Viagem pelo Sentir

Viageiros e viageiras,

após breve e agradável remanso em terra firme é tempo de embarcar e içar as velas. Lancemo-nos ao mar que os ventos são favoráveis, o mar convidativo. Se a disposição dos navegantes estiver inspirada no sentir tudo de todas as maneiras, como bem diz o poeta Fernando Pessoa, teremos mais uma grande viagem para anotar em nosso diário, porque esta é a maior de todas as inspirações:

*A Melhor Maneira de Viajar é Sentir

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d’Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

*Trecho do livro Poemas, de Álvaro de Campos,
Heterónimo de Fernando Pessoa

Se as condições atmosféricas são atraentes, se os navegadores estão movidos pelo desejo de sentir, urge abrirmos a carta de navegação para 2015, cujo desenho não tem a rigidez dos icebergs, mas a flexibilidade das velas sob o humor dos ventos. Assim, se preciso for, outra rota será construída e a nau seguirá em frente em busca de novos sentimentos. Para isso, já temos outra carta em discussão, além daquela que primeiro apontaremos o leme. E parafraseando o poeta português que ora nos inspira: A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.

CARTA DE NAVEGAÇÃO

Leituras:

42691740Os Mortos – James Joyce – A primeira leitura.

Para os que ainda não leram James Joyce é um bom início. Alguns dos nossos viageiros já tiveram oportunidade de ler obras bem mais complexas do autor, tais como Ulisses (tradução de Antônio Houaiss) e Finnegans Wake (pelo menos o primeiro volume, na tradução Donaldo Schuler) aqui mesmo no Traço, em outros grupos de estudos. Eu confesso que participei dos dois grupos e adorei a leitura de Ulisses, tanto que reli várias vezes longos trechos do livro para fazer o ensaio Quem tem medo de James Joyce?ou enjoyceando os diários de Virgínia Woolf. Entretanto, não consegui sequer ler o primeiro volume de Finnegans Wake, embora goste de leituras complexas, herméticas, não me atraiu o suficiente para enfrentar a árdua tarefa que teria à frente.

Os Mortos é um conto do livro Dublinenses que conta a visita de Gabriel Conroy às tias solteironas, professoras de música, que o consideram o sobrinho mais querido. Na volta para o hotel, o personagem tem uma revelação sobre o passado da sua esposa Gretta. A sua reação a tal revelação é o elemento dramático do conto. Trata-se de um texto literariamente consagrado da obra do autor.

Os Mortos, James Joyce, Grua Livros, 1ª Ed, São Paulo, 2014, tradução Eduardo Marks de Marques

42235675A Lição do Mestre – Henry James.

Há muito desejávamos ler alguma obra de Henry James na Oficina. Agora, chegou a hora. Lição de Mestre é uma história bem estruturada, ambígua. São dois personagens fortes o velho escritor George e o seu discípulo, o jovem romancista Paul Overt. Narrada na terceira pessoa, sob o ponto de vista de Paul Overt, trata da incompatibilidade da vida literária relevante com o casamento. Segundo George, a única preocupação do artista literário deve ser com o “absoluto”, visto que nada meramente relativo interessa. Nesse sentido, as esposas podem representar uma “curva perigosa”, pois um escritor que se poupa não constitui nem sustenta uma família. Esta é a lição que ele passa para o seu discípulo que a segue, afastando-se da sua amada. Mas, o leitor ficará surpreso com o desfecho desse aconselhamento. A vida literária londrina também é passada a limpo pelo autor.

A Lição do Mestre, Henry James, Grua Livros, 1ªed. São Paulo, 2014, tradução Paulo Henriques Brito

Nadja_livre_de_pocheNadja, André Breton

Este romance, publicado em 1928, foi um marco no modo de fazer literatura, pela sua proposta radical, de certo modo, antiliterária. André Breton, seu autor, líder do movimento surrealista, movimento de vanguarda que visava, através da exploração do inconsciente, dissolver as barreiras entre arte e vida. Diz-se que é antiliterária porque ele utiliza 47 fotos num pressuposto de que elas darão ao leitor, toda a descrição necessária à compreensão da narrativa. Mas, as fotografias vão além das descrições, pois as imagens para os surrealistas possuem papel preponderante, não foi à toa que muitos pintores famosos já na época aderiram ao movimento, como é o caso de Salvador Dali.
Trata-se de uma história de amor, cheia de mistérios, incertezas. Breton usa o romance para atacar o capitalismo que, segundo ele, impede o sonho como potência subversiva e promove a alienação em massa, criando um sistema de aviltamento a que submete à maioria das pessoas.
Surpreendentemente, no início do romance o personagem se pergunta, Quem sou eu? Em seguida, pergunta a misteriosa Nadja: Quem é você? Eu sou a alma errante.
Nadja não está disponível à venda nas livrarias. Assim, vamos ter de apelar para à biblioteca virtual para consegui-lo.

 LEITURAS COMPLEMENTARES OU ALTERNATIVAS

Crime e Castigo ou Irmãos Karamazov – Dostoievski.

Ainda não definimos o que vamos ler de Dostoievski. Alguns preferem Os Irmãos Karamazov, outros, Crime e Castigo.
Teremos muito tempo para discutir e chegar à melhor opção para o momento da Oficina. Ambas são obras grandiosas,clássicos da Literatura, qualquer escolha vai resultar em ganho e perda, não temos dúvida.Alguns viageiros, já leram as duas obras, eu e Júnior, por exemplo, outros, apenas uma delas, alguns ainda não tiveram essa oportunidade. Mesmo para os que as leram essa leitura coletiva trará uma outra visão literária, sem contar que a memória já não dá conta do que foi lido tantos anos atrás.

irmãos-karamazovOs Irmãos Karamazóv – Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto. São João, Cap. XII, Vers. 24 e 25. Esta é a epígrafe do prefácio do livro que foi escrito pelo próprio autor. Dependendo da publicação, obra extensa com 1600 páginas, que envolve analogias sobre conceitos morais da Russia czarista do século XIX, principalmente sobre materialismo, religião e nacionalismo. A célebre frase: Se Deus não existe, tudo é permitido?, está aqui em Irmãos Karamoóv..Freud fez estudos sobre a obra que estão no seu ensaio Dostoievski e o parricídio.

crime-e-castigoCrime e Castigo é um dos maiores romances da história da Literatura, cuja característica maior é a reprodução da angústia psicológica de um personagem que desde o início já sabemos ser um assassino. A trama envolve suspense e grande tensão, de profundidade psicológica única, passado na turbulenta Rússia czarista do século XIX.

o-filho-de-mil-homens-valter-hugo1O filho de Mil Homens – Valter Hugo Mãe

O filho de mil homens narra a história do pescador Crisóstomo, “um homem que chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter tido um filho”. Com vontade imensa de ser pai, o protagonista conhece o órfão Camilo, que um dia aparece em sua traineira.

download (1)O Jovem Törless – Robert Musil.. Descreve a vida de adolescentes em um internato alemão, onde a severidade do sistema
educacional conjuga-se à brutalidade do comportamento dos alunos.
Ed. Nova Fronteira

fogo20morto

Fogo Morto – José Lins do Rego – Obra-prima de José Lins do Rego, esse romance regionalista mostra o declínio dos
engenhos de cana-de-açúcar nordestinos e traça amplo perfil das figuras decadentes que giravam em torno dessa
atividade econômica.

Escritas  O trabalho de artesão do escritor:

  • Continuidade do romance, contos e resenhas.
  • Divulgação no Blog da produção literária

Técnicas

  • Como elaborar uma resenha com análise literária
  • Estruturação do Romance
  • Foco Narrativo, tempo e espaço narrativos