relatada a revolta dos Titãs contra Júpiter (TITANOMAQUIA). No Inferno, a maior parte deles permanece acorrentada dentro do Cócito. (Rocha)

(5) A lança que foi de Peleu e depois de seu filho Aquiles feria no primeiro golpe e sarava no segundo. A lenda foi contada por Ovídio nas Metamorfoses. (Mauro, 2007)

(16) Na derrota da batalha de Roncesvales, (Canção de Rolando) Orlando ao morrer tocou tão forte a sua trompa que foi ouvido por montes e vales até alcançar os ouvidos de Carlos Magno. (2007) A Canção de Rolando tornou-se um culto na Europa medieval por imortalizar a figura do cavaleiro heróico. O poema é uma narrativa militar. A escaramuça entre Rolando (Orlando) e os outros pares de Carlos Magno (que no poema teria mais de duzentos anos) contra os bascos, representantes mulçumanos, ocorre por conta de traição pérfida: o padrasto de Rolando, Ganelão, sente-se traído e prepara uma armadilha: convence Carlos Magno que Rolando deveria cuidar da retaguarda. O perigo é iminente, a traição viva. Rolando, por orgulho, aceita a empreitada e o mesmo orgulho o impede de tocar a corneta olifante quando cercado pelas forças do inimigo, Marcílio, muito superiores em números. Os mulçumanos têm guerreiros valorosos, em número, para enfrentarem os pares de Carlos Magno, que incluem, por exemplo, o cavaleiro Olivério, que surge como personagem em outras histórias. Carlos Magno e seus pares são a base do Rei Artur e sua távola redonda e como tal, são quase invencíveis. Mas no final, vendo que seu orgulho causou a morte de vários soldados, Rolando se arrepende e morre tocando a corneta. É tarde, exceto para sua redenção e glória. Rolando morre em batalha, tentando quebrar a espada durindal, sem sucesso. Carlos Magno retorna e com a ajuda divina, vinga a morte de seus pares e pune o traidor. (Torres, 2008) Olifante é o nome de um instrumento sonoro da Idade Média, uma espécie de corneta feita de marfim de elefantes, donde provém seu nome. Era usado no exército e em caçadas para emitir sinais e chamados sonoros simples, uma vez que não possui orifícios para produção de escalas. Usualmente eram levados em batalhas pelos comandantes, para reunir ou avisar as tropas, sendo um dos emblemas do comando. Podiam ser ricamente decorados com entalhes ou aplicações de adornos em metal.(Wikipédia)

(64) Frisões, habitantes da Frísia, de elevada estatura.(Mauro, 2007)

(67) Palavras imcompreensíveis, apropriadas à fala de Nemrod, construtor da torre de Babel. (2007)

(77) Nemrod (Nimrod, Ninrode), personagem de lendas mesopotâmicas onde é associado ao herói Gilgamesh.Também aparece no Gênese (10: 8, 9) como filho de Ham e neto de Noé, considerado “grande caçador aos olhos de Jeová”. Dante o retrata como responsável pela construção da Torre de Babel, por isso a fala de Nemrod não faz sentido algum. (Rocha)

(94) Efialte, gigante que tentou, desafiando Júpiter, sobrepor duas montanhas para alcançar o Olimpo. (Mauro, 2007) Filho de Netuno. Junto com o gigante Otus, ameaçou os deuses ao tentar empilhar as montanhas Ossa e Pelion, para alcançar o céu. (Odisséia, XI) (Homero, 2002)

(98) Briareu, outro gigante que desafiou Júpiter. (Mauro, 2007) Filho da Terra. Homero o descreve como tendo cem braços e cinqüenta cabeças. (Rocha)

(100) Anteu, gigante que não participou da Titanomaquia contra Júpiter com os outros filhos da Terra, e por isso não está acorrentado. Vivia em Zama, na África, onde Cipião derrotou Aníbal, e se alimentava da carne dos leões que caçava. (Mauro, 2007) Filho de Netuno e da Terra, era invencível enquanto estivesse em contato com a sua mãe Terra. Hércules o venceu levantando-o do chão e o esmagando em pleno ar. (Rocha)

(102) No fundo do Inferno. (Mauro, 2007)

(117) Aníbal Barca, general e estadista cartaginês considerado um dos maiores táticos militares da história, um dos generais mais ativos da Segunda Guerra Púnica, quando levou a cabo as façanhas militares mais audazes da Antiguidade: Aníbal e seu exército, onde se incluiam elefantes de guerra, partiram da Hispânia e atravessaram os Pirineus e os Alpes com o objetivo de conquistar o norte da Itália. Ali derrotou os romanos em grandes batalhas como a do lago Trasimeno ou a de Canas, que ainda se estuda em academias militares na atualidade. Apesar do brilhante movimento, Aníbal não chegou a Roma. Existem divergências entre os historiadores quanto ao fato. Alguns acham que ele não entrou devido às carências materiais para combate. Outros apontam razões políticas,  que  a intenção não era tomar Roma, senão obrigá-la a render-se.Não obstante, Aníbal conseguiu manter exército na Itália durante mais de uma década, recebendo escassos reforços. Por causa da invasão da África por parte de Cipião, o Senado púnico o chamou de volta a Cartago, onde foi finalmente derrotado por Públio Cornélio Cipião Africano na Batalha de Zama. (Wikipédia)

(123) Cócito (Cocythus) – O lago das lamentações fica no centro da terra e é formado pelas lágrimas de Lúcifer e pelos rios do Inferno que nele deságuam seu sangue. No Cócito estão imersos os traidores, que se distribuem por quatro giros diferentes, dependendo da gravidade da traição cometida. Os giros chamam-se Caína, Antenora, Ptoloméia e Judeca. O último está reservado à punição dos traidores dos seus benfeitores e é lá que se encontra Lúcifer. (Rocha)

(124) Tifeu e Tício, titãs, filhos da Terra, que se revoltaram contra Júpiter. (Rocha)

(136) Garisenda, torre inclinada de Bolonha. (Mauro, 2007)

TRAIÇÃO COMPLEXA
* Traição contra parentes
* Traição contra a pátria
* Traição contra benfeitores

CANTO XXXII – CÍRCULO 9 – TRAIÇÃO CONTRA A  PÁTRIA
LAGO CÓCITO – CAÍNA – ANTENORA – ESPÍRITO DE BOCCA

Almas traidoras submersas no Lago Cócito (Antenora) Ilustração de Gustave Doré (século XIX).

 

 

 

(10 e 11) As mulheres são as Musas, que ajudaram o poeta Anfion a levantar as muralhas de Tebas com as pedras transportadas apenas pelo som de sua lira. (Mauro, 2007) Anfion, significado do nome, de um e de outro lado, duplo. Ele era filho de Zeus e Antíope e irmão gêmeo de Zeto, cujo temperamento era oposto ao seu, enquanto ele era sensível e, com a lira que recebera de Hermes, dedicava-se a música, o outro era violento e empregava seu tempo em lutas e trabalhos pesados. Quando reinaram em Tebas, decidiram murar a cidade. Zeto transportava enormes pedras nos ombros e Anfion, ao som da lira, as arrastava e encaixava-as no lugar exato. (Brandão, 2000)  O famoso poeta João Cabral de Melo Neto fez um poema narrativo onde o herói (anti-herói, na verdade) busca despojar a poesia da afetividade, baseado no mito, cujo nome recebido foi Fábula de Anfion e integrou o seu livro Psicologia da Composição.Nesse poema, ele substitui a lira pela flauta rústica, associando os motivos temáticos “pedra”/”palavra”.

(28 e 29) Montanhas dos Alpes. (Mauro, 2007)

(33 e 34) No início do verão, tempo das colheitas que dão oportunidade às aldeãs de fazerem suas alegres respigas.Até as faces do rosto onde, pelo rubor, manifesta-se a vergonha. (2007)

(57) Napoleone e Alessandro, filhos do conde Alberto degli Alberti., e recíprocos matadores. (2007) Morto o pai, brigaram por causa da herança e mataram um ao outro. (Rocha, citando Longfellow)

(58) Caína, primeira das quatro divisões do nono círculo onde são punidos os traidores de parentes. Na Caína, as almas permanecem submersas com apenas o tórax e a cabeça fora do gelo. O nome tem origem em Caim que matou seu irmão Abel por causa de inveja (Gênese 4:8). (Rocha)

(62) Mordrec, personagem da lenda do rei Arthur e de Lancelot do Lago, tentou matar o rei Arthur, seu pai ou tio, que revidou com um só golpe de lança. Ao retirá-la, o sol atravessou a ferida, rompendo a sua sombra. (Mauro, 2007) Mordred (ou Gwidion),  filho de Morgana e do rei Arthur, nascido da Cerimônia do Gamo Rei. Morgana, criada em Avalon como uma sacerdotisa, segundo as ambições de Viviane, sua tia, seria a próxima Senhora de Avalon, porque tinha a linhagem real e era muito aplicada à Deusa e aos seus ensinamentos. Mas, depois da Cerimônia do Gamo-Rei, onde ela foi dada ao seu irmão Arthur em nome da deusa, ela se aborreceu com Viviane e com o que foi obrigada a fazer e abandonou Avalon. Mordred, filho do incesto, foi criado em segredo longe dos olhos de Arthur por Morgause e aprendeu as artes da guerra em território saxão (os saxões eram inimigos do povo de Arthur, os bretões).Quando ele voltou, se apresentou ao rei Arthur como filho de Morgana e foi feito cavaleiro da Távola Redonda por Lancelot. Mordred também foi treinado para ser um Merlim da Bretanha em Avalon, e tornou-se o conselheiro do rei Arthur (que não desconhecia que ele era seu filho). Mordred tornou-se herdeiro do reino depois da morte de Galahad (filho de Lancelot) na busca do Graal., contudo, Mordred jamais assumiu o trono, morreu antes disso numa batalha, depois de comandar a derrocada do reino de Arthur revelando a todos o romance de Gwen e Lancelot. Mordred tinha raiva de seus pais por o terem abandonado e queria muito se vingar do rei por questões pessoais e pela traição à Avalon. Existe uma versão que diz que Arthur e Mordred morreram lutando um contra o outro, e outra que diz também que Lancelot matou Mordred e depois morreu guerreando contra Arthur. Todas essas versões  enriquecem a história.(páginas terra.com.br)

(63) Focaccia, membro da família guelfa Cancellieri de Pistóia. Ele foi  acusado de ter cortado a mão do primo e de ter assassinado o tio. A família Cancellieri dividiu-se em duas partes. Os descendentes de Bianca (primeira esposa de Cancellieri) se apelidaram de Bianchi (brancos). Os descendentes da outra esposa se denominavam Neri (negros). A briga de família acabou se espalhando e chegou a Florença onde os grupos se tornaram partidos políticos.(Helder, citando Sayers) Focaccia matou à traição o primo, para se apoderar de sua herança. (Mauro,2007)

(65) Sassol Mascheroni, membro da família Toschi de Florença. Segundo os primeiros dantólogos, ele assassinou o sobrinho para se apossar da herança (Rocha, citando .Musa)

(67) Camicione de’ Pazzi de Valdarno matou seu parente, Ubertino, aguarda a chegada de outro parente Carlino de’ Pazzi, que traiu por dinheiro seus correligionários e portanto deverá ser, por falta mais grave, punido em Antenora. (Mauro, 2007) Antenora é o segundo giro do nono círculo onde são punidos os traidores de sua pátria ou partido político. As almas ficam submersas no nível do pescoço, com apenas as cabeças fora do gelo. O nome foi tirado de Antenor, o príncipe troiano que traiu o seu país ao manter uma correspondência secreta com os gregos. (Rocha)

(81) Na batalha de Montaperti os guelfos foram traídos por um de seus próprios  combatentes, Bocca degli Abati, que é esse espírito que está protestando, como Dante vai descobrir em seguida (106), e que por vingança nomeia uma série de traidores ali cumprindo pena. (Mauro, 2007)

(106) Bocca degla Abati traiu os guelfos na batalha de Montaperti, cortando a mão do portador da bandeira da cavalaria de Florença, o que causou desorganização do exército guelfo e serviu de sinal para que seus aliados entrassem em ação, entregando a vitória da batalha aos guibelinos. (Rocha)

(121 a 123) Traidores apontados por Bocca: Buoso da Duera, chefe do partido guibelino de cremona e conhecido traidor; Tesauro de Beccheria, ábade de Vallombrosa e legado papal de Alexandre IV na Toscana que mantinha correspondência secreta com guibelinos exilados; Gianni de Soldanier, guibelino ilustre de Florença que, ao perceber que o poder passaria para o lado dos guelfos, abandonou o partido e se juntou aos guelfos; Ganellone,o cavaleiro que traiu Rolando, entregando-o aos sarracenos; e Tebaldello degli Zambrasi, guibelino de Faena que facilitou a tomada de sua cidade pelos guelfos de Bolonha em 1280.(Rocha, citando Musa)

(130) Tideu, um dos sete assediantes de Tebas, mortalmente ferido por Menalippo, ainda conseguiu matá-lo e fez que lhe dessem a sua cabeça para mordê-la antes de morrer. (Mauro, 2007)

CANTO XXXIII – CÍRCULO 9 – TRAIÇÃO CONTRA A  PÁTRIA (ANTENORA) E TRAIÇÃO CONTRA HÓSPEDES (PTOLOMÉIA) ESPÍRITO DO CONDE UGOLINO –

PTOLOMÉIA – ESPÍRITO DO FREI ALBERIGO

(13) Conde Ugolino della Gherardesca, originalmente de família guibelina,  foi junto com o seu neto Nino dei Visconti um dos líderes guelfos que exerceu autoridade sobre a cidade de Pisa. Ugolino insatisfeito por dividir o poder com Nino, traiu o partido e aliou-se ao arcebispo guibelino Ruggieri degli Ubaldini que, apoiado pelos Lanfranchi, Sismondi, Gualandi e outras famílias gibelinas, tramou a expulsão ou prisão de todos os seguidores de Visconti, e Ugolino assumiu o poder. Mas o conde sempre achava que poderia ser traído, assim tratou de eliminar os suspeitos. Teria mandado envenenar o sobrinho, o conde Anselmo da Capraia, temendo que a popularidade dele reduzisse sua autoridade. Percebendo que os guelfos estavam enfraquecidos no governo de Ugolino, o arcebispo Ruggieri aproveitou a ocasião para traí-lo, divulgando pela cidade a notícia de que o conde Ugolino havia traído a população, e entregue os castelos aos povos de Florença e Lucca. A revolta popular culminou com a invasão do castelo de Ugolino que foi forçado a se render. Ruggieri, vitorioso, mandou prender Ugolino numa torre posteriormente chamada de “torre da fome”. Prendeu também, na mesma cela, Uguccione e Gaddo, filhos de Ugolino, Anselmuccio e Brigata, netos do conde. Meses depois os pisanos lacraram a torre e atiraram a chave no rio Arno. Em poucos dias todos morreram de fome. (Baseado em relato de G. Villani) (Rocha, citando Longfellow) A Revista Época traz reportagem de Cristiane Segatto intitulada O Monstro sai do Inferno, que diz terem os testes de DNA revelado que o  Conde Ugolino não devorou filhos e netos como sugere A Divina Comédia. A fama rendida ao Conde, de canibal pérfido que devora filhos e netos confinados com ele na torre em 1289, advinda da curiosidade popular e da obra de Dante Alighieri, setecentos anos depois é apagada após testes de DNA decorrentes de estudos realizados pelo  paleantropólogo Francesco Mallegni, da Universidade de Pisa. Restos mortais de Ugolino, dos filhos Uguccione e Gaddo e dos netos Anselmuccio e Nino foram encontrados na Catedral de San Francesco, antiga capela que pertenceu à família. A identificação do material foi realizada por meio de exames genéticos e da estrutura dos ossos. “Temos 98% de certeza de que os corpos são de Ugolino e seus descendentes”, disse Mallegni à revista Newsweek..O cientista descobriu que Ugolino tinha cerca de 80 anos e saúde precaríssima. Mallegni está certo de que o conde não comeu nenhum tipo de carne em seus últimos dias. Mesmo que quisesse, não teria tido forças suficientes para devorar seus companheiros de cela. É improvável, também, que o ancião tenha sobrevivido por mais tempo que seus filhos e netos, homenzarrões de 1,80 metro e idade entre 20 e 40 anos. A avaliação da arcada dentária do conde trouxe a revelação mais surpreendente: o canibal não passava de um velhinho banguela, com um punhado de dentes muito estragados. Os corpos dos cinco prisioneiros revelaram sinais de extrema desnutrição, o que endossa a tese de que morreram de fome. Além de famélico, Ugolino tinha o crânio parcialmente esmagado. O “Inferno” de Dante permaneceu aberto sobre a mesa de Mallegni durante a investigação. O pesquisador leu e releu o trecho inúmeras vezes e suspeita que o poeta tenha apenas insinuado o canibalismo. “Acho que os versos faziam parte de uma magnífica orquestração com uma mensagem política que se perdeu nos dias de hoje”, conclui. Os remanescentes da família Gherardesca, que doaram amostras de sangue para a pesquisa, comemoram a reabilitação de Ugolino.

(32 e 33) Chefes guibelinos em Piza. (Mauro, 2007)   (80) O italiano é chamado a língua do “si” (sim).(2007).(82)Capraia e Górgona, duas ilhotas próximas à foz do Arno. (2007) (89)Uguccione e o Brigata filho e neto do conde Uguccione. O outro filho já mencionado é Gaddo e o neto, Anselmuccio.(118)Frei Alberigo de Manfredi convidou seus inimigos para o banquete de reconciliação e usou a chamada do serviço das frutas como sinal para os seus sicários irromperem para trucidá-los. Na Ptoloméia ele recebe “tâmara por figo”, isto é, pena mais cruel que o agravo praticado. (Mauro, 2007) Ele era um frade gaudente (frade alegre), mencionado no Canto XXIII). (Rocha)

(124) Ptolomeia,  penúltimo giro do lago Cócito onde são punidos os traidores de seus hóspedes. As almas estão presas no gelo do lago apenas com o rosto para fora de forma que, quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem seus olhos. O nome origina-se do personagem bíblico Ptolomeu (I Macabeus 16, 11) onde o capitão de Jericó convida Simão e seus dois filhos ao seu castelo e lá, traiçoeiramente, os mata a sangue-frio: “pois quando Simão e seus filhos haviam bebido bastante, Ptolomeu e seus homens se levantaram, e sacaram de suas armas, e chegaram até Simão na sala de ceia, e o mataram, e seus dois filhos, e parte dos servos.” (Rocha, citando Longfellow)

(126) Átropos é a Parca que tem o encargo de cortar o fio da vida. (Mauro,2007) Na Mitologia Grega, significa “sem retorno”, representada por uma das três Moiras, deusas que regiam os destinos, sendo sua contraparte romana conhecida como Morta. Considerada a mais velhas das Moiras, era conhecida como a “Inevitável” ou “Inflexível” sendo ela que cortava o fio da vida. Seus atributos eram o quadrante solar, a balança e a tesoura ou ainda uma esfera e um livro onde ela lia os destinos.(Wikipédia)

(137) Branca d’Oria, respeitado e poderoso cidadão de Gênova. Apesar disso, teria sido o mandante ou assassino do seu sogro, o corrupto Michel Zanche, mencionado no Canto XXII. Ele ainda estava vivo e gozava de liberdade quando o poema Inferno foi publicado e Dante teria sido ofendido pelos amigos de d’Oria numa de suas visitas a Gênova, pelo que foi considerada “a mais atroz das invenções do poeta.” (Rocha)

(144) Michel Zanche,  vítima de Branca dÓria (XXII), ainda não chegara na quinta vala do círculo oitavo, a do pez fervente, e já a alma de Branca dÓria havia sido transferida para o castigo na Ptoloméia. (Mauro, 2007)

(150) Foi concordância, “cortesia”, de Dante com a justiça divina. (2007)

(13) Conde Ugolino della Gherardesca, originalmente de família guibelina,  foi junto com o seu neto Nino dei Visconti um dos líderes guelfos que exerceu autoridade sobre a cidade  de Pisa. Ugolino insatisfeito por dividir o poder com Nino, traiu o partido e aliou-se ao arcebispo guibelino Ruggieri degli Ubaldini que, apoiado pelos Lanfranchi, Sismondi, Gualandi e outras famílias gibelinas, tramou a expulsão ou prisão de todos os seguidores de Visconti, e Ugolino assumiu o poder. Mas o conde sempre achava que poderia ser traído, assim tratou de eliminar os suspeitos. Teria mandado envenenar o sobrinho, o conde Anselmo da Capraia, temendo que a popularidade dele reduzisse sua autoridade. Percebendo que os guelfos estavam enfraquecidos no governo de Ugolino, o arcebispo Ruggieri aproveitou a ocasião para traí-lo, divulgando pela cidade a notícia de que o conde Ugolino havia traído a população, e entregue os castelos aos povos de Florença e Lucca. A revolta popular culminou com a invasão do castelo de Ugolino que foi forçado a se render. Ruggieri, vitorioso, mandou prender Ugolino numa torre posteriormente chamada de “torre da fome”. Prendeu também, na mesma cela, Uguccione e Gaddo, filhos de Ugolino, Anselmuccio e Brigata, netos do conde. Meses depois os pisanos lacraram a torre e atiraram a chave no rio Arno. Em poucos dias todos morreram de fome. (Baseado em relato de G. Villani) (Rocha, citando Longfellow) A Revista Época traz reportagem de Cristiane Segatto intitulada O Monstro sai do Inferno, que diz terem os testes de DNA revelado que o  Conde Ugolino não devorou filhos e netos como sugere A Divina Comédia. A fama rendida ao Conde, de canibal pérfido que devora filhos e netos confinados com ele na torre em 1289, advinda da curiosidade popular e da obra de Dante Alighieri, setecentos anos depois é apagada após testes de DNA decorrentes de estudos realizados pelo  paleantropólogo Francesco Mallegni, da Universidade de Pisa. Restos mortais de Ugolino, dos filhos Uguccione e Gaddo e dos netos Anselmuccio e Nino foram encontrados na Catedral de San Francesco, antiga capela que pertenceu à família. A identificação do material foi realizada por meio de exames genéticos e da estrutura dos ossos. “Temos 98% de certeza de que os corpos são de Ugolino e seus descendentes”, disse Mallegni à revista Newsweek..O cientista descobriu que Ugolino tinha cerca de 80 anos e saúde precaríssima. Mallegni está certo de que o conde não comeu nenhum tipo de carne em seus últimos dias. Mesmo que quisesse, não teria tido forças suficientes para devorar seus companheiros de cela. É improvável, também, que o ancião tenha sobrevivido por mais tempo que seus filhos e netos, homenzarrões de 1,80 metro e idade entre 20 e 40 anos. A avaliação da arcada dentária do conde trouxe a revelação mais surpreendente: o canibal não passava de um velhinho banguela, com um punhado de dentes muito estragados. Os corpos dos cinco prisioneiros revelaram sinais de extrema desnutrição, o que endossa a tese de que morreram de fome. Além de famélico, Ugolino tinha o crânio parcialmente esmagado. O “Inferno” de Dante permaneceu aberto sobre a mesa de Mallegni durante a investigação. O pesquisador leu e releu o trecho inúmeras vezes e suspeita que o poeta tenha apenas insinuado o canibalismo. “Acho que os versos faziam parte de uma magnífica orquestração com uma mensagem política que se perdeu nos dias de hoje”, conclui. Os remanescentes da família Gherardesca, que doaram amostras de sangue para a pesquisa, comemoram a reabilitação de Ugolino.(32 e 33) Chefes guibelinos em Piza. (Mauro, 2007)

(80) O italiano é chamado a língua do “si” (sim).(2007).

(82) Capraia e Górgona, duas ilhotas próximas à foz do Arno. (2007)

(89) Uguccione e o Brigata filho e neto do conde Uguccione. O outro filho já mencionado é Gaddo e o neto, Anselmuccio.

(118) Frei Alberigo de Manfredi convidou seus inimigos para o banquete de reconciliação e usou a chamada do serviço das frutas como sinal para os seus sicários irromperem para trucidá-los. Na Ptoloméia ele recebe “tâmara por figo”, isto é, pena mais cruel que o agravo praticado. (Mauro, 2007) Ele era um frade gaudente (frade alegre), mencionado no Canto XXIII). (Rocha)

(124) Ptolomeia,  penúltimo giro do lago Cócito onde são punidos os traidores de seus hóspedes. As almas estão presas no gelo do lago apenas com o rosto para fora de forma que, quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem seus olhos. O nome origina-se do personagem bíblico Ptolomeu (I Macabeus 16, 11) onde o capitão de Jericó convida Simão e seus dois filhos ao seu castelo e lá, traiçoeiramente, os mata a sangue-frio: “pois quando Simão e seus filhos haviam bebido bastante, Ptolomeu e seus homens se levantaram, e sacaram de suas armas, e chegaram até Simão na sala de ceia, e o mataram, e seus dois filhos, e parte dos servos.” (Rocha, citando Longfellow)

(126) Átropos é a Parca que tem o encargo de cortar o fio da vida. (Mauro,2007) Na Mitologia Grega, significa “sem retorno”, representada por uma das três Moiras, deusas que regiam os destinos, sendo sua contraparte romana conhecida como Morta. Considerada a mais velhas das Moiras, era conhecida como a “Inevitável” ou “Inflexível” sendo ela que cortava o fio da vida. Seus atributos eram o quadrante solar, a balança e a tesoura ou ainda uma esfera e um livro onde ela lia os destinos.(Wikipédia)

(137) Branca d’Oria, respeitado e poderoso cidadão de Gênova. Apesar disso, teria sido o mandante ou assassino do seu sogro, o corrupto Michel Zanche, mencionado no Canto XXII. Ele ainda estava vivo e gozava de liberdade quando o poema Inferno foi publicado e Dante teria sido ofendido pelos amigos de d’Oria numa de suas visitas a Gênova, pelo que foi considerada “a mais atroz das invenções do poeta.” (Rocha)

(144) Michel Zanche,  vítima de Branca dÓria (XXII), ainda não chegara na quinta vala do círculo oitavo, a do pez fervente, e já a alma de Branca dÓria havia sido transferida para o castigo na Ptoloméia. (Mauro, 2007)

(150) Foi concordância, “cortesia”, de Dante com a justiça divina. (2007)

(80) O italiano é chamado a língua do “si” (sim).(2007).

(82) Capraia e Górgona, duas ilhotas próximas à foz do Arno. (2007)

(89) Uguccione e o Brigata filho e neto do conde Uguccione. O outro filho já mencionado é Gaddo e o neto, Anselmuccio.

(118) Frei Alberigo de Manfredi convidou seus inimigos para o banquete de reconciliação e usou a chamada do serviço das frutas como sinal para os seus sicários irromperem para trucidá-los. Na Ptoloméia ele recebe “tâmara por figo”, isto é, pena mais cruel que o agravo praticado. (Mauro, 2007) Ele era um frade gaudente (frade alegre), mencionado no Canto XXIII). (Rocha)

(124) Ptolomeia,  penúltimo giro do lago Cócito onde são punidos os traidores de seus hóspedes. As almas estão presas no gelo do lago apenas com o rosto para fora de forma que, quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem seus olhos. O nome origina-se do personagem bíblico Ptolomeu (I Macabeus 16, 11) onde o capitão de Jericó convida Simão e seus dois filhos ao seu castelo e lá, traiçoeiramente, os mata a sangue-frio: “pois quando Simão e seus filhos haviam bebido bastante, Ptolomeu e seus homens se levantaram, e sacaram de suas armas, e chegaram até Simão na sala de ceia, e o mataram, e seus dois filhos, e parte dos servos.” (Rocha, citando Longfellow)

(126) Átropos é a Parca que tem o encargo de cortar o fio da vida. (Mauro,2007) Na Mitologia Grega, significa “sem retorno”, representada por uma das três Moiras, deusas que regiam os destinos, sendo sua contraparte romana conhecida como Morta. Considerada a mais velhas das Moiras, era conhecida como a “Inevitável” ou “Inflexível” sendo ela que cortava o fio da vida. Seus atributos eram o quadrante solar, a balança e a tesoura ou ainda uma esfera e um livro onde ela lia os destinos.(Wikipédia)

(137) Branca d’Oria, respeitado e poderoso cidadão de Gênova. Apesar disso, teria sido o mandante ou assassino do seu sogro, o corrupto Michel Zanche, mencionado no Canto XXII. Ele ainda estava vivo e gozava de liberdade quando o poema Inferno foi publicado e Dante teria sido ofendido pelos amigos de d’Oria numa de suas visitas a Gênova, pelo que foi considerada “a mais atroz das invenções do poeta.” (Rocha)

(144) Michel Zanche,  vítima de Branca dÓria (XXII), ainda não chegara na quinta vala do círculo oitavo, a do pez fervente, e já a alma de Branca dÓria havia sido transferida para o castigo na Ptoloméia. (Mauro, 2007)

(150) Foi concordância, “cortesia”, de Dante com a justiça divina. (2007)

CANTO XXXIV –  CÍRCULO 9 – TRAIÇÃO CONTRA BENFEITORES (JUDECA)

LÚCIFER – BRUTO – CÁSSIO – JUDAS – CENTRO DA TERRA

(1) “As bandeiras do Inferno avançam.”(Mauro, 2007)

(20) Dite é Lúcifer.(2007) Lúcifer é o portador da luz, o anjo que ocupava cargo da mais alta confiança e que, rebelando-se, traiu a Deus e por isto foi expulso do céu, vindo a cair na terra. Na sua queda, ele afundou pela superfície e só veio parar quando chegou ao  centro da Terra, sobre a qual passou a reinar. Os comentadores Ottimo e Benvenuto identificam as três faces de Lúcifer como símbolos opostos à Trindade: o ódio, a ignorância e a impotência. Outros vêem Lúcifer como uma representação da própria terra e suas faces como representações dos três continentes conhecidos: Europa, Ásia e África. (Rocha, citando Longfellow) Segundo uma interpretação, os três pecadores mastigados por Lúcifer (na imaginação do dantólogo Gabrielle Rossetti) são: Judas, Brutus e Cássius.

(52) Cócito, rio que desce ao fundo do Inferno,no nono e último círculo é congelado.(Mauro,2007)

(62) Judas Iscariotes, discípulo de Jesus Cristo, conhecido por tê-lo vendido aos fariseus por 30 moedas de prata. Depois da traição, caiu em desespero e suicidou-se. (Rocha)

(65) Bruto (Marcus Junius Brutus, 85-42 a.C.), político romano de grande poder no império de Júlio César. Entrou para a história ao tramar, na primavera de 44 a.C., a morte de César juntamente com Cássio. Tendo conseguido o intento, formou grande exército na Macedônia para tomar o poder no império romano, mas foi derrotado pelo exército de Marco Antônio e Otaviano que depois se tornou imperador. Bruto suicidou-se. (Rocha, referência Encarta)

(67) Cássio, general romano de Júlio César, um dos líderes da conspiração que levou César à morte. Junto com Bruto, Cássio foi um dos assassinos de César. Derrotado em batalha quando tentava tomar o poder em Roma junto com Bruto, suicidou-se para que não fosse capturado. (Rocha, referência Encarta)

(96) Cronologia – A terça é o nome dado ao tempo das primeiras três horas a partir do nascer do Sol. Portanto no equinócio (no qual o Sol surge às 6h) a meia terça ocorre às 7h30. (Mauro, 2007) Dante não entende como o tempo pode ter mudado tão rapidamente do dia para a noite. Virgílio explica que passaram pelo centro da terra, e agora o sol brilha do outro lado. Dante e Virgílio passaram um dia inteiro atravessando a terra e ressurgem na superfície no domingo de Páscoa, antes do amanhecer. (Rocha)

(112) O hemisfério austral, na concepção de Dante, é todo de água, tendo em seu centro a montanha do Purgatório, à qual corresponde, no hemisfério sólido e habitado, a cidade de Jerusalém onde Cristo foi crucificado. (Mauro, 2007)

(117) Judeca, último dos quatro giros. Está no centro do nono e último círculo do Inferno. (Mauro, 2007). É lá que reside Lúcifer, fazendo companhia àqueles que, em vida, traíram seus benfeitores. Eles sofrem intensamente devido à proximidade de Lúcifer, e por estarem submersos totalmente no gelo do lago Cócito, conscientes, para a eternidade. O nome vem de Judas Iscariotes (62), o traidor de Jesus Cristo (Rocha)

(125) Montanha do Purgatório é uma enorme montanha que, na mitologia de Dante, existe no Oceano Pacífico Sul em posição diametralmente oposta a Jerusalém. Não há continentes em todo o hemisfério que cerca a montanha do purgatório. Os três continentes: Europa, África e Ásia ocupam o hemisfério oposto. Segundo Dante, a montanha do purgatório foi criada por ocasião da queda de Lúcifer, quando a terra seca que antes formava continentes naquele hemisfério, fugiu amedrontada para o hemisfério oposto e a terra que havia no centro do planeta, fugiu para o sul, tentando galgar o céu. A terra acumulou-se em um único ponto e acabou por formar altíssima montanha que alcançou o céu: o monte purgatório. Como resultado, não restou um só continente no hemisfério da queda, somente um enorme oceano, e o caminho entre Lúcifer e o purgatório ficou aberto por passagem estreita. Essa montanha foi vista por Ulisses (Canto XXVI ) (Rocha) O centro da terra é onde mora Lúcifer (Dite). É o centro de gravidade. Quando Dante e Virgílio passam pelo centro da terra, que fica na virilha de Lúcifer, a gravidade passa a puxá-los na direção oposta, de forma que, o que antes era uma descida, passa então a ser uma subida. Na passagem pelo centro, Dante e Virgílio ganham 12 horas, provocadas pela mudança de fuso horário. Volta a ser sábado de manhã outra vez.

BIBLIOGRAFIA

* BRANDÃO, Junito de Souza – Dicionário Mítico-Etimológico da Mitologia Grega – volumes I e II – Petrópolis, RJ: Vozes, 4ª Edição, 2000.
* ÉSQUILO – Os Sete Contra Tebas, L&PM Editores, 2003
* HISTÓRIA UNIVERSAL – Grécia I e II – V.4 e V.5 – Editora Salvat, Portugal, 2005
* HOMERO, Ilíada (V.I e II), ARX, 2004
* ________, Odisséia, Ediouro, 2002
* MAURO, Ítalo –   Dante Alighieri. A Divina Comédia: Inferno, Purgatório e Paraíso. Tradução e notas de Ítalo Eugênio Mauro. Em

português e italiano (original). Editora 34, São Paulo, 14ª Reimpressão, 2007.
* OVÍDIO – Metamorfoses, L&PM Editores
* ROCHA, Helder – ALIGHIERI, Dante – A Divina Comédia – Inferno/Purgatória e Paraíso – www.stelle.com.br/pt/inferno
* SOFÓCLES – Antígona, L&PM Editores, 2003
* VIRGÍLIO – Eneida – Tradução Tassilo Orpheu Spalding, São Paulo, Nova Cultural, 2002.
* WIKIPÉDIA – várias pesquisas foram feitas usando essa ferramenta