Poemas às Quartas-Feiras e mais…


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Testamento do Homem  Sensato
Por Carlos Pena Filho

Quando eu morrer, não faças disparates
nem fiques a pensar: Ele era assim…
Mas senta-te num banco de jardim,
calmamente comendo chocolates.

Aceita o que te deixo, o quase nada
destas palavras que te digo aqui:
Foi mais que longa a vida que eu vivi,
para ser em lembranças prolongada.

Porém, se um dia, só, na tarde em queda,
surgir uma lembrança desgarrada,
ave que nasce e em voo se arremeda,

deixa-a pousar em teu silêncio, leve
como se apenas fosse imaginada,
como uma luz, mais que distante, breve.

A nossa viageira Eleta Ladosky repetiu o poeta Carlos Pena Filho nessa última quarta-feira, dessa feita com o forte e belo soneto Testamento do Homem Sensato. Ele foi retirado do Livro Geral que conta com depoimentos de Jorge Amado, Manuel Bandeira e Gilberto Freyre. Assisti ao lançamento desse livro em setembro de 2000, com a presença da viúva do poeta, de quem recebi um autógrafo carinhoso.

Após a leitura de Carlos Pena Filho, Salete comentou sobre o lançamento do livro de Miró de quem ela leu alguns poemas interessantes e disse que o autor prefere que os chamem de crônicas. Ela ficou de trazer outras informações sobre o poeta/cronista, assim como ler mais alguns dos seus escritos.

 Mas o que estamos fazendo às quartas-feiras, além de ler poesia? No momento, lemos Os Moedeiros Falsos, de André Gide, que não estava na nossa programação para 2015, mas acabou sendo inserido após a leitura de um escrito desse autor sobre Ensaio, o que nos levou a incluir Montaigne em nossa programação, também não incluído inicialmente.

Sempre quando traçamos a nossa carta de navegação fazemos questão de deixar claro que ela não deverá nos imobilizar. Se no meio da viagem outras paisagens nos seduzirem, traçaremos novos rumos e seguiremos para eles ao gosto dos ventos e das velas. Estavam programados Os Mortos, de James Joyce, A Lição do Mestre, de Henry James e Nadja, de André Breton. Os dois primeiros foram lidos e sobre eles Cacilda Portela escreveu nesse blog. Ambas literaturas instigantes que arrancam o leitor do lugar  confortável que estão e o leva para grandes e profundas viagens quer pelo sentimento controverso do ser humano, quer pela riqueza literária do texto. Com James Joyce, inevitavelmente, falamos no famoso Monólogo de MOlly Bloom, que foi publicado separado do Ulisses, e gastamos algumas tardes nos divertindo e encantando com a sua leitura. Um pequeno desvio de rota para homenagear o autor de Os Mortos que acabáramos de ler.

Nadja, de André Breton, um dos pais do surrealismo,  devia ser a leitura seguinteporém, não conseguimos encontrar o livro em nossas prateleiras ou do mercado. Um desvio de rota se fazia necessário. Antes que o desvio de rota se configurasse algumas discussões sobre Dostoievski, se Os Irmãos Kamarazóv (imenso!, dizíamos, mas traz a questão da morte do pai, vale a pena enfrentar!), se Crime e Castigo (excelente!) acabaram perdendo a parada quando sob o pretexto de trabalharmos como fazer um bom ensaio, encontramos texto de André Gide e de outros autores, todos falando do pai desse gênero de escrita: Montaigne.

Com as primeiras leituras de Montaigne descobrimos quão agradáveis e ricos eram os seus ensaios, livrando-nos do peso que a palavra parecia carregar nos ombros, advindos, com certeza, do seu viés acadêmico.Espero que exercitemos o aprendizado fazendo os nossos próprios ensaios. A edição Penguin, com tradução e comentários de Rosa Freire D”Aguiar, viúva de Celso Furtado, está muito boa e vale a pena ser comprada para ficar à cabeceira e aqui e acolá recorrer a ela para desfrutar bons momentos. .Posteriormente alguns comentários surgirão nesse blog de alguns ensaios lidos; Adotamos Montaigne como nosso padrinho e voltaremos a ele em todas as oportunidades que surgirem.

O desvio de rota com Montaigne levado por André Gide trouxe-nos de volta para ele, quem sabe em agradecimento por Montaigne;  quem sabe atraídos pelo fundador da célebre Editora Gallimard e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1947, editora dos escritores que fizeram a cabeça de muita gente da nosso geração, a minha, por exemplo, como Simone de Beauvoir, Albert Camus, Sartre, entre outros. Sempre soubera que André Gide fora apaixonado pelas técnicas literárias e curioso dos processos de criação, o que representava uma garantia de que a escrita dos seus livros traria esse diferencial.

Deixamos a Russia para depois, aportamos outra vez na França. Os  Moedeiros Falsos é uma leitura muito instigante. Estamos ainda nas apresentações dos personagens e  vários conflitos estão sendo delineados, levando-nos  adiante com muito entusiasmo. Já se percebe a técnica batizada por ele de mise en abyme que consiste na narrativa que contém outras narrativas.Uma caixa que contém várias outras caixas. Mas, falaremos sobre  Os Moedeiros Falsos  numa outra postagem.

Ainda sobre a questão levantada no início desse texto, o que estamos fazendo às quartas-feiras além de ler poesia, respondo que ao lado da leitura de uma obra importante como Os Moedeiros Falsos está a elaboração de um romance coletivo. Para discutirmos roteiro e o andamento da escrita combinamos que as 1ªs quartas-feiras do mês seriam adequadas e assim estamos fazendo. Sobre a escrita dedicaremos uma postagem, posteriormente.

                                          Jaboatão dos Guararapes, 18 de agosto de 2015

                                              Lourdes Rodrigues

 

Lançamento livro da Oficina

Lançamento Escrituras II - Traços da Oficina

Lançamento Escrituras II – Traços da Oficina

 Escrituras II – Traços da Oficina reúne textos dos escritores da Oficina de Criação Literária Clarice Lispector, os viageiros dos mares das palavras.

A Oficina foi criada em 2006, a partir de um grupo dedicado às leituras clariceanas, o que levou à nomeação de Clarice Lispector como estrela guia. Faz parte do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise, associação de psicanalistas, cuja finalidade é promover e desenvolver estudos sobre a Teoria Psicanalítica e as Veredas Literárias, desde a perspectiva freud-lacaniana.

A Psicanálise, em sua origem, relaciona-se com a arte em bases profundas e fundamentais. A Literatura, em particular, se tornou o pilar de sustentação das teorias psicanalíticas, desde que Freud foi buscar suporte em Shakespeare e Sófocles para as suas primeiras formulações sobre o inconsciente e o complexo de Édipo.

Sem dúvida, a Literatura é o grande olho-d’água, lugar de jorro ininterrupto dos muitos saberes. As palavras guardam mistérios. É preciso tecê-las, abrindo portas para os seus significantes. Cada palavra é uma viagem, por isso estamos sempre nos lançando ao mar e nos chamando de viageiros. No leme, o binômio: leitura/escrita. Sempre.

                                            Lourdes Rodrigues